as almas, os pássaros

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sexta-feira, 24 de novembro de 2023

A amizade é regida pelo mesmo mecanismo que o amor, é instantânea e absoluta.

Fonte: Conversas com António Lobo Antunes, de María Luisa Blanco, 2002


 



sábado, 7 de abril de 2012

as ilhas não podem ser senão ilhas, num mundo onde os continentes se suicidam. mas o olhar das ilhas tem raízes na água. e a água liga tudo.


Fotografia: David Doubilet

domingo, 17 de julho de 2011

Cada árvore é um ser para ser em nós
Para ver uma árvore não basta vê-la
a árvore é uma lenta reverência
uma presença reminiscente
uma habitação perdida
e encontrada
À sombra de uma árvore
o tempo já não é o tempo
mas a magia de um instante que começa sem fim
a árvore apazigua-nos com a sua atmosfera de folhas
e de sombras interiores
nós habitamos a árvore com a nossa respiração
com a da árvore
com a árvore nós partilhamos o mundo com os deuses

António Ramos Rosa

Fonte da fotografia, imagem de Igor Zenin


sexta-feira, 8 de abril de 2011



E Rafael disse:
Muitos, a maioria, só querem de nós aquilo que pensam que temos para lhes dar. E então eu dou. Depois, fecho e espero. Muitos, a maioria, perde todo o interesse. É assim que eu sei a quem posso dar tudo o que tenho e a quem não. E darei tudo o que tenho, o que me sobra de espírito e cura, aos que se interessam pelo outro, não por aquilo que ele lhes dá, mas por curiosidade. A curiosidade é o princípio do amor e são esses que mudam o mundo.

Fotografia de Stephen Simpson

domingo, 20 de junho de 2010

Ânfora, vaso, cálice… O que quer que fosse, quebrou-se, em milhares de pequenos pedaços pontiagudos, como ínfimos diamantes distorcidos por forças inconcebíveis, mais o pó entre eles. Olho agora para as mãos vazias, espantada, sem saber como escorregou. Escorregou. Olho-os, como pequenas lágrimas desfeitas, e o pior nem é o pó entre eles, irrecuperável, é a água e a luz que continham. Perdidas. Ajoelho-me no chão e seguro pedaços do delicado invólucro na mão direita, enquanto com o dedo indicador da mão esquerda desenho pequenas serpentes no pó. Uma nuvem brilhante ergue-se do solo e desvanece-se no ar. A perda é tão imensa, tão infinitamente inalcançável pela mente, tão muda, que nada sinto. Ânfora, vaso ou cálice? Até a forma vai desaparecendo na memória e depois os cacos desfazem-se em pó, e mais pó e mais serpentes entre o pó e depois as serpentes tornam-se cada vez mais finas, como fios de seda e desaparecem, pois já nem o pó ali está. Ficam as mãos vazias. Olho-as de novo, tão pequenas, as minhas mãos, os dedos pontiagudos. Tão pequenas. O que posso segurar com elas? Olho em volta. Nada. Ergo-me e olho mais longe. Nada, nada, nada. Não há nada neste mundo que eu possa ou queira segurar. Só esta ideia, que não devia ter deixado cair… o quê?
Olho agora para o mundo inteiro, vejo tudo, o infinitamente grande e o infinitamente pequeno, é enorme o mundo e tudo nele tão grande, para dentro e para fora, sem fim, fractal, fracturado. Não quero nada deste mundo.Só queria o que continha o... cálice? Escorregou. A perda é muda. Regresso então às minhas mãos, com uma agarro a outra e sorrio. Entre elas surge de novo água e luz. Mergulho inteira nas minhas mãos e crio um novo mundo. Fractal, intacto.

 

terça-feira, 18 de maio de 2010

Nem mesmo com a serpente a beber-me a raíz, maldade pura, nunca bati num cavalo. Visto o xaile negro da fadista, o punhal entre os seios, arrastando a saudade debaixo dos pés descalços, mas não bato nos cavalos. Nem quando eles escouceiam ou me atiram ao chão, mais depressa pego na chibatinha e a ferro no pescoço de outros cavaleiros. Nem com a mão, não bato nos cavalos, mas bato nos cavaleiros, com a chibatinha ou com o punhal enfiado entre os olhos, tanto faz, se é de dia ou de noite, a chibatinha para o dia, o punhal para a noite. Prefiro o punhal, a chibatinha é de uma arrogância. 
Cabra é o meu nome do meio, pensei eu hoje quando o homem me disse que os meus cigarros cheiravam bem e o olhei como se fosse lama. Se fosse ontem, ter-lhe-ia oferecido um diabinho preto, mas hoje não, cabra é o meu nome do meio, enquanto ele se enforcava com as cordas de uma guitarra. E agora vens tu, com a família, apareces-me aqui sem avisar e levas com a chibatinha ou com o punhal, talvez te atire uma panela à cabeça, o xaile negro a esvoaçar, sou portuguesa, podes ficar com elas, com a família e com a panela, não me batas à porta agora. Como se eu tivesse portas. 
Hoje reparei nas pedras, umas sobre as outras. As pedras são lentas, tão lentas que parecem mortas, mas quando se movem bebem sangue e trilham ossos. Depois surgem aqueles monumentos, naturais ou feitos pelo homem, o sangue seco entre elas, hoje reparei em todas as vidas que as pedras bebem. Também nunca bati nas pedras. As únicas pedras que para mover não matam são as esculpidas. As pedras gostam de ser amadas, mas só o artista vê nelas alguma coisa e elas deixam-se esculpir, passando fome. Não bato nas pedras, nem com punhal, chibatinha, nem mesmo com maço ou cinzel, mais depressa racho a cabeça dos capatazes, que gostam de lhes dar homens a comer ou cavalos ou bois.
Não devias vir agora, estou a mudar de pele, carrego o xaile da saudade espezinhada, o punhal entre os seios, a chibatinha entre as saias, um maço e um cinzel nos bolsos, a serpente bebe-me a raíz como as pedras outrora o sangue dos escravos, tenho este barco dentro de mim, o punhal é para o barco romper amarras.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fotografia de Johannes Hjorth
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

segunda-feira, 3 de maio de 2010

O Um foi o grande amor da minha vida. A minha alma gémea, para quem acredita em almas gémeas. Foi também o único homem perfeito que conheci. Perfeito para mim, claro. Alto, moreno, de olhos verdes, mãos grandes, boca larga, um sentido de humor surpreendente, com uma infinita paciência para o meu mau feitio e ainda por cima, um cavalheiro. E no entanto... nenhuma destas qualidades o tornava perfeito. O que o tornava perfeito é que eu era perfeita para ele. Ou seja, éramos perfeitos um para o outro. O nosso estar ao lado um do outro era diferente do estar ao lado de outra pessoa qualquer. Nós sabíamo-lo e sabiam-no os outros. Ele era a minha almofada de criança, a minha casa, o meu chão e o meu céu, o mar que me alimentava a alma e o abismo que me obrigava a mergulhar, a muralha contra a qual eu me quebrava e a origem primeira do meu vôo.  E é, ainda hoje, a razão porque ninguém me quebra, porque a água não se quebra. Ele é a nascente dos meus rios de março. E não, o texto em baixo não foi escrito para ele, foi escrito para o Dois, o das mãos pequenas, mas foi escrito na altura em que o larguei e regressei ao Um. Foi um texto de despedida. É um texto de adeus, saudade e regresso à fonte. Um texto nascido para o Dois, mas com raíz no Um. 
Todos os outros que amei depois, não apenas o Dois, eram imperfeitos. Mas não eram imperfeitos no sentido de lhes faltar algo. Eram completamente errados. Até mesmo fisicamente. Talvez exista em mim uma profunda lealdade ao Um, que me impede de me apaixonar por outro homem que se aproxime da perfeição dele e por isso procure os homens errados. Ou talvez, quando nos separamos da alma gémea, seja para aprender e crescer para além da nossa perfeição. Quem sabe se, quando nos apaixonamos por idiotas, não será para descobrir e confrontar uma certa idiotia em nós. Quando nos apaixonamos por um mentiroso, pode ser que precisemos de extirpar de nós uma réstia de mentira. Quando nos apaixonamos por um ser ordinário, talvez tenhamos de trabalhar a nossa amabilidade para com os outros. Afinal, nós éramos perfeitos um para o outro. Mas seremos perfeitos para o resto da Humanidade? Não. Separados, continuamos no entanto ligados, a crescer e a aprender separados e juntos. E agora que, uma vez mais, os meus rios de março começaram a correr, regresso à nascente neste blog, à claridade, à luz. Reaprendo o que é o Amor, mais livre, mais limpa, mais verdadeira, mais amável, mais feliz. Afinal, aqueles que, como o Um e eu, procuram o amor no Outro, procuram o divino em si. Um. Dois, Três, Quatro, Cinco... foram apenas experiências, degraus, obstáculos a ultrapassar, para que um dia possa regressar ao Um, perfeita para ele, perfeita para a Humanidade. Daqui a muitas vidas.
 

 

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010


Fonte da Fotografia: .Com Prosa




domingo, 5 de julho de 2009


O tempo não existe, mas nenhum destino se cumpre sem ele. Porque será? O tempo existe, porque o criámos. Para quê? O tempo torna tudo curvo e redondo e esférico, dobra, dobra-nos, obriga-nos a circundar, a circunferenciar, a rodar, a acelerar e a desacelerar. O tempo consome-nos a energia, mata-nos as células, afasta-nos daqueles que amamos, murcha-nos as mãos e devora-nos a alma. Envenena-nos, ilude-nos, escraviza-nos, derrota-nos. O tempo, existe ou não? O que é o tempo, afinal?

O tempo... são mãos, criadoras, educadoras, castigadoras... mãos, que moldam barros, cortam joio, cavam leitos de rio, amassam pão, pisam uvas, fundem metais, desenham artes, dominam o fogo, rasgam sem compaixão os trilhos da nossa vida... mãos. O tempo são as nossas mãos. Delas surgiu o tempo, como da batuta de um maestro, e só se silenciará quando a música der lugar ao deslumbramento.



folhas soltas

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