as almas, os pássaros

as almas, os pássaros

as almas, os pássaros

as almas, os pássaros

quinta-feira, 30 de junho de 2011




Tempo de solidão e de incerteza

Tempo de medo e tempo de traição

Tempo de injustiça e de vileza

Tempo de negação



Tempo de covardia e tempo de ira

Tempo de mascarada e de mentira

Tempo de escravidão



Tempo dos coniventes sem cadastro

Tempo de silêncio e de mordaça

Tempo onde o sangue não tem rasto

Tempo da ameaça

Nunca mais
A tua face será pura limpa e viva
Nem o teu andar como onda fugitiva
Se poderá nos passos do tempo tecer.
E nunca mais darei ao tempo a minha vida.

Nunca mais servirei senhor que possa morrer.
A luz da tarde mostra-me os destroços
Do teu ser. Em breve a podridão
Beberá os teus olhos e os teus ossos
Tomando a tua mão na sua mão.


Nunca mais amarei quem não possa viver
Sempre,
Porque eu amei como se fossem eternos
A glória, a luz e o brilho do teu ser,
Amei-te em verdade e transparência
E nem sequer me resta a tua ausência,
És um rosto de nojo e negação
E eu fecho os olhos para não te ver.


Nunca mais servirei senhor que possa morrer.

Sophia de Mello Breyner Andresen, in Obra Poética, 1919-2004


quarta-feira, 29 de junho de 2011

Margens inertes
abrem os seus braços
Um grande barco no silêncio parte.
Altas gaivotas nos ângulos a pique,
Recém-nascidas à luz, perfeita a morte.
Um grande
barco parte abandonando
As colunas de um cais ausente e branco.
E o seu rosto busca-se emergindo
Do corpo sem cabeça da cidade.
Um grande
barco desligado parte
Esculpindo de frente o vento norte.
Perfeito azul do mar, perfeita a morte
Formas claras e nítidas de espanto.


Sophia de Mello Breyner Andresen



Quando a pátria que temos não a temos

Perdida por silêncio e por renúncia

Até a voz do mar se torna exílio

E a luz que nos rodeia é como grades

 

Sophia de Mello Breyner 


Os pinheiros gemem quando passa o vento
O sol bate no chão e as pedras ardem.

Longe caminham os deuses fantásticos do mar
Brancos de sal e brilhantes como peixes.

Pássaros selvagens de repente,
Atirados contra a luz como pedradas,
Sobem e morrem no céu verticalmente
E o seu corpo é tomado nos espaços.

As ondas marram quebrando contra a luz
A sua fronte ornada de colunas.

E uma antiquíssima nostalgia de ser mastro
Baloiça nos pinheiros.


Sophia de Mello Breyner Andresen

terça-feira, 28 de junho de 2011

Que arco terá então lançado a seta
Que eu sou? Que cume pode ser a meta?

Jorge Luis Borges, in A Rosa Profunda


 

a tua alma apontada
na direção de um céu alvo
maior como seta

eu a vibrar por ser arco
retesado nos teus braços
e lançá-la certeira
no coração dos pardos

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Pela Grécia e por todos nós. Digo eu.
 
Ressurgiremos ainda sob os muros de Cnossos

E em Delphos centro do mundo
Ressurgiremos ainda na dura luz de Creta


Ressurgiremos ali onde as palavras
São o nome das coisas
E onde são claros e vivos os contornos
Na aguda luz de Creta


Ressurgiremos ali onde pedra estrela e tempo
São o reino do homem
Ressurgiremos para olhar para a terra de frente
Na luz limpa de Creta


Pois convém tornar claro o coração do homem
E erguer a negra exactidão da cruz
Na luz branca de Creta.

Sophia de Mello Breyner Andresen in Livro Sexto


domingo, 19 de junho de 2011



sábado, 11 de junho de 2011



observando a natureza sem a mente, cheguei a outra conclusão. o que está mesmo muito muito em cima está em todos os graus-degraus e em nenhum. com esse, qualquer ser vivo aprende sempre ou é empurrado para baixo, para reaprender.




observando a natureza, cheguei a uma conclusão: nenhum ser vivo consegue apreender algo a não ser com aquele que está um grau-degrau à sua frente ou atrás de si. observando mais profundamente a natureza, cheguei a outra conclusão: existir no círculo de um ser vivo algo mil graus-degraus à sua frente faz a diferença entre querer aprender com o que está à sua frente ou atrás. ou não querer aprender de todo. depende do grau-degrau.

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Cá nesta Babilónia, donde mana
Matéria a quanto mal o mundo cria;
Cá, onde o puro Amor não tem valia,
Que a Mãe, que manda mais, tudo profana;


Cá, onde o mal se afina, o bem se dana,
E pode mais que a honra a tirania;
Cá, onde a errada e cega Monarquia
Cuida que um nome vão a Deus engana;


Cá, neste labirinto, onde a Nobreza,
O Valor e o Saber pedindo vão
Às portas da Cobiça e da Vileza;


Cá, neste escuro caos de confusão,
Cumprindo o curso estou da natureza.
Vê se me esquecerei de ti, Sião!

Luís Vaz de Camões, in Sonetos

terça-feira, 7 de junho de 2011

Adormeci, janelas e portas abertas, como sempre acontece quando estou sózinha, tudo aberto, não sei o que é esse medo do fechado, com ou sem ti, sempre presente, quase obsessão. Os sons do jardim lá fora, os sons alegres dos animais, o restolhar das árvores e flores, a micro-floresta a crescer-me na alma num sábado à tarde, o canto dos espanta-espíritos que atraem os espíritos primordiais, embalo, embalo, embalo. Os cães, um enorme, outro pequeno, sonhavam, as patas a correrem por um horizonte sem fim, pequenos guinchos de alegria, inocentes, em casa há amor puro, sobram traços de raiva que apagas. E depois as chuvas, como na Costa Rica, água por todo o lado e o cheiro das coisas vivas e molhadas a entrar pelas janelas, pelas portas, mesmo pelas paredes que se desmoronaram, os teus braços, o teu cheiro e o da chuva, bocas e animais e um respirar vegetal. A música da água sobre a vida, os corpos. Toda a água reunida aqui, de onde viemos, tu e eu, a rastejar, como serpentes, frios e subitamente o calor, os teus braços a desenharem-me o sorriso nascente nas mãos, os meus braços a desaguarem no teu fogo, o cheiro da chuva e o teu fogo, desenhei-te um beijo no pescoço com a ponta do dedo e desaguámos juntos na água, em chamas.

Láralálálálárálálárálálárá... porque muitas vezes canto. Com voz rouca ou cristalina. Depende. 




I walk down my street at night
The city lights are cold and violent
I am comforted by the
Approaching sound of trucks and sirens


Even though the world's so bad
These men rush out to help the dying
And though I am no use to them
I do my part by simply smiling


The ghetto boys are catcalling me
As I pull my keys from my pocket
I wonder if this method
Of courtship has ever been effective


Has any girl in history said
Sure, you seem so nice, let's get it on
Still I always shock them
When I answer, "Hi, my name's Amanda"


And I'm not gonna live my life
On one side of an ampersand
Even if I went with you
I'm not the girl you think I am


And I'm not gonna match you
'Cause I'll lose my voice completely
No, I'm not gonna watch you
'Cause I'm not the one that's crazy


I have wasted years of my life
Agonizing about the fires I started
When I thought that to be strong
You must be flame retardant


And now to dress the wounds calls into question
How authentic they are
There is always someone criticizing me
She just likes playing hospital
Lying in my bed I remember what you said
There's no such thing as accidents


But you've got the headstone all ready
All carved up and pretty
Your sick satisfaction
Those his and hers matching


The daisies all push up'n
Pairs to the horizon
Your eyes full of ketchup
It's nice that you're trying


The headstone's all ready
All carved up and pretty
Your sick satisfaction
Those his and hers matching


The daisies all push up'n
Pairs to the horizon
Your eyes full of ketchup
It's nice that you're trying


But I'm not gonna live my life
On one side of an ampersand
And even if I went with you
I'm not the girl you think I am


And I'm not gonna match you
'Cause I'll lose my voice completely
No, I'm not gonna watch you
'Cause I'm not the one that's crazy, yeah


As I wake up to a cough
The fire burned the block but ironically
Stopped at my apartment
And my house mates are all sleeping soundly


And nobody deserves to die
For you were awful adamant
That if I didn't love you
Then you had just one alternative


And I may be romantic
I may risk my life for it
But I ain't gonna die for you
You know I ain't no Juliet


I'm not gonna watch you
While you burn yourself out, baby
No, I'm not gonna stop you
'Cause I'm not the one that's crazy, yeah
I'm not the one that's crazy, oh yeah
I'm not the one that's crazy

folhas soltas

a tua alma apontada (1) A viagem da alma (28) Agnieszka Kurowska (1) Agostinho da Silva (2) Agustina Bessa-Luís (1) Aida Cordeiro (1) Al Berto (1) Alexandre Herculano (1) Alisteir Crowley (1) Almada Negreiros (2) Amanda Palmer (1) amigos (1) Ana Cristina Cesar (1) Ana Hatherly (1) Anne Stokes (1) Antero de Quental (1) António Lobo Antunes (2) António Ramos Rosa (2) Apocalyptica (1) apócrifos (2) Arte Virtual (1) as almas os pássaros (1) As Arqui-inimigas (1) Ashes and Snow (1) Auguste Rodin (1) autores preferidos (88) avós (1) Bocelli (1) Bon Jovi (1) Buda (1) Carl Sagan (1) Carolina (3) Caroline Hernandez (1) Catarina Nunes de Almeida (1) ce qu’il faut dépenser pour tuer un homme à la guerre (1) Cheyenne Glasgow (1) Chiyo-ni (1) Chogyam Trungpa Rinpoche (1) cinema (6) Cinema Paradiso (1) Clarice Lispector (1) Coldplay (1) Colin Horn (1) Constantin Brancusi (1) contos (28) Contos para crianças (6) Conversas com os meus cães (2) Curia (1) Daniel Faria (2) David Bohm (1) David Doubilet (1) Dítě (1) Do Mundo (32) Dylan Thomas (1) Eça de Queiroz (1) Eckhart Tolle (1) Edgar Allan Poe (1) Edmond Jabès (1) Elio Gaspari (1) Emily Dickinson (4) Ennio Morricone (1) Eric Serra (1) escultura (2) Federico Mecozzi (1) Fernando Pessoa (3) Fiama Hasse Pais Brandão (3) Fiona Joy Hawkins (1) Física (1) fotografia (9) Francesco Alberoni (1) Francisca (2) Fynn (1) Galileu (1) Gastão Cruz (2) Georg Szabo (1) George Bernanos (1) Giuseppe Tornatore (1) Gnose (2) Gonçalo M. Tavares (1) Gregory Colbert (1) Haiku (1) Hans Christian Andersen (1) Hans Zimmer (1) Henri de Régnier (1) Henry Miller (1) Herberto Helder (5) Hermes Trismegisto (1) Hilda Hilst (3) Hillsong (1) Hipácia de Alexandria (1) Igor Zenin (1) inteligência artificial (1) James Lovelock (1) Jean-François Rauzier (1) Jess Lee (1) João Villaret (1) Johannes Hjorth (1) Jonathan Stockton (1) Jorge de Sena (1) Jorge Luis Borges (2) Jorseth Raposo de Almeida (1) José Luís Peixoto (2) José Mauro de Vasconcelos (1) José Régio (1) José Saramago (1) Khalil Gibran (1) Krishnamurti (1) Kyrielle (1) Laura (1) Linkin Park (1) Lisa Gerrard (3) Live (1) Livros (1) Loukanikos (1) Luc Besson (1) Ludovico Einaudi (1) Luis Fonsi (1) Luís Vaz de Camões (1) Luiza Neto Jorge (1) Lupen Grainne (1) M. C. Escher (1) M83 (1) Machado de Assis (1) Madalena (1) Madan Kataria (1) Manuel Dias de Almeida (1) Manuel Gusmão (1) Marco Di Fabio (1) Margaret Mitchell (1) Maria Gabriela Llansol (1) Memórias (25) Michelangelo (1) Miguel de Cervantes y Saavedra (1) Miguel Esteves Cardoso (1) Miguel Sousa Tavares (1) Miguel Torga (1) Milan Kundera (1) música (25) Neil Gaiman (1) Nick Cave (1) Noite de todos os santos (1) O sal das lágrimas (2) Olavo de Carvalho (1) Orações (1) Orides Fontela (1) Orpheu (1) Oscar Wilde (3) Palavras preferidas (1) Palavras que odeio (1) Paolo Giordano (1) páscoa todos os dias (3) Patrick Cassidy (1) Paul Valéry (1) Paulo Melo Lopes (2) pensamentos (76) pintura (5) Platão (1) poemas (15) Poemas Gregos (2) Poesia (2) prosas (25) Prosas soltas (1) Radin Badrnia (1) Richard Linklater (1) rios de março (1) Roland Barthes (1) Russell Stuart (1) Serafina (2) Shalom Ormsby (1) Sigur Rós (1) Simone Weil (1) sobrinhas (5) Sócrates Escolástico (1) Sofia Raposo de Almeida (176) Sophia de Mello Breyner (14) Stephen Fry (1) Stephen Simpson (1) Steve Jobs (1) Susan J. Roche (1) Sytiva Sheehan (1) Teresa Vale (1) The Cinematic Orchestra (2) The Verve (1) Thomas Bergersen (1) Todd Gipstein (1) Tomás Maia (1) traduções de poemas (5) Uma Mulher na Foz de um Rio (4) valter hugo mãe (1) Vincent Fantauzzo (1) Wayne Roberts (1) wikihackers (1) William Blake (2) Yeshua (2) Yiruma (1)

cinco mais