as almas, os pássaros

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terça-feira, 20 de setembro de 2005

Aliás, Portugal é muito mais água que terra. Sem árvores, não há água.
Hoje em dia a Humanidade começa a colocar-se a questão se deveremos ou não viver para sempre. Isto porque a imortalidade começa a parecer possível, tendo em conta os mais recentes avanços da ciência. Os geneticistas procuram freneticamente o gene do envelhecimento, o gene ou grupo de genes responsáveis por interromperem a vida de cada criatura viva. Mas talvez, quando o encontrarem, descubram que esses genes são multi-funções e que não podem manipulá-los, sem consequências. Tenho a certeza absoluta de que assim será. Tenho a certeza absoluta de que o Homem está muito longe desse tipo de imortalidade. O código genético é, de facto, fascinante. Mas o porquê, o porquê desse código genético, como foi escrito, o que é que leva a que determinados genes sejam activados e outros desactivados, ainda o é mais. Podemos ter em nós os genes das asas, por exemplo, e penso que os temos, no entanto, o Homem não tem asas. Podemos ter em nós os genes das barbatanas e das folhas das árvores e dos olhos das águias e das corolas das flores e da produção das teias de aranha e dos dentes do tigre, e no entanto, não temos barbatanas, nem abanamos ao vento, verdes como esmeraldas, nem vemos o que as águias vêm, nem as abelhas pousam em nós em busca do pólen que não produzimos, nem andamos a fazer teias de aranha durante a noite nem roemos ossos como o tigre. Mas temos em nós todos esses genes. Tomemos os genes das asas, por exemplo. Michio Kaku escreve que não é assim tão simples, termos asas como os anjos e continuarmos humanos. Para termos asas, provavelmente perderíamos as pernas e a figura longilínea que hoje temos, e os nossos ossos teriam de ser ocos. Quem toma estas decisões? Quem decidiu que vivíamos melhor fora de água? Quem decidiu que tínhamos que envelhecer e morrer? Quem decidiu que a melhor forma de não haver desperdício era comermo-nos uns aos outros? Quem decidiu ter pernas e não ter asas? Ou são fruto do acaso, do ambiente, das circunstâncias?
E o que aconteceria, se o Homem se tornasse Imortal? O que aconteceria às crianças? Deixaria de haver crianças? Quanto tempo aguentaria uma pessoa viva? O que faria com a sua imortalidade?
Woody Allen diria que não se importa. Ele diz que não quer sobreviver nas suas obras, que apenas quer sobreviver, ponto final. E o que aconteceria, se o Woody Allen vivesse para sempre? Estaríamos condenados a ver o mesmo tipo de filme para toda a eternidade, ou poderia o Woody Allen vir a fazer filmes como o Cinema Paradiso ou como Le Grand Bleu? Evoluiríamos? O que aconteceria aos nossos genes? Experimentariam as asas?
Claro que me dói, com graus diferentes de dor, quando morrem os meus ou quando morre uma poetisa como a Sophia de Mello Breyner.
Mas eu não quero a imortalidade. Não a minha. Prefiro ser uma chama, que arde e depois se apaga, uma estrela que acaba, o risco de um voo, a espuma de uma onda que nunca se repete. Eu não sou eu. Eu não sou um indivíduo. Eu não sou apenas um indivíduo, tal como as partículas não são apenas partícula, mas partícula e onda, ao mesmo tempo. Eu sou nós, sou parte de um tudo, sou a chama que não arde e as asas que não voam e a espuma que não rebenta na praia e os olhos da águia que não são. Sou a estrela que já implodiu e a chuva que já caiu e o vento que já soprou e a abelha que já morreu. Sou a terra e o mar e a árvore, sou a pedra na areia e também sou o pombo envenenado e o lince extinto e o dinossauro e a formiga e um diamante na rocha.
E voltarei a sê-lo um dia.
Prefiro a Eternidade à Imortalidade.

folhas soltas

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