as almas, os pássaros

as almas, os pássaros

as almas, os pássaros

as almas, os pássaros

sábado, 31 de dezembro de 2011

Estou com vontade de fazer algo que nunca fiz: resoluções para o novo ano. O problema é ser tão desobediente que desobedeço a mim própria. It's my life. It's my life.


Se a memória me não falha, creio que esta será a primeira passagem de ano - no ocidente - que passo só. Não que esta data tenha algum significado especial para mim, mas tem para tantas pessoas. Para mim não, como não tem para as plantas ou para os animais. São mais importantes os solstícios e os equinócios, as rotações e as translações. E eu compreendo, esta necessidade de controlar o tempo, de o domar, embora tal não seja possível. Há sempre acertos a fazer, por melhores que sejam os físicos e os matemáticos, porque o tempo sofre oscilações e estica e encolhe, como as nossas mentes. 
As pedras, as plantas e os animais estão certos. O tempo é um rio e corre como quer, por onde quer, por vezes lento, por vezes rápido, doce e suave, ou violento e esmagador. 
E nós como folhas na água, pensamentos frágeis, poderosos no seu conjunto, ignorantes desse poder, procurando conhecer o que está na água do rio do tempo. 
Por isso, tchin-tchin. Toda a verdade está aqui, pois qualquer rio corre para o mar, tchin.

A todos os que me acompanharam desde sempre, desde o meu primeiro blog (o sal das lágrimas), a todos os que nunca me acompanharam, a todos os que só agora me acompanham, desejo... 

... que possam estar comigo um dia, diante do mar. Tchin.
 

 

domingo, 25 de dezembro de 2011

And death shall have no dominion. 
Dead men naked they shall be one
With the man in the wind and the west moon;
When their bones are picked clean and the clean bones gone,
They shall have stars at elbow and foot;
Though they go mad they shall be sane,
Though they sink through the sea they shall rise again;
Though lovers be lost love shall not;
And death shall have no dominion.

And death shall have no dominion.
Under the windings of the sea
They lying long shall not die windily;
Twisting on racks when sinews give way,
Strapped to a wheel, yet they shall not break;
Faith in their hands shall snap in two,
And the unicorn evils run them through;
Split all ends up they shan’t crack;
And death shall have no dominion.

And death shall have no dominion.
No more may gulls cry at their ears
Or waves break loud on the seashores;
Where blew a flower may a flower no more
Lift its head to the blows of the rain;
Though they be mad and dead as nails,
Heads of the characters hammer through daisies;
Break in the sun till the sun breaks down,
And death shall have no dominion.

~

E a morte não terá domínio algum.
Na sua nudez, os homens mortos serão um
Com o homem no vento e a lua do ocidente;
Quando os seus ossos forem colhidos e limpos no pó,
Haverá estrelas em ombro e pé.
Mesmo que se tornem loucos, serão sãos,
Mesmo que afundem no mar, erguer-se-ão;
Mesmo que os amantes se percam, o amor não;
E a morte não terá domínio algum.

E a morte não terá domínio algum.
Sob as vagas espiraladas do mar,
Os que há muito jazem, não morrerão tempestuosamente;
Torcidos pela roda, quando a coluna ceder,
Acorrentados, não quebrarão;
A fé nas suas mãos estalará,
Percorridos pelas dores do unicórnio;
Ao rasgarem-se num desabrochar de fins, não sucumbem;
E a morte não terá domínio algum.

E a morte não terá domínio algum.
Os gritos das gaivotas silenciar-se-ão nos seus ouvidos
Assim como o estrondo das vagas espiraladas na praia;
Onde soprou flor que jamais flor alguma
Erga a sua corola aos golpes da chuva;
Ainda que loucas e mortas como pregos,
Cabeças de símbolos martelam através de margaridas;
Irrompem no sol até que o sol se rompa,
E a morte não terá domínio algum.

Dylan Thomas, traduzido por mim.



terça-feira, 6 de dezembro de 2011


sábado, 26 de novembro de 2011



Esplanada da Cafetaria Quadrante, CCB, seis e meia da tarde. Havia muitos estudantes, alguns solitários, alguns turistas e um senhor com o cão mais desobediente que já vi, que não dava pelo nome de Pipas, provavelmente porque o nome não lhe agradava. A minha sobrinha mais nova e eu tínhamos acabado a visita ao Jardim Botânico Tropical, onde tínhamos estado com os mais belos cisnes e as mais belas árvores e os patos mais curiosos que já tínhamos visto. Apeteceu-nos um refresco e um bolo. A ver o rio. Estávamos ali sentadas as duas, a rir com o Pipas, que não se queria chamar Pipas de certeza, a Guigas a tentar apanhá-lo, o pseudo-dono a tentar apanhá-lo, o Pipas não parava de correr entre as mesas, a cheirar pernas, meias, sapatos, embalagens de gelados, guardanapos que tinham voado com o vento, aquela esplanada era o paraíso dos cheiros para o Pipas. Foi então que apareceu a senhora. Era uma senhora já velha, muito gentil, muito elegante, muito educada e reparei logo nela porque vinha carregada de livros. Dirigiu-se à nossa mesa e estendeu-nos um livro. Era um livro com muitas cores, branco, encarnado, verde, amarelo e um melro preto, de smoking. Tinha na capa um xilofone, um quadro preto, um marmelo, um violino, uma maçã e três sapos. E o melro, claro. O melro parecia estar a dar lições de matemática aos sapos. Com o livro estendido para nós, a senhora apresentou-se, dizendo simplesmente: sou a autora. A Guigas olhou para mim e acenou com a cabeça negativamente, como quem diz ignora. A senhora, sensível e atenta às crianças, pois era a autora de um livro para crianças, olhou para ela e explicou: sabes que estarias também a ajudar outras crianças, outras que não têm saúde, ao comprar este livro? A Guigas continuava a olhar para mim fixamente, até que lhe disse: Guigas, a senhora está a falar contigo. Aí ela procurou prestar atenção. A senhora abriu o livro e se a Guigas ainda estava duvidosa, eu já não estava. O livro tinha letras de várias côres, poemas, desenhos, músicas com notas... aquele melro devia ser extraordinariamente criativo e inteligente. Além disso, Aida Cordeiro trazia os livros debaixo dos braços. Quanto é? Eu fico com um. Cinco euros. O livro custava cinco euros. E era um livro tão lindo, com tantas cores, tanta magia. A troca fez-se rapida e silenciosamente. Sorrimos uma para a outra. Que lindo livro! Obrigada, Aida Cordeiro. O livro tem lições de história, matemática e música e está quase todo escrito em poema. Se algum dia, algum de vós tiver a sorte de se cruzar com Aida Cordeiro, nascida em Trás-Os-Montes, onze anos vividos em Moçambique e professora do ensino básico desde 1972 em Lisboa, não percam a oportunidade de comprar O Melro.



segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Now Lady Gregory was Yeats' patron, this Irish person, and though I'd never seen her image, I was just sure that this was the face of Lady Gregory. So I'm walking along, and Lady Gregory turns to me and says, "Let me explain to you the nature of the universe. Philip K. Dick is right about time, but he's wrong that it's 50 A.D. Actually, there's only one instant, and it's right now, and it's eternity. And it's an instant in which God is posing a question, and that question is basically, 'Do you want to be one with eternity? Do you want to be in heaven?' And we're all saying, 'No thank you. Not just yet.' And so time actually is just this constant saying No to God's invitation. That's what time is, and it's no more 50 A.D. than it's 2001. There's just this one instant, and that's what we're always in." Then she tells me that actually, this is the narrative of everyone's life. That behind the phenomenal differences, there is but one story, and that's the story of moving from No to Yes. All of life is like, "No thank you, no thank you, no thank you," then ultimately it's, "Yes, I give in, yes, I accept, yes, I embrace." That's the journey. Everyone gets to Yes in the end, right? — Richard Linklater, excerpt from the movie "Waking Life"

 

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

entre a Terra e a Lua
uma pedra canta 
aos surdos




segunda-feira, 31 de outubro de 2011

sábado, 29 de outubro de 2011






Somos sete biliões de humanos e vivemos em sete biliões de mundos diferentes. Estamos longe do fim e do princípio. Pensamos nós. Pensamos demais. Sentimos pouco. Talvez por medo.

domingo, 16 de outubro de 2011

Ordo ab chaos

Both read the Bible day and night, but 
thou read black where I read white.
William Blake












o caos é nosso filho

porque a ordem das coisas
vive na ponta de frágeis paus
mentiras insalubres e loisas
dancemos ordo ab chaos

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Não creias, Lídia que nenhum estio
Por nós perdido possa regressar
Oferecendo a flor
Que adiámos colher.


Cada dia te é dado uma só vez
E no redondo círculo da noite
Não existe piedade
Para aquele que hesita.


Mais tarde será tarde e já é tarde.
O tempo apaga tudo menos esse
Longo indelével rasto
Que o não-vivido deixa.


Não creias na demora em que te medes.
Jamais se detém Kronos cujo passo
Vai sempre mais à frente
Do que o teu próprio passo. 

Sophia de Mello Breyner Andresen

sexta-feira, 23 de setembro de 2011




Há dias em que me sinto a sombra da falsa luz e a luz da falsa sombra.
A dualidade em mim é extrema e una.
Tudo se quebra à minha passagem.
Tudo se volta a reunir.
O que fica quebrado nunca existiu.


terça-feira, 20 de setembro de 2011

Um barco, um barco para esta luz!

Teresa Vale



Voltando um pouco atrás
à costura das fotografias
àquela escuridão pulmonar onde te vi
pela primeira vez onde eras
mais que certo quase cavalo
quase branco
a galope nos meus dentes.
Fotografias do tempo em que chamavas
árvore de rapina ao instrumento
que te educava os dedos.
Um dedilhar de amigo
à beira do vinhal.
Um encantar de amigo.


Se te deixasse ficar à sombra
haveria ainda as linhas da tua mão
tão irregulares tão imponderáveis
como a chuva nas boas noites.
Haveria ainda o perfume das grainhas
na primeira curva da manhã.
Era no tempo das fotografias.
Agora, dizes tu, há o orvalho dos murtais
um cesto silencioso e humano.


Nunca saberás que isso a que chamas
silêncio orvalho
eu chamo música
e toco-a.

Catarina Nunes de Almeida, in Bailias, Deriva, 2011
Desaprendeu a espera - come o pão sem saborear o sol - corta até o sol do pão com uma faca afiada - o breve sol na côdea funde-se com os dentes - corre o risco de acordar.

Desaprendeu os laços - tecla sem saborear a vida - esmaga até a vida nas teclas - a leve vida nos dedos estala no peito - corre o risco de sentir.

Desaprendeu a liberdade - vai de um ponto ao outro sem ver o céu - apaga até o céu das árvores - o céu matinal nas árvores cria pássaros - corre o risco de levantar vôo.

Desaprendeu a verdade - endivida-se por mentiras perdendo o essencial - arranca até o essencial da alma
- o essencial particular da alma grita muito - corre o risco de sofrer.

Desaprendeu o amor - só existem personagem nos monitores - cegou até para o toque - do amor do toque real nascem lágrimas - corre o risco de mudar.

e agora tudo se vai: o pão sem côdea, as teclas e os monitores, as cidades e as ruas mortas, os carros velozes, os antibióticos e os anti-depressivos, o crédito e as mentiras, et cetera, et cetera, et cetera, et cetera, et cetera, et cetera...

no final sobra silêncio

algumas pedras


Se o de esquerda é demasiado burro para governar, o de direita é demasiado estúpido. Entre um burro revolucionário e um estúpido reaccionário, prefiro o burro revolucionário, até porque o estúpido costuma ter a mania que é inteligente. O primeiro tem pelo menos no horizonte a noção de livre-pensamento, liberdade, compaixão. O segundo tem no horizonte a escravidão, a começar pela própria. Do burro pode-se esperar o caos criativo, do estúpido apenas a prisão. O que eu gostava mesmo, mesmo, era de um equilíbrio, de um consenso, de diálogo. Mas tal não é possível no actual panorama político. Entre o burro revolucionário e o estúpido reaccionário existe apenas uma massa amorfa e corrupta. Assim sendo, vou votar num novo parádeigma, a partir do qual espero uma nova realidade venha ao ser.

Como casa limpa
Como chão varrido
Como porta aberta


Como puro início
Como tempo novo
Sem mancha nem vício


Como a voz do mar
Interior de um povo


Como página em branco
Onde o poema emerge


Como arquitectura
Do homem que ergue
Sua habitação

Sophia de Mello Breyner Andresen, in "O Nome das Coisas"

 




Devagar. É preciso esquecer devagar. Se uma pessoa tenta esquecer-se de repente, a outra pode ficar-lhe para sempre. 

Miguel Esteves Cardoso

A leitora abre o espaço num sopro subtil.
Lê na violência e no espanto da brancura.
Principia apaixonada, de surpresa em surpresa.
Ilumina e inunda e dissemina de arco em arco.
Ela fala com as pedras do livro, com as sílabas da sombra.
Ela adere à matéria porosa, à madeira do vento.
Desce pelos bosques como uma menina descalça.
Aproxima-se das praias onde o corpo se eleva


em chama de água. Na imaculada superfície
ou na espessura latejante, despe-se das formas,
branca no ar. É um torvelinho harmonioso,
um pássaro suspenso. A terra ergue-se inteira


na sede obscura de palavras verticais.
A água move-se até ao seu princípio puro.
O poema é um arbusto que não cessa de tremer.


António Ramos Rosa


A minha rosa quer adormecer e eu não deixo. Se ela adormece, morro. Olho os quatro pontos cardeais da Terra e vejo a Humanidade acéfala dirigida pela gulosa Ignorância, a gananciosa Cegueira e a insaciável Fome.  Pedem-me para traçar os planos do poder e vejo os últimos redutos incendiados, em todas as direcções em que olhe. Não tenho mais onde refugiar-me, que mãe é esta que não vê a dor da sua filha? Há livros que acabam bem. Há filmes que acabam bem. A Vida e a Poesia não acabam bem. 
 


Fonte da imagem: Temperance and greed
                                            
                                                a oposição à luz redunda em chaga aberta
                                                miragem, não posso ficar,
                                                porque dói, não posso,
                                                quando ela parte
                                                vou atrás

Let it go. Let it go.

Não nos que nos são do sangue e da alma. É raro partilhar aqueles que me são conjuntos. Mas quando uma imagem tem o valor da Palavra. Aqui está. Só gostava que pudessem ser - também - os Avós. Os que nos estão e são, raíz viva.


Fotografia de Maria Nobre, prima da Maria Francisca

"...the people who are crazy enough to think they can change the world are the ones who do."

Steve Jobs

Morra o bispo e morra o papa.
maila sua clerezia.
Ai rosas de leite e sangue.
que só a terra bebia!
Morram frades, morram freiras.
maila sua virgaria.
Ai rosas de sangue e leite.
que só a terra bebia!
Morra o rei e morra o conde.
maila toda fidalgula.
Ai rosas de leite e sangue.
que só a terra bebia!
Morram meirinho e carrasco.
maila má judicaria.
Ai rosas de sangue e leite.
que só a terra bebia!
Morra quem compra e quem vende,
maila toda a usuraria.
Ai rosas de leite e sangue.
que só a terra bebia!
Morram pais e morram filhos.
maila toda filharia.
Ai rosas de sangue e leite.
que só a terra bebia!
Morram marido e mulher.
maila casamentaria.
Ai rosas de leite e sangue,
que só a terra bebia!
Morra amigo, morra amante.
mailo amor que se perdia.
Ai rosas de sangue e leite,
que só a terra bebia!
Morra tudo, minha gente.
vivam povo e rebeldia.
Ai rosas de leite e sangue.
que só a terra bebia!

Jorge de Sena

 We were never able to afford the rich. The rich are here to teach us we can not afford them and we must therefore dream further.

Mas em português, é assim: a Vida não existe para sustentar os predadores. Os predadores estão aqui para nos ensinar que não podemos sustentá-los e que temos, portanto, de sonhar para além deles. Não somos rosas de leite e sangue. Apenas. Maila, maila, baila.

 

Se tenho que bater, não sorrio. Beijo e choro. Não sorrio. Quem sorri quando bate tira disso um secreto e íntimo prazer. O odioso e lamacento prazer do ego. Por vezes temos que bater. Se dizer a verdade é bater. Se espelhar o feio é bater. Beijamos e choramos. Não sorrimos. Quem sorri quando bate é falso. Quem sorri quando bate mente, pois aprecia o poder de bater em vez de sofrer a dor de bater.


Poucas têm um rosto tão perfeito e uma alma tão perfeita como a tua. Atrás de ti haverá sempre aqueles que te invejam e tentarão deitar-te abaixo. Jamais compreenderão a tua necessidade de voar até aos céus, pousando nos ramos de árvore que melhor impulso te dão. Por esses, deverás sentir apenas compaixão. Um dia, sentir-se-ão gratos por terem sido os ramos de árvore onde pousou uma ave de luz, antes de partir em direcção à felicidade. Assina: fada-madrinha.
Já alguém sentiu a loucura
vestir de repente o nosso corpo?
Já.
E tomar a forma dos objectos?
Sim.
E acender relâmpagos no pensamento?
Também.
E às vezes parecer ser o fim?
Exactamente.
Como o cavalo do soneto de Ângelo de Lima?
Tal e qual.
E depois mostrar-nos o que há-de vir
muito melhor do que está?
E dar-nos a cheirar uma cor
que nos faz seguir viagem
sem paragem
nem resignação?
E sentirmo-nos empurrados pelos rins
na aula de descer abismos
e fazer dos abismos descidas de recreio
e covas de encher novidade?
E de uns fazer gigantes
e de outros alienados?
E fazer frente ao impossível
atrevidamente
e ganhar-Ihe, e ganhar-Ihe
a ponto do impossível ficar possível?
E quando tudo parece perfeito
poder-se ir ainda mais além?
E isto de desencantar vidas
aos que julgam que a vida é só uma?
E isto de haver sempre ainda mais uma maneira pra tudo?

Tu Só, loucura, és capaz de transformar
o mundo tantas vezes quantas sejam as necessárias para olhos individuais
Só tu és capaz de fazer que tenham razão
tantas razões que hão-de viver juntas.
Tudo, excepto tu, é rotina peganhenta.
Só tu tens asas para dar
a quem tas vier buscar

José de Almada Negreiros
Poemas
Assírio & Alvim


domingo, 4 de setembro de 2011

devagar, o tempo transforma tudo em tempo. 
o ódio transforma-se em tempo, o amor 
transforma-se em tempo, a dor transforma-se 
em tempo. 


os assuntos que julgámos mais profundos, 
mais impossíveis, mais permanentes e imutáveis, 
transformam-se devagar em tempo. 


por si só, o tempo não é nada. 
a idade de nada é nada. 
a eternidade não existe. 
no entanto, a eternidade existe. 


os instantes dos teus olhos parados sobre mim eram eternos. 
os instantes do teu sorriso eram eternos. 
os instantes do teu corpo de luz eram eternos. 
foste eterna até ao fim. 

José Luís Peixoto, in Uma casa na escuridão

Feliz aniversário, José Luís Peixoto.

segunda-feira, 22 de agosto de 2011


Ânfora, vaso, cálice… O que quer que fosse, quebrou-se, em milhares de pequenos pedaços pontiagudos, como ínfimos diamantes distorcidos por forças inconcebíveis, mais o pó entre eles. Olho agora para as mãos vazias, espantada, sem saber como escorregou. Escorregou. Olho-os, como pequenas lágrimas desfeitas, e o pior nem é o pó entre eles, irrecuperável, é a água e a luz que continham. Perdidas. Ajoelho-me no chão e seguro pedaços do delicado invólucro na mão direita, enquanto com o dedo indicador da mão esquerda desenho pequenas serpentes no pó. Uma nuvem brilhante ergue-se do solo e desvanece-se no ar. A perda é tão imensa, tão infinitamente inalcançável pela mente, tão muda, que nada sinto. Ânfora, vaso ou cálice? Até a forma vai desaparecendo na memória e depois os cacos desfazem-se em pó, e mais pó e mais serpentes entre o pó e depois as serpentes tornam-se cada vez mais finas, como fios de seda e desaparecem, pois já nem o pó ali está. Ficam as mãos vazias. Olho-as de novo, tão pequenas, as minhas mãos, os dedos pontiagudos. Tão pequenas. O que posso segurar com elas? Olho em volta. Nada. Ergo-me e olho mais longe. Nada, nada, nada. Não há nada neste mundo que eu possa ou queira segurar. Só esta ideia, que não devia ter deixado cair… o quê? Olho agora para o mundo inteiro, vejo tudo, o infinitamente grande e o infinitamente pequeno, é enorme o mundo e tudo nele tão grande, para dentro e para fora, sem fim, fractal, fracturado. Não quero nada deste mundo.Só queria o que continha o... cálice? Escorregou. A perda é muda. Regresso então às minhas mãos, com uma agarro a outra e sorrio. Entre elas surge de novo água e luz. Mergulho inteira nas minhas mãos e crio um novo mundo. Fractal, intacto.

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Os amigos são anjos tranquilos.  
Para o meu melhor amigo


no regresso encontrei aqueles
que haviam estendido o sedento corpo
sobre infindáveis areias

tinham os gestos lentos das feras amansadas
e o mar iluminava-lhes as máscaras
esculpidas pelo dedo errante da noite

prendiam sóis nos cabelos entrançados
lentamente
moldavam o rosto lívido como um osso
mas estavam vivos quando lhes toquei
depois
a solidão transformou-os de novo em dor
e nenhum quis pernoitar na respiração
do lume

ofereci-lhes mel e ensinei-os a escutar
a flor que murcha no estremecer da luz
levei-os comigo
até onde o perfume insensato de um poema
os transmudou em remota e resignada ausência

Al Berto, in 'Sete Poemas do Regresso de Lázaro'
A minha conversa com a minha cadela mais velha hoje:

Fico sempre espantada quando vejo alguém em todo o seu esplendor, imagina assim, no cimo de uma montanha, a iluminar o mundo inteiro e essa pessoa me responde: não posso mudar.
Ela percebeu perfeitamente, porque no seu olhar li a resposta: esse que vês no cimo da montanha é um cristo e nenhum ser humano vivo neste momento consegue lá chegar. 

domingo, 17 de julho de 2011

Cada árvore é um ser para ser em nós
Para ver uma árvore não basta vê-la
a árvore é uma lenta reverência
uma presença reminiscente
uma habitação perdida
e encontrada
À sombra de uma árvore
o tempo já não é o tempo
mas a magia de um instante que começa sem fim
a árvore apazigua-nos com a sua atmosfera de folhas
e de sombras interiores
nós habitamos a árvore com a nossa respiração
com a da árvore
com a árvore nós partilhamos o mundo com os deuses

António Ramos Rosa

Fonte da fotografia, imagem de Igor Zenin


sábado, 2 de julho de 2011

Loukanikael


quinta-feira, 30 de junho de 2011




Tempo de solidão e de incerteza

Tempo de medo e tempo de traição

Tempo de injustiça e de vileza

Tempo de negação



Tempo de covardia e tempo de ira

Tempo de mascarada e de mentira

Tempo de escravidão



Tempo dos coniventes sem cadastro

Tempo de silêncio e de mordaça

Tempo onde o sangue não tem rasto

Tempo da ameaça

Nunca mais
A tua face será pura limpa e viva
Nem o teu andar como onda fugitiva
Se poderá nos passos do tempo tecer.
E nunca mais darei ao tempo a minha vida.

Nunca mais servirei senhor que possa morrer.
A luz da tarde mostra-me os destroços
Do teu ser. Em breve a podridão
Beberá os teus olhos e os teus ossos
Tomando a tua mão na sua mão.


Nunca mais amarei quem não possa viver
Sempre,
Porque eu amei como se fossem eternos
A glória, a luz e o brilho do teu ser,
Amei-te em verdade e transparência
E nem sequer me resta a tua ausência,
És um rosto de nojo e negação
E eu fecho os olhos para não te ver.


Nunca mais servirei senhor que possa morrer.

Sophia de Mello Breyner Andresen, in Obra Poética, 1919-2004


quarta-feira, 29 de junho de 2011

Margens inertes
abrem os seus braços
Um grande barco no silêncio parte.
Altas gaivotas nos ângulos a pique,
Recém-nascidas à luz, perfeita a morte.
Um grande
barco parte abandonando
As colunas de um cais ausente e branco.
E o seu rosto busca-se emergindo
Do corpo sem cabeça da cidade.
Um grande
barco desligado parte
Esculpindo de frente o vento norte.
Perfeito azul do mar, perfeita a morte
Formas claras e nítidas de espanto.


Sophia de Mello Breyner Andresen



Quando a pátria que temos não a temos

Perdida por silêncio e por renúncia

Até a voz do mar se torna exílio

E a luz que nos rodeia é como grades

 

Sophia de Mello Breyner 


Os pinheiros gemem quando passa o vento
O sol bate no chão e as pedras ardem.

Longe caminham os deuses fantásticos do mar
Brancos de sal e brilhantes como peixes.

Pássaros selvagens de repente,
Atirados contra a luz como pedradas,
Sobem e morrem no céu verticalmente
E o seu corpo é tomado nos espaços.

As ondas marram quebrando contra a luz
A sua fronte ornada de colunas.

E uma antiquíssima nostalgia de ser mastro
Baloiça nos pinheiros.


Sophia de Mello Breyner Andresen

terça-feira, 28 de junho de 2011

Que arco terá então lançado a seta
Que eu sou? Que cume pode ser a meta?

Jorge Luis Borges, in A Rosa Profunda


 

a tua alma apontada
na direção de um céu alvo
maior como seta

eu a vibrar por ser arco
retesado nos teus braços
e lançá-la certeira
no coração dos pardos

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Pela Grécia e por todos nós. Digo eu.
 
Ressurgiremos ainda sob os muros de Cnossos

E em Delphos centro do mundo
Ressurgiremos ainda na dura luz de Creta


Ressurgiremos ali onde as palavras
São o nome das coisas
E onde são claros e vivos os contornos
Na aguda luz de Creta


Ressurgiremos ali onde pedra estrela e tempo
São o reino do homem
Ressurgiremos para olhar para a terra de frente
Na luz limpa de Creta


Pois convém tornar claro o coração do homem
E erguer a negra exactidão da cruz
Na luz branca de Creta.

Sophia de Mello Breyner Andresen in Livro Sexto


domingo, 19 de junho de 2011



sábado, 11 de junho de 2011



observando a natureza sem a mente, cheguei a outra conclusão. o que está mesmo muito muito em cima está em todos os graus-degraus e em nenhum. com esse, qualquer ser vivo aprende sempre ou é empurrado para baixo, para reaprender.




observando a natureza, cheguei a uma conclusão: nenhum ser vivo consegue apreender algo a não ser com aquele que está um grau-degrau à sua frente ou atrás de si. observando mais profundamente a natureza, cheguei a outra conclusão: existir no círculo de um ser vivo algo mil graus-degraus à sua frente faz a diferença entre querer aprender com o que está à sua frente ou atrás. ou não querer aprender de todo. depende do grau-degrau.

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Cá nesta Babilónia, donde mana
Matéria a quanto mal o mundo cria;
Cá, onde o puro Amor não tem valia,
Que a Mãe, que manda mais, tudo profana;


Cá, onde o mal se afina, o bem se dana,
E pode mais que a honra a tirania;
Cá, onde a errada e cega Monarquia
Cuida que um nome vão a Deus engana;


Cá, neste labirinto, onde a Nobreza,
O Valor e o Saber pedindo vão
Às portas da Cobiça e da Vileza;


Cá, neste escuro caos de confusão,
Cumprindo o curso estou da natureza.
Vê se me esquecerei de ti, Sião!

Luís Vaz de Camões, in Sonetos

terça-feira, 7 de junho de 2011

Adormeci, janelas e portas abertas, como sempre acontece quando estou sózinha, tudo aberto, não sei o que é esse medo do fechado, com ou sem ti, sempre presente, quase obsessão. Os sons do jardim lá fora, os sons alegres dos animais, o restolhar das árvores e flores, a micro-floresta a crescer-me na alma num sábado à tarde, o canto dos espanta-espíritos que atraem os espíritos primordiais, embalo, embalo, embalo. Os cães, um enorme, outro pequeno, sonhavam, as patas a correrem por um horizonte sem fim, pequenos guinchos de alegria, inocentes, em casa há amor puro, sobram traços de raiva que apagas. E depois as chuvas, como na Costa Rica, água por todo o lado e o cheiro das coisas vivas e molhadas a entrar pelas janelas, pelas portas, mesmo pelas paredes que se desmoronaram, os teus braços, o teu cheiro e o da chuva, bocas e animais e um respirar vegetal. A música da água sobre a vida, os corpos. Toda a água reunida aqui, de onde viemos, tu e eu, a rastejar, como serpentes, frios e subitamente o calor, os teus braços a desenharem-me o sorriso nascente nas mãos, os meus braços a desaguarem no teu fogo, o cheiro da chuva e o teu fogo, desenhei-te um beijo no pescoço com a ponta do dedo e desaguámos juntos na água, em chamas.

Láralálálálárálálárálálárá... porque muitas vezes canto. Com voz rouca ou cristalina. Depende. 




I walk down my street at night
The city lights are cold and violent
I am comforted by the
Approaching sound of trucks and sirens


Even though the world's so bad
These men rush out to help the dying
And though I am no use to them
I do my part by simply smiling


The ghetto boys are catcalling me
As I pull my keys from my pocket
I wonder if this method
Of courtship has ever been effective


Has any girl in history said
Sure, you seem so nice, let's get it on
Still I always shock them
When I answer, "Hi, my name's Amanda"


And I'm not gonna live my life
On one side of an ampersand
Even if I went with you
I'm not the girl you think I am


And I'm not gonna match you
'Cause I'll lose my voice completely
No, I'm not gonna watch you
'Cause I'm not the one that's crazy


I have wasted years of my life
Agonizing about the fires I started
When I thought that to be strong
You must be flame retardant


And now to dress the wounds calls into question
How authentic they are
There is always someone criticizing me
She just likes playing hospital
Lying in my bed I remember what you said
There's no such thing as accidents


But you've got the headstone all ready
All carved up and pretty
Your sick satisfaction
Those his and hers matching


The daisies all push up'n
Pairs to the horizon
Your eyes full of ketchup
It's nice that you're trying


The headstone's all ready
All carved up and pretty
Your sick satisfaction
Those his and hers matching


The daisies all push up'n
Pairs to the horizon
Your eyes full of ketchup
It's nice that you're trying


But I'm not gonna live my life
On one side of an ampersand
And even if I went with you
I'm not the girl you think I am


And I'm not gonna match you
'Cause I'll lose my voice completely
No, I'm not gonna watch you
'Cause I'm not the one that's crazy, yeah


As I wake up to a cough
The fire burned the block but ironically
Stopped at my apartment
And my house mates are all sleeping soundly


And nobody deserves to die
For you were awful adamant
That if I didn't love you
Then you had just one alternative


And I may be romantic
I may risk my life for it
But I ain't gonna die for you
You know I ain't no Juliet


I'm not gonna watch you
While you burn yourself out, baby
No, I'm not gonna stop you
'Cause I'm not the one that's crazy, yeah
I'm not the one that's crazy, oh yeah
I'm not the one that's crazy

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Hoje fui assistir a uma representação do Cântico Negro,de José Régio, da turma da minha sobrinha Madalena. Ver aqueles jovens, cheios de energia e força, elas, as jovens mulheres portuguesas, pequenas e perfeitas e eles, os jovens homens portugueses, altos e de olhos escuros apaixonados, foi o culminar de uma nova esperança na Humanidade que me surgiu nos últimos dias. Os Lusos existem e estão vivos, em todo o lado, no Equador, na Argentina, na Islândia, no Egipto, na Líbia, na Grécia. Falta o vídeo. Um dia publicá-lo-ei.

 


 

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Esta noite morrerás.
Quando a lua vier tocar-me o rosto
terás partido do meu leito
e aquele que procurar a marca dos teus passos
encontra urtigas crescendo
por sobre o teu nome.
Esta noite morrerás.
Quando a lua vier tocar-me o rosto
terás partido do meu leito
e uma gota de sangue ressequido
é a marca dos teus passos.
No coração do tempo pulsa um maquinismo ínscio
e na casa do tempo a hora é adorno.
Quando a lua vier tocar-me o rosto a tua sombra extinta marca
o fim de um eclipse horário de uma partida iminente e o tempo
apaga a marca dos teus passos sobre o meu nome.
Constante.
O mar é isso.
A lua vir tocar-me o rosto e encontrar urtigas crescendo
por sobre o teu nome.
O mar é tu morreste.
O mar é ser noite e vir a lua tocar-me o rosto quando tu par-
tiste e no meu leito crescem folhas sangue.
A febre é uma pira incompreensível como a aparição da lua
e a opacidade do mar.
No meu leito a lua vai tocar-me o rosto e a tua ausência é um
prisma, um girassol em panóplia.
Agora a lua chega devagar e o mar é o leito de tu teres
partido, uma infrutescência de eu procurar a marca dos teus
passos por sobre o meu rosto.
A noite é eu procurar a marca dos teus passos.
Esta noite a lua terá um halo de concêntricas florações
de gotas do teu sangue e a irisada sombra do meu leito
é o teu rosto iminente.
A lua é uma seta.
Tu partiste é o silêncio em forma de lança.
Esta noite vou erguer-me do meu leito e quando a lua vier
tocar-me o rosto vou uivar como um lobo.
Vou clamar pelo teu sangue extinto.
Vou desejar a tua carne viva, os teus membros esparsos,
a tua língua solta.
O teu ventre, lua.
Vou gritar e enterrar as unhas nos teus olhos até que
o mar se abra e a lua possa vir tocar-me o rosto.
Esta noite vou arrancar um cabelo e com a tua ausência faço
um pêndulo para interrogar a lua por tu teres partido e a marca
dos teus passos ser a razão mágica de a lua poder surgir de
noite e urtigas crescerem no meu leito.
E se encontrar a marca dos teus passos vou crivar-lhe
o coração de alfinetes para que tu partiste seja a razão
mágica de tu poderes morrer-te.
Quando a lua vier em forma de lança vai trespassar um pássaro
para lhe ler nas entranhas a direcção tu partiste e a marca dos
teus passos consiste nos olhos abertos de um pássaro esventrado.
Ah, mas o luar é uma pluma do meu leito e a lua é o colo de
tu morreste para poderes enfim tocar-me o rosto.


Ana Hatherly, in Poesia, 1958-1978

sexta-feira, 8 de abril de 2011



E Rafael disse:
Muitos, a maioria, só querem de nós aquilo que pensam que temos para lhes dar. E então eu dou. Depois, fecho e espero. Muitos, a maioria, perde todo o interesse. É assim que eu sei a quem posso dar tudo o que tenho e a quem não. E darei tudo o que tenho, o que me sobra de espírito e cura, aos que se interessam pelo outro, não por aquilo que ele lhes dá, mas por curiosidade. A curiosidade é o princípio do amor e são esses que mudam o mundo.

Fotografia de Stephen Simpson

quinta-feira, 31 de março de 2011

L' amour est éternel... oui, tant qu'il dure... 
Henri de Régnier, poeta e romancista francês, 1864-1936


sentei-me só. tão só. durante anos.

um: ano do mais profundo amor, dois: ano da mais profunda dor; três: ano da mais profunda raiva; todos começaram em março, com os meus rios;

senti-me só, tão só. tão escuro.

quatro: um ano da mais profunda libertação. todos os sentimentos são eternos... enquanto duram, disse-o o Poeta. 

o Poeta não estava a brincar. o Poeta não brinca. quando os sentimentos jorram em nós oriundos da alma primordial, são eternos. podemos separar-nos deles, porque apenas existimos para os experimentar, mas eles não nascem nem morrem em nós. vêm do fundo da luz-escuridão, quebram as barreiras do tempo e do espaço, passamos por eles, iluminam-nos ou quebram-nos e seguimos, deixando-os onde estão, onde sempre estiveram, onde sempre estarão.

numa terra chamada Nonada.

domingo, 20 de março de 2011





os rios de março vão continuar, subterrâneos, pois subterrânea é a sua verdadeira natureza


Foto de Colin Horn na Unsplash

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Agostinho da Silva disse: "É preciso baralhar e dar de novo." 

Dar de novo e dar novo. Ir buscar um novo. Baralho. De flores. Podem ser flores com chamas.

 

 


 

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Hoje, passada a madrugada, continuei o dia com a minha parte mais sombria; soltaram-se-me as minhas recordações, presentes, passadas e futuras, e não encontrava caminho linear entre elas.
Não só importa escrever sucessivamente, mas saber quem me sucederá numa constelação de sentidos.
O que é a descendência?
A seiva sobe e desce numa árvore, estende-se pelos ramos, e é regulada pelas estações; eu e a árvore dispomo-nos uma para a outra, num lugar por nomear. Este lugar não tem significação de dicionário, não transmigrou para nenhum livro.
Agora o sol, o solo, a solo, encadeiam-me nas palavras Esta madrugada aproximei-me da certeza de que o texto era um ser.

Maria Gabriela Llansol, in um falcão no punho, diário I, Lisboa: Edições Rolim, 1985. p.48

domingo, 13 de fevereiro de 2011






Chama-se amor a muita coisa. Mas nada há digno desse nome que envolva o ego.


Fotografia de Georg Szabo

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011


Enquanto houver uma gota de petróleo na Terra, não haverá paz. E o que acontecerá depois, depende de termos ou não compreendido as Palavras dos que vieram antes de nós, como Buda, Jesus ou Ghandi. Se nos matarmos uns aos outros, faremos um grande favor aos Demónios. Não levantes a mão contra o teu irmão, como está a acontecer no Egipto. Não sejas um vassalo. Se tiveres de matar alguém, mata antes o Demónio que te oprime. Mas lembra-te: esse Demónio está dentro de ti.

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011



Como é que as árvores sabem que devem florir todas naquela noite? Eu acho que elas combinam umas com as outras.

Foi a noite passada.

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Roubado daqui.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

There are some qualities- some incorporate things,
That have a double life, which thus is made
A type of that twin entity which springs
From matter and light, evinced in solid and shade.
There is a two-fold Silence- sea and shore-
Body and soul. One dwells in lonely places,
Newly with grass o’ergrown; some solemn graces,
Some human memories and tearful lore,
Render him terrorless: his name’s “No More.”
He is the corporate Silence: dread him not!
No power hath he of evil in himself;
But should some urgent fate (untimely lot!)
Bring thee to meet his shadow (nameless elf,
That haunteth the lone regions where hath trod
No foot of man,) commend thyself to God!

Edgar Allan Poe

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Há dois blogs de livrarias de que gosto muito. O primeiro foi o da Pó dos Livros. Gostei tanto, que passei a ir lá comprar livros. Seguiu-se o da Trama. Quando comecei a segui-lo estava em fase de mudança de instalações. Ainda não fui lá comprar livros, mas irei. Estes blogs proporcionam-nos algo que os blogs das editoras, só concentradas em vendas e lucro, não fazem. Permitem-nos folhear os livros, partilham connosco pequenos excertos que nos fazem sentir exactamente assim: dentro da livraria, com o livro na mão, a folheá-lo. Este é para mim, este não é. Permitem-nos também conhecer um pouco as pessoas que respiram dentro daquela livraria. Dão algo de si, essas pessoas. São pessoas, não são marketeers, o que quer que isso seja, como "consumidor" ou "eleitor" ou "cliente", o que quer que isso seja, será que sequer existe?
Lembro-me de quando comecei a ler livros. Devia ter uns seis anos. Escolhia os livros pelo princípio. Se queria continuar a ler, pedia o livro. A caminho da idade adulta, comecei a escolher os livros pelo fim. A maior parte das pessoas ficava horrorizada: vais ler o fim dos livros? Vou. Que interesse tem? Quero saber para onde vai o livro, se quero ir parar àquele lugar ou não. Mas estragas a surpresa. A surpresa está no meio. Não sei exactamente quando comecei a escolher os livros pelo meio. O meio é vasto. Abro o livro algures no meio. Este foi escrito para mim. Este, não conheço aqueles para quem foi escrito. Este, não quero conhecer aqueles para quem foi escrito. A surpresa está no meio, eu já sabia. O meio é vasto. Já não me interessa o fim, porque o fim é sempre o mesmo. Já não me interessa o princípio, porque o princípio é sempre o mesmo. Interessa-me algo que está no meio. A viagem. Pouco interessa como começa e como acaba. Tudo começa e acaba. É o caminho que faz a diferença. E agora que penso nisso, sei que o meu relacionamento com os outros evoluiu da mesma forma. As pessoas encontram-se e separam-se - quanto mais não seja, porque morrem - não interessa como se cruzaram, como se separaram. Porque ficamos tanto tempo a pensar nisso? Não interessa. O que interessa é a viagem que fazem juntas, o que acontece nessa viagem, como se transformem, como evoluem ou regridem. A mudança está no meio. 
Lembro-me de quando comecei a ler livros, não me lembro de quando comecei a ler pessoas. Li pessoas antes de ler os livros. Ao contrário dos livros, que podia escolher, não podia escolher as pessoas, era obrigada a lê-las, até ter aprendido a não o fazer. Aprendi a também folhear pessoas. Leio o meio. Não me interessa o seu princípio nem o seu fim. Interessa-me saber em que viagem estão. Ao contrário dos livros, não posso escolhê-las, não posso escolher com quem viajar, tal como um livro não pode escolher outro livro para ler. Também não posso escolher sair da livraria, a livraria é a vida. Poder, até posso, mas sair da livraria por causa de um livro, não faz muito sentido. Há outros livros. Por vezes podemos até querer sair da livraria por causa de apenas um livro, uma pessoa. Mas aí, teríamos lido o livro que não queríamos ler. O meio é vasto, a livraria é vasta e há muitos livros que foram escritos para nós. Há uma viagem que temos que fazer e essa viagem é aquela que nos faz feliz, não a que nos faz chorar.
Isto tudo por causa da Pó dos Livros, e da Trama, e da Tasca do Tareca, que não digo onde é, porque é uma pequena jóia no meio das Avenidas Novas, onde voltei a sentir prazer com uma refeição, ao fim de quase três anos.
A livraria é vasta. O meio é vasto. A surpresa está no  meio.

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

via Trama


Não se podendo afirmar que o jovem amado ainda está plenamente presente nem que já está definitivamente ausente da cena de circunscrição (da sombra), pode-se todavia dizer que a rapariga coríntia, antecipando a sua ausência, lhe volta as costas e o retira do seu próprio campo de visão. Para poder desenhar o contorno do rapaz, ela faz-se cega (deliberadamente deixa de o ver). Tal é a condição para que a imagem surja: os dois corpos deixam de estar face a face, e a rapariga, em vez de sofrer passivamente o desaparecimento da silhueta masculina no seu horizonte visual, volta-se para a sombra projectada e transforma activamente o que está a desaparecer num reaparecimento – num outro aparecimento.
A lenda de Corinto (…) conta a necessidade originária da imagem: uma mulher terá retido a sombra daquele que morre – terá portanto retido algo da morte – por amor.

Tomás Maia, Assombra, Assírio & Alvim, 2009
via Trama


Assim é o mau humor: um signo grosseiro, uma chantagem vergonhosa. Existem, porém, nuvens mais subtis; todas as leves sombras, de causa rápida, incerta, que passam sob a relação, alteram a luz, o relevo; é subitamente uma outra paisagem, uma ligeira embriaguês negra. A nuvem não é então mais do que isto: algo me faz falta.

Fragmentos de um Discurso Amoroso, Roland Barthes

sábado, 8 de janeiro de 2011

Dai-me uma jovem mulher com sua harpa de sombra
e seu arbusto de sangue. Com ela
encantarei a noite.
Dai-me uma folha viva de erva, uma mulher.
Seus ombros beijarei, a pedra pequena
do sorriso de um momento.
Mulher quase incriada, mas com a gravidade
de dois seios, com o peso lúbrico e triste
da boca. Seus ombros beijarei.

Cantar? Longamente cantar,
Uma mulher com quem beber e morrer.
Quando fora se abrir o instinto da noite e uma ave
o atravessar trespassada por um grito marítimo
e o pão for invadido pelas ondas -
seu corpo arderá mansamente sob os meus olhos palpitantes.
Ele – imagem inacessível e casta de um certo pensamento
de alegria e de impudor.
Seu corpo arderá para mim
sobre um lençol mordido por flores com água.

Em cada mulher existe uma morte silenciosa.
E enquanto o dorso imagina, sob os dedos,
os bordões da melodia,
a morte sobe pelos dedos, navega o sangue,
desfaz-se em embriaguez dentro do coração faminto.
– Oh cabra no vento e na urze, mulher nua sob
as mãos, mulher de ventre escarlate onde o sal põe o espírito,
mulher de pés no branco, transportadora
da morte e da alegria.

Dai-me uma mulher tão nova como a resina
e o cheiro da terra.
Com uma flecha em meu flanco, cantarei.
E enquanto manar de minha carne uma videira de sangue,
cantarei seu sorriso ardendo,
suas mamas de pura substância,
a curva quente dos cabelos.
Beberei sua boca, para depois cantar a morte
e a alegria da morte.

Dai-me um torso dobrado pela música, um ligeiro
pescoço de planta,
onde uma chama comece a florir o espírito.
À tona da sua face se moverão as águas,
dentro da sua face estará a pedra da noite.
– Então cantarei a exaltante alegria da morte.

Nem sempre me incendeiam o acordar das ervas e a estrela
despenhada de sua órbita viva.
– Porém, tu sempre me incendeias.
Esqueço o arbusto impregnado de silêncio diurno, a noite
imagem pungente
com seu deus esmagado e ascendido.
- Porém, não te esquecem meus corações de sal e de brandura.
Entontece meu hálito com a sombra,
tua boca penetra a minha voz como a espada
se perde no arco.
E quando gela a mãe em sua distância amarga, a lua
estiola, a paisagem regressa ao ventre, o tempo
se desfibra – invento para ti a música, a loucura
e o mar.

Toco o peso da tua vida: a carne que fulge, o sorriso,
a inspiração.
E eu sei que cercaste os pensamentos com mesa e harpa.
Vou para ti com a beleza oculta,
o corpo iluminado pelas luzes longas.
Digo: eu sou a beleza, seu rosto e seu durar. Teus olhos
transfiguram-se, tuas mãos descobrem
a sombra da minha face. Agarro tua cabeça
áspera e luminosa, e digo: ouves, meu amor?, eu sou
aquilo que se espera para as coisas, para o tempo -
eu sou a beleza.
Inteira, tua vida o deseja. Para mim se erguem
teus olhos de longe. Tu própria me duras em minha velada
beleza.

Então sento-me à tua mesa. Porque é de ti
que me vem o fogo.
Não há gesto ou verdade onde não dormissem
tua noite e loucura,
não há vindima ou água
em que não estivesses pousando o silêncio criador.
Digo: olha, é o mar e a ilha dos mitos
originais.
Tu dás-me a tua mesa, descerras na vastidão da terra
a carne transcendente. E em ti
principiam o mar e o mundo.

Minha memória perde em sua espuma
o sinal e a vinha.
Plantas, bichos, águas cresceram como religião
sobre a vida – e eu nisso demorei
meu frágil instante. Porém
teu silêncio de fogo e leite repõe
a força maternal, e tudo circula entre teu sopro
e teu amor. As coisas nascem de ti
como as luas nascem dos campos fecundos,
os instantes começam da tua oferenda
como as guitarras tiram seu início da música nocturna.

Mais inocente que as árvores, mais vasta
que a pedra e a morte,
a carne cresce em seu espírito cego e abstracto,
tinge a aurora pobre,
insiste de violência a imobilidade aquática.
E os astros quebram-se em luz sobre
as casas, a cidade arrebata-se,
os bichos erguem seus olhos dementes,
arde a madeira – para que tudo cante
pelo teu poder fechado.
Com minha face cheia de teu espanto e beleza,
eu sei quanto és o íntimo pudor
e a água inicial de outros sentidos.

Começa o tempo onde a mulher começa,
é sua carne que do minuto obscuro e morto
se devolve à luz.
Na morte referve o vinho, e a promessa tinge as pálpebras
com uma imagem.
Espero o tempo com a face espantada junto ao teu peito
de sal e de silêncio, concebo para minha serenidade
uma ideia de pedra e de brancura.
És tu que me aceitas em teu sorriso, que ouves,
que te alimentas de desejos puros.
E une-se ao vento o espírito, rarefaz-se a auréola,
a sombra canta baixo.

Começa o tempo onde a boca se desfaz na lua,
onde a beleza que transportas como um peso árduo
se quebra em glória junto ao meu flanco
martirizado e vivo.
– Para consagração da noite erguerei um violino,
beijarei tuas mãos fecundas, e à madrugada
darei minha voz confundida com a tua.
Oh teoria de instintos, dom de inocência,
taça para beber junto à perturbada intimidade
em que me acolhes.
Começa o tempo na insuportável ternura
com que te adivinho, o tempo onde
a vária dor envolve o barro e a estrela, onde
o encanto liga a ave ao trevo. E em sua medida
ingénua e cara, o que pressente o coração
engasta seu contorno de lume ao longe.
Bom será o tempo, bom será o espírito,
boa será nossa carne presa e morosa.
– Começa o tempo onde se une a vida
à nossa vida breve.

Estás profundamente na pedra e a pedra em mim, ó urna
salina, imagem fechada em sua força e pungência.
E o que se perde de ti, como espírito de música estiolado
em torno das violas, a morte que não beijo,
a erva incendiada que se derrama na íntima noite
– o que se perde de ti, minha voz o renova
num estilo de prata viva.

Quando o fruto empolga um instante a eternidade
inteira, eu estou no fruto como sol
e desfeita pedra, e tu és o silêncio, a cerrada
matriz de sumo e vivo gosto.
– E as aves morrem para nós, os luminosos cálices
das nuvens florescem, a resina tinge
a estrela, o aroma distancia o barro vermelho da manhã.
E estás em mim como a flor na ideia
e o livro no espaço triste.

Se te apreendessem minhas mãos, forma do vento
na cevada pura, de ti viriam cheias
minhas mãos sem nada. Se uma vida dormisses
em minha espuma,
que frescura indecisa ficaria no meu sorriso?
– No entanto és tu que te moverás na matéria
da minha boca, e serás uma árvore
dormindo e acordando onde existe o meu sangue.

Beijar teus olhos será morrer pela esperança.
Ver no aro de fogo de uma entrega
tua carne de vinho roçada pelo espírito de Deus
será criar-te para luz dos meus pulsos e instante
do meu perpétuo instante.
– Eu devo rasgar minha face para que a tua face
se encha de um minuto sobrenatural,
devo murmurar cada coisa do mundo
até que sejas o incêndio da minha voz.

As águas que um dia nasceram onde marcaste o peso
jovem da carne aspiram longamente
a nossa vida. As sombras que rodeiam
o êxtase, os bichos que levam ao fim do instinto
seu bárbaro fulgor, o rosto divino
impresso no lodo, a casa morta, a montanha
inspirada, o mar, os centauros do crepúsculo
– aspiram longamente a nossa vida.

Por isso é que estamos morrendo na boca
um do outro. Por isso é que
nos desfazemos no arco do verão, no pensamento
da brisa, no sorriso, no peixe,
no cubo, no linho, no mosto aberto
– no amor mais terrível do que a vida.

Beijo o degrau e o espaço. O meu desejo traz
o perfume da tua noite.
Murmuro os teus cabelos e o teu ventre, ó mais nua
e branca das mulheres. Correm em mim o lacre
e a cânfora, descubro tuas mãos, ergue-se tua boca
ao círculo de meu ardente pensamento.
Onde está o mar? Aves bêbedas e puras que voam
sobre o teu sorriso imenso.
Em cada espasmo eu morrerei contigo.

E peço ao vento: traz do espaço a luz inocente
das urzes, um silêncio, uma palavra;
traz da montanha um pássaro de resina, uma lua
vermelha.
Oh amados cavalos com flor de giesta nos olhos novos,
casa de madeira do planalto,
rios imaginados,
espadas, danças, superstições, cânticos, coisas
maravilhosas da noite. Ó meu amor,
em cada espasmo eu morrerei contigo.

De meu recente coração a vida inteira sobe,
o povo renasce,
o tempo ganha a alma. Meu desejo devora
a flor do vinho, envolve tuas ancas com uma espuma
de crepúsculos e crateras.
Ó pensada corola de linho, mulher que a fome
encanta pela noite equilibrada, imponderável -
em cada espasmo eu morrerei contigo.

E à alegria diurna descerro as mãos. Perde-se
entre a nuvem e o arbusto o cheiro acre e puro
da tua entrega. Bichos inclinam-se
para dentro do sono, levantam-se rosas respirando
contra o ar. Tua voz canta
o horto e a água - e eu caminho pelas ruas frias com
o lento desejo do teu corpo.
Beijarei em ti a vida enorme, e em cada espasmo
eu morrerei contigo.

Herberto Helder, in Ofício Cantante

folhas soltas

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