as bofetadas brancas do vento crú atiçam a madrugada
sexta-feira, 15 de junho de 2012
por
Sofia
on
sexta-feira, junho 15, 2012
publicado em
pensamentos
,
Sofia Raposo de Almeida
|
sem comentários
sexta-feira, 8 de junho de 2012
por
Sofia
on
sexta-feira, junho 08, 2012
Quase todas as qualidades do estado nascente as encontramos concentradas na adolescência, fase da vida em que é mais frequente esse estado, e compreende-se porquê: a adolescência é o período de passagem da infância e da família infantil ao estado adulto em toda a sua complexidade (…) Separar-se da família, do mundo dos valores, das emoções e das crenças infantis, e unir-se a outras pessoas para amar, mas também aos partidos, aos grupos, à política, à ciência. A adolescência é, por isso, a idade do contínuo morrer e renascer para outro (…) A instituição tem horror do estado nascente, é a única coisa que receia, porque é a única que lhe abala, só pelo facto de aparecer, os alicerces. Do ponto de vista da instituição, o estado nascente é, por definição, o inesperado; porque a sua lógica é diferente da vida quotidiana (…) ataca a instituição em nome dos seus próprios valores, acusando de hipocrisia (…) perante o estado nascente, a instituição é abalada nas suas certezas, pois reproduzindo o evento do qual ela nasceu, revelando no estado puro as forças que o alimentam, o estado nascente cria uma situação de risco mortal. Os mecanismos sociais procuram extingui-lo, torná-lo impossível (…) o noivado, a separação, o divórcio, a mancebia, a vingança, o casamento, são tudo saídas institucionais daquele tipo particular de estado nascente que é o enamoramento (…) é este o rosto que a instituição apresenta ao estado nascente: rosto terrível, desumano, e que não pode surpreender por si, pois, de facto, ela surge também do estado nascente. Veremos em seguida como o amor, o pacto, o casamento, surgem do enamoramento. A um certo ponto, o estado nascente acaba e o seu lugar é tomado pela instituição, a qual declara realizar completamente a experiência do estado nascente. A missa é a reprodução do sacrifício da cruz, diz o catecismo, mas, na realidade, quem assiste à missa pode reviver ou não esta experiência. Um místico revive-a, um distraído não, porque pensa em outra coisa; alguém que não acredite observa a missa como um espectáculo mais ou menos estranho, mais ou menos aborrecido. A missa, que no estado nascente religioso do qual nasceu era o reviver do sacrifício da cruz (e que volta a sê-lo quando aquele estado nascente se reactiva), como instituição pretende reactivá-lo sem a participação dos homens. Todas as celebrações, todas as festas, todos os pactos, todas as instituições, nasceram – e renascem – através dos movimentos constituídos por homens concretos, mas, enquanto instituições, não têm necessidade dos homens.
Francesco Alberoni, in Enamoramento e Amor
publicado em
autores preferidos
,
Do Mundo
,
Francesco Alberoni
|
sem comentários
quinta-feira, 7 de junho de 2012
por
Sofia
on
quinta-feira, junho 07, 2012
Quando o homem brinca com o violoncelo, este quebra-se.
Um corpo pousado no colo do homem, violoncelo, espigão ligado à terra, voluta-céu, o homem precisa de um arco-alma para o tocar, para lhe ouvir a voz, a alma do violoncelo é de abeto, perfeita, perfeitamente posicionada, aguarda o movimento do corpo macio, vibração transmitida ao fundo da luz, as cordas enroladas em prata anseiam as crinas de cavalo do arco de pau-brasil adormecido, não pode tocar-lhe com os dedos, o homem, com os dedos pode apenas tocar-lhe no pescoço, a mão acaricia a voluta e cai, o corpo precisa do arco, o arco precisa da alma do homem para existir, o homem não consegue despertar o arco, que lhe pende da mão, inerte. Só, tão só, o homem agarra o violoncelo e chora, nú.
[publicado no #2 da Contra-Corrente com o pseudónimo Laura Miguéis Raposo]
Pintura de Wayne Roberts, Austrália
publicado em
pintura
,
prosas
,
Sofia Raposo de Almeida
,
Wayne Roberts
|
sem comentários
Subscrever:
Mensagens
(
Atom
)
folhas soltas
a tua alma apontada
(1)
A viagem da alma
(28)
Agnieszka Kurowska
(1)
Agostinho da Silva
(2)
Agustina Bessa-Luís
(1)
Aida Cordeiro
(1)
Al Berto
(1)
Alexandre Herculano
(1)
Alisteir Crowley
(1)
Almada Negreiros
(2)
Amanda Palmer
(1)
amigos
(1)
Ana Cristina Cesar
(1)
Ana Hatherly
(1)
Anne Stokes
(1)
Antero de Quental
(1)
António Lobo Antunes
(2)
António Ramos Rosa
(2)
Apocalyptica
(1)
apócrifos
(2)
Arte Virtual
(1)
as almas os pássaros
(1)
As Arqui-inimigas
(1)
Ashes and Snow
(1)
Auguste Rodin
(1)
autores preferidos
(88)
avós
(1)
Bocelli
(1)
Bon Jovi
(1)
Buda
(1)
Carl Sagan
(1)
Carolina
(3)
Caroline Hernandez
(1)
Catarina Nunes de Almeida
(1)
ce qu’il faut dépenser pour tuer un homme à la guerre
(1)
Cheyenne Glasgow
(1)
Chiyo-ni
(1)
Chogyam Trungpa Rinpoche
(1)
cinema
(6)
Cinema Paradiso
(1)
Clarice Lispector
(1)
Coldplay
(1)
Colin Horn
(1)
Constantin Brancusi
(1)
contos
(28)
Contos para crianças
(6)
Conversas com os meus cães
(2)
Curia
(1)
Daniel Faria
(2)
David Bohm
(1)
David Doubilet
(1)
Dítě
(1)
Do Mundo
(32)
Dylan Thomas
(1)
Eça de Queiroz
(1)
Eckhart Tolle
(1)
Edgar Allan Poe
(1)
Edmond Jabès
(1)
Elio Gaspari
(1)
Emily Dickinson
(4)
Ennio Morricone
(1)
Eric Serra
(1)
escultura
(2)
Federico Mecozzi
(1)
Fernando Pessoa
(3)
Fiama Hasse Pais Brandão
(3)
Fiona Joy Hawkins
(1)
Física
(1)
fotografia
(9)
Francesco Alberoni
(1)
Francisca
(2)
Fynn
(1)
Galileu
(1)
Gastão Cruz
(2)
Georg Szabo
(1)
George Bernanos
(1)
Giuseppe Tornatore
(1)
Gnose
(2)
Gonçalo M. Tavares
(1)
Gregory Colbert
(1)
Haiku
(1)
Hans Christian Andersen
(1)
Hans Zimmer
(1)
Henri de Régnier
(1)
Henry Miller
(1)
Herberto Helder
(5)
Hermes Trismegisto
(1)
Hilda Hilst
(3)
Hillsong
(1)
Hipácia de Alexandria
(1)
Igor Zenin
(1)
inteligência artificial
(1)
James Lovelock
(1)
Jean-François Rauzier
(1)
Jess Lee
(1)
João Villaret
(1)
Johannes Hjorth
(1)
Jonathan Stockton
(1)
Jorge de Sena
(1)
Jorge Luis Borges
(2)
Jorseth Raposo de Almeida
(1)
José Luís Peixoto
(2)
José Mauro de Vasconcelos
(1)
José Régio
(1)
José Saramago
(1)
Khalil Gibran
(1)
Krishnamurti
(1)
Kyrielle
(1)
Laura
(1)
Linkin Park
(1)
Lisa Gerrard
(3)
Live
(1)
Livros
(1)
Loukanikos
(1)
Luc Besson
(1)
Ludovico Einaudi
(1)
Luis Fonsi
(1)
Luís Vaz de Camões
(1)
Luiza Neto Jorge
(1)
Lupen Grainne
(1)
M. C. Escher
(1)
M83
(1)
Machado de Assis
(1)
Madalena
(1)
Madan Kataria
(1)
Manuel Dias de Almeida
(1)
Manuel Gusmão
(1)
Marco Di Fabio
(1)
Margaret Mitchell
(1)
Maria Gabriela Llansol
(1)
Memórias
(25)
Michelangelo
(1)
Miguel de Cervantes y Saavedra
(1)
Miguel Esteves Cardoso
(1)
Miguel Sousa Tavares
(1)
Miguel Torga
(1)
Milan Kundera
(1)
música
(25)
Neil Gaiman
(1)
Nick Cave
(1)
Noite de todos os santos
(1)
O sal das lágrimas
(2)
Olavo de Carvalho
(1)
Orações
(1)
Orides Fontela
(1)
Orpheu
(1)
Oscar Wilde
(3)
Palavras preferidas
(1)
Palavras que odeio
(1)
Paolo Giordano
(1)
páscoa todos os dias
(3)
Patrick Cassidy
(1)
Paul Valéry
(1)
Paulo Melo Lopes
(2)
pensamentos
(76)
pintura
(5)
Platão
(1)
poemas
(15)
Poemas Gregos
(2)
Poesia
(2)
prosas
(25)
Prosas soltas
(1)
Radin Badrnia
(1)
Richard Linklater
(1)
rios de março
(1)
Roland Barthes
(1)
Russell Stuart
(1)
Serafina
(2)
Shalom Ormsby
(1)
Sigur Rós
(1)
Simone Weil
(1)
sobrinhas
(5)
Sócrates Escolástico
(1)
Sofia Raposo de Almeida
(176)
Sophia de Mello Breyner
(14)
Stephen Fry
(1)
Stephen Simpson
(1)
Steve Jobs
(1)
Susan J. Roche
(1)
Sytiva Sheehan
(1)
Teresa Vale
(1)
The Cinematic Orchestra
(2)
The Verve
(1)
Thomas Bergersen
(1)
Todd Gipstein
(1)
Tomás Maia
(1)
traduções de poemas
(5)
Uma Mulher na Foz de um Rio
(4)
valter hugo mãe
(1)
Vincent Fantauzzo
(1)
Wayne Roberts
(1)
wikihackers
(1)
William Blake
(2)
Yeshua
(2)
Yiruma
(1)
cinco mais
-
Todas as árvores nascem de uma semente. Menos a primeira árvore, cuja semente se transformou em semente por força de um sonho. É isso que ...
-
São duas e vinte e dois da manhã. Trouxe o portátil para o piso térreo da casa. Aqui não se ouvem cantar os estranhos pássaros nocturnos, q...
-
And death shall have no dominion. Dead men naked they shall be one With the man in the wind and the west moon; When their bones are pic...
-
Não se perdeu nenhuma coisa em mim. Continuam as noites e os poentes Que escorreram na casa e no jardim, Continuam as vozes diferentes Q...