as almas, os pássaros

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sexta-feira, 22 de setembro de 2023

Resolver reabrir este blog numa altura em que a blogoesfera da escrita está assim como que defunta, parece uma causa perdida. Muitos trocaram a intimidade e civilidade dos blogs de escrita pelo ruído e incivilidade das redes sociais. Alguns dos meus escritores e poetas preferidos fecharam os blogs e desapareceram para parte incerta. Outros ainda estão por aí, soltos. E eu voltei. Voltei para aqui, para o silêncio, como quem regressa ao deserto ou zarpa do porto em direção ao mar. Talvez me cruze com outros pelo caminho, talvez não. A solidão não me assusta.
A minha passagem pelas redes sociais foi curta, não suporto o barulho incessante, o cheiro do medo, o vazio das mentiras. Prefiro as ondas do deserto ou do mar, este silêncio, esta paz. Virei as costas e (de)sandei. Seja o que for, a partir de agora, este meu caminho, aqui posso respirar. Talvez termine alguns dos meus contos, talvez não. Quando estamos sózinhos no deserto ou no mar, não vale a pensa pensar o que está para além das dunas ou ondas, apenas interessa o ar limpo, a imensidão e a o re-despertar de todas as possibilidades. Que seja páscoa todos os dias.


quarta-feira, 20 de setembro de 2023



O ramo da cerejeira em flor
concede o seu perfume
a quem o quebrou

Chiyo-ni, poetisa japonesa, também conhecida como Kaga no Chiyo e Matto no Chiyo, é provavelmente a mais célebre poetisa de haiku (via Infopedia)

 



lamúria
nome feminino
lamentação interminável e importuna; choradeira; queixume
(Do lat. Lemurìa, «festas em honra dos lémures») – espíritos, fantasmas
fonte: Infopedia

Na verdade a Lemurìa era um dos Festivais dos Mortos dos Romanos, mas estes mortos, os lémures, eram muito aborrecidos, pois se não fossem pranteados, tornavam-se incómodos. Creio que estes mortos eram os espíritos dos lamuriadores.

Há os que sofrem e calam e se tornam mais fortes, há os que sofrem e lutam e ultrapassam a dor, há os que sofrem e passam a vida a lamuriar-se. São os lamuriadores. Esses vivem em constante sofrimento e comiseração por si próprios. Os lamuriadores têm comportamentos facilmente identificáveis. Para começar, gostam de confraternizar com outros lamuriadores. E quando os lamuriadores se juntam, é sempre aos pares, até porque não há muitos. Dois lamuriadores só se lamuriam se não houver nenhum não-lamuriador entre eles, pois as suas lamúrias só não são ridículas para eles próprios e correm o risco, caso um não-lamuriador interfira nas suas lamúrias com um pouco de bom-senso, de serem deslamuriados definitivamente. Isso seria um enorme inconveniente, pois os lamuriadores vivem unica e exclusivamente para as suas lamúrias, não saberiam viver sem elas e correriam até perigo de vida, se fossem subitamente deslamuriados. Os lamuriadores aparentam ser pessoas normais até se encontrarem com outro lamuriador. Aí começam as lamúrias. Lamuriam tudo, as escolhas que fizeram na vida e de que tanto se arrependem, os empregos que têm e que os reprimem, a cidade onde vivem, que devia ser outra, os vizinhos impossíveis de aturar, os cônjuges que não os amam nem compreendem, os filhos que não queriam ter e tiveram, as virtudes escondidas que ninguém vê e que o "mundo", tal como é, não deixa que se desenvolvam, os pais que os não entendiam, o tempo que não têm... nós não podemos escutar estas conversas, mas podemos adivinhá-las, porque quando dois lamuriadores se lamuriam, as expressões deles mudam, trocam gestos e sussurros secretos e saem dessas conversas mais lamurientos do que nunca, prontos a matar quem quer que se aproxime deles com um sorriso no rosto. Odeiam sorrisos e não têm nenhum sentido de humor. Perdem todas as oportunidades de alegria e felicidade que o universo lhes oferece, só para poderem lamuriar-se disso mais tarde. Os únicos momentos de satisfação que sentem é durante as suas lamúrias com outro compreensivo lamuriador.

É por isso que, quando morrem, obrigam outros a lamuriar-se por eles. Já não podem lamuriar-se eles próprios. Vão para o inferno dos lamuriadores.


 

Não se perdeu nenhuma coisa em mim.
Continuam as noites e os poentes
Que escorreram na casa e no jardim,
Continuam as vozes diferentes
Que intactas no meu ser estão suspensas.
Trago o terror e trago a claridade,
E através de todas as presenças
Caminho para a única unidade.


Sophia de Mello Breyner Andresen

segunda-feira, 18 de setembro de 2023

folhas soltas

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