segunda-feira, 1 de janeiro de 2024
domingo, 24 de dezembro de 2023
sábado, 16 de dezembro de 2023
A História repete-se tão cruelmente, como se nunca tivesse acontecido.
(Les uns et les autres, um filme de Claude Lelouch).
Como escreveu George Orwell, a História é escrita pelos vencedores e talvez por isso, embora não apenas por isso, a História pouco de realmente importante ensina a quem quer que seja, a não ser como matar mais e de forma mais eficiente.
A maioria da humanidade continua escravizada, sem disso se dar conta. A "vidinha" cria a ilusão de segurança, que aparentemente é o que mais é vendido na sociedade actual, através da arma do medo. Temos "vidinha" enquanto tal for conveniente para os predadores, que assim amansam e adormecem e mesmo amputam o assustador potencial do ser humano. Para o bem e para o mal, ou para a criação e destruição.
Ou até sermos chamados como carne para canhão. Agora já não é canhão, é tanque, avião, barco, drone, mas continua a ser a nossa carne que alimenta as guerras.
Alguns entre nós pensam, mas é importante perceber que Trump e Putin e outros conhecidos são apenas marionetas. Os que pensam, são apenas aqueles cuja "vidinha" lhes proporciona algum tempo de ócio. É difícil pensar a trabalhar 6 dias por semana e com família para cuidar e alimentar e dívidas, sempre muitas dívidas, sendo o dinheiro apenas a nova trela e o novo chicote. Tenho sempre fugido da trela e do chicote como o diabo da cruz. Nem todos conseguem. Nem sempre consigo.
A haver alguém que consiga mudar o rumo da História, a História que se repete, o livro escrito pelos vencedores, como aconteceu nas grandes revoluções, será uma ovelha negra. A ovelha negra dos predadores. Como sempre. Se não acreditam, não leiam os livros de História, leiam os Clássicos ou leiam o livro, ou vejam o documentário O Capital do Século XXI.
E as ovelhas negras depois têm filhos que não são ovelhas negras, mas novos predadores. Até porque as ovelhas negras são apenas uma nova geração de predadores que quer tomar o poder nas mãos.
Já não consigo sentir empatia nem mesmo pelos escravos, apesar de saber que a culpa não é deles. Estou cada vez mais Fernoa Capela Gaivota. Prefiro não comer a participar na carnificina. E não vale a pena pregar, enquanto houver "vidinhas".
even now
the world is bleedin'
but feelin' just fine all numb in our castle
where we're always free to choose
never free enough to find
i wish somethin' would break
cuz we're runnin' out of time
and i am overcome
i am overcome
holy water in my lungs
i am overcome
these women in the street
pullin' out their hair
my master's in the yard
givin' light to the unaware
this plastic little place
is just a step amongst the stairs
and i am overcome
i am overcome baby
holy water in my lungs
i am overcome
so drive me out
out to that open field
turn the ignition off
and spin around
your help is here
but i'm parked in this open space
blockin' the gates of love
i am overcome
i am overcome
holy water in my lungs
i am overcome
beautiful drowning
this beautiful drowning
this holy water
this holy water
is in my lungs
and i am overcome
segunda-feira, 11 de dezembro de 2023
Segue o teu destino, / Rega as tuas plantas, / Ama as tuas rosas. / O resto é a sombra / De árvores alheias. [in Odes de Ricardo Reis, Fernando Pessoa, 1-7-1916]
Follow your destiny, / Water your plants, / Love your roses. / The rest is the shadow / Of alien trees. [in Odes de Ricardo Reis, Fernando Pessoa, 1-7-1916]
sexta-feira, 24 de novembro de 2023
Que este amor não me cegue nem me siga.
E de mim mesma nunca se aperceba.
Que me exclua do estar sendo perseguida
E do tormento
De só por ele me saber estar sendo.
Que o olhar não se perca nas tulipas
Pois formas tão perfeitas de beleza
Vêm do fulgor das trevas.
E o meu Senhor habita o rutilante escuro
De um suposto de heras em alto muro.
Que este amor me faça descontente
E farta de fadigas. E de fragilidades tantas
Eu me faça pequena. E diminuta e tenra
Como só soem ser aranhas e formigas.
Que este amor só me veja de partida.
II
E só me veja
No não merecimento das conquistas.
De pé. Nas plataformas, nas escadas
Ou através de umas janelas baças:
Uma mulher no trem: perfil desabitado de carícias
E só me veja no não merecimento e interdita:
Papéis, valises, tomos, sobretudos
Eu-alguém travestida de luto. (E um olhar
de púrpura e desgosto, vendo através de mim
navios e dorsos).
Dorsos de luz de águas mais profundas. Peixes.
Mas sobre mim, intensas, ilhargas juvenis
Machucadas de gozo.
E que jamais perceba o rocio da chama:
Este molhado fulgor sobre o meu rosto.
III
Isso de mim que anseia despedida
(Para perpetuar o que está sendo)
Não tem nome de amor. Nem é celeste
Ou terreno. Isso de mim é marulhoso
E tenro. Dançarino também. Isso de mim
É novo: Como que come o que nada contém.
A impossível oquidão de um ovo.
Como se um tigre
Reversivo,
Veemente de seu avesso
Cantasse mansamente.
Não tem nome de amor. Nem se parece a mim.
Como pode ser isso? Ser tenro, marulhoso
Dançarino e novo, ter nome de ninguém
E preferir ausência e desconforto
Para guardar no eterno o coração do outro.
IV
E por que, também não doloso e penitente?
Dolo pode ser punhal. E astúcia, logro.
E isso sem nome, o despedir-se sempre
Tem muito de sedução, armadilhas, minúcias
Isso sem nome fere e faz feridas.
Penitente e algoz:
Como se só na morte abraçasses a vida.
É pomposo e pungente. Com ares de santidade
Odores de cortesã, pode ser carmelita
ou Catarina, ser menina ou malsã.
Penitente e doloso
Pode ser o sumo de um instante.
Pode ser tu-outro pretendido, teu adeus, tua sorte.
Fêmea-rapaz, ISSO sem nome pode ser um todo
Que só se ajusta ao Nunca. Ao Nunca Mais.
V
O Nunca Mais não é verdade.
Há ilusões e assomos, há repentes
De perpetuar a Duração.
O Nunca Mais é só meia-verdade:
Como se visses a ave entre a folhagem
E ao mesmo tempo não.
(E antevisses
Contentamento e morte na paisagem).
O Nunca Mais é de planície e fendas.
É de abismos e arroios.
É de perpetuidade no que pensas efêmero
E breve e pequenino
No que sentes eterno.
Nem é corvo ou poema o Nunca Mais.
VI
Tem nome veemente. O Nunca mais tem fome.
De formosura, desgosto, ri
E chora. Um tigre passeia o Nunca Mais
Sobre as paredes do gozo. Um tigre te persegue.
E perseguido és novo, devastado e outro.
Pensas comicidade no que é breve: paixão?
Há de se diluir. Molhaduras, lençóis
E de fartar-se,
O nojo. Mas não. Atado à tua própria envoltura
Manchado de quimeras, passeias teu costado.
O Nunca Mais é a fera.
VII
Rios de rumor: meu peito te dizendo adeus.
Aldeia é o que sou. Aldeã de conceitos
Porque me fiz tanto de ressentimentos
Que o melhor é partir. E te mandar escritos.
Rios de rumor no peito: que te viram subir
A colina de alfafas, sem éguas e sem cabras
Mas com a mulher, aquela,
Que sempre diante dela me soube tão pequena.
Sabenças? Esqueci-as. Livros? Perdi-os.
Perdi-me tanto em ti
Que quando estou contigo não sou vista
E quando estás comigo vêem aquela.
VIII
Aquela que não te pertence por mais queira
(Porque ser pertencente
É entregar a alma a uma Cara, a de áspide
Escura e clara, negra e transparente), Ai!
Saber-se pertencente é ter mais nada.
É ter tudo também.
É como ter o rio, aquele que deságua
Nas infinitas águas de um sem-fim de ninguéns.
Aquela que não te pertence não tem corpo.
Porque corpo é um conceito suposto de matéria
E finito. E aquela é luz. E etérea.
Pertencente é não ter rosto. É ser amante
De um Outro que nem nome tem. Não é Deus nem Satã.
Não tem ilharga ou osso. Fende sem ofender.
É vida e ferida ao mesmo tempo, "Esse"
Que bem me sabe inteira pertencida.
IX
Ilharga, osso, algumas vezes é tudo o que se tem.
Pensas de carne a ilha, e majestoso o osso.
E pensas maravilha quando pensas anca
Quando pensas virilha pensas gozo.
Mas tudo mais falece quando pensas tardança
E te despedes.
E quando pensas breve
Teu balbucio trêmulo, teu texto-desengano
Que te espia, e espia o pouco tempo te rondando a ilha.
E quando pensas VIDA QUE ESMORECE. E retomas
Luta, ascese, e as mós vão triturando
Tua esmaltada garganta… Mesmo assim mesmo
Canta! Ainda que se desfaçam ilhargas, trilhas…
Canta o começo e o fim. Como se fosse verdade
A esperança.
X
Como se fosse verdade encantações, poemas
Como se Aquele ouvisse arrebatado
Teus cantares de louca, as cantigas da pena.
Como se a cada noite de ti se despedisse
Com colibris na boca.
E candeias e frutos, como se fosses amante
E estivesses de luto, e Ele, o Pai
Te fizesse porisso adormecer…
(Como se se apiedasse porque humana
És apenas poeira,
E Ele o grande Tecelão da tua morte: a teia).
Como se fosse vão te amar e por isso perfeito.
Amar o perecível, o nada, o pó, é sempre despedir-se.
E não é Ele, o Fazedor, o Artífice, o Cego
O Seguidor disso sem nome? ISSO…
O amor e sua fome.
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