as almas, os pássaros

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as almas, os pássaros

segunda-feira, 30 de novembro de 2009



O limiar do meu ser,
O limiar onde hesitam
Grandes pássaros que fitam
Meu transpor tardo de os ver.
São aves cheias de abismo,
Como nos sonhos as há.
Hesito se sondo e cismo,
E à minha alma é cataclismo
O limiar onde está.

Então desperto do sonho
E sou alegre da luz,
Inda que em dia tristonho;
Porque o limiar é medonho
E todo passo é uma cruz.

Fernando Pessoa, in Cancioneiro



Escultura Fugit Amor, de Auguste Rodin, 1884




domingo, 29 de novembro de 2009



Nunca fui tão feliz como durante essas noites. Fechava os olhos e via-a dentro de mim. A mulher mais bonita do mundo. E ia conhecendo mais do seu rosto, ia conhecendo mais do seu olhar que me via e que brilhava. Ficávamos durante horas só a olharmos um para o outro. Às vezes, fechava os olhos para a ver quando era de noite. Depois, havia uma luz que começava lentamente a atravessar-me as pálpebras. Abria os olhos, e era já de dia. Naquelas horas, conhecemo-nos. Eu via uma mulher que me olhava: os seus olhos atentos a cada brilho com que os meus olhos interiores lhe diziam que qualquer coisa na beleza ou no mundo me conduzia para ela. Naquelas horas, sem falarmos, construíram-se certezas dentro de nós. Ainda hoje o não sei explicar. A beleza, como o amor, são mistérios proibidos. Naquelas horas, a beleza e o amor eram simples. Nos nossos olhares, abriam-se caminhos para a beleza e para o amor. Eu olhava para ela no mesmo momento em que ela olhava para mim. Esse era o mistério, o milagre, o labirinto simples que usámos para nos conhecermos e para dizermos palavras de silêncio: palavras maiores, profundas, abismos, palavras que eram de sangue e que ali, eu um rapaz, ela uma rapariga, pareciam palavras de sol terno, e de sol suave, e de sol brando. Sei hoje que, durante aquele tempo, amava e era amado. Durante aquele tempo, a beleza da mulher de luz que estava dentro de mim, tinha-se misturado com esse sentimento. Esse sentimento. Esse sentimento que era um entusiasmo a mandar em todos os meus instantes, uma febre de onde não conseguia sair mesmo que quisesse, esse sentimento que era uma palavra: amor: uma palavra estranha porque era importante, eu achava que era uma palavra importante, mas sabia que era uma palavra que eu, desde os meus dezasseis anos, tinha tornado vulgar. Esse sentimento que era uma palavra, e eu perguntava-me a mim próprio sobre quantas pessoas a teriam tornado vulgar. Eu sentia que sentia totalmente esse sentimento. Amava e era amado.

[...]

A nossa casa estava toda envolvida em hera. Vista da montanha, a nossa casa era um pequeno monte de verde com janelas, com uma varanda e com um brasão de pedra. Estivera a escrever toda a noite e, no banco ao meu lado, tinha já trinta páginas escritas. Ao escrevê-las, sentira palavra a palavra, quase letra a letra. Eram as trinta páginas mais importantes da minha vida. Ao escrever, tinha vivido. Eram trinta páginas que eram o meu amor todo e a minha esperança. Sentado à escrivaninha onde os anos passavam, olhávamo-nos muito: ela dentro de mim e o meu olhar dentro de mim, junto dela. O meu braço tremia e, com a esferográfica, escrevia em folhas brancas cada uma das palavras que a diziam. Ela sentia as palavras a tocarem-na. Ela fechava lentamente os olhos. E o tempo em que mantinha as pálpebras fechadas era tocar-me, era tocar o sol, e, na pele, absorver toda a sua luz. Eu, que não podia ter nos braços aquela vida interior que era a minha vida toda, que não podia dar-lhe a mão, que não podia sequer passar-lhe os dedos devagar pelo rosto, fazia tudo isso escrevendo.


José Luís Peixoto in Uma Casa na Escuridão


sábado, 28 de novembro de 2009



Será que podemos reinventar-nos? Perguntou hoje alguém.
Na realidade, a maior parte de todos as coisas vivas no universo reinventa-se diariamente só por uma mera questão de sobrevivência. Adaptarmo-nos é, de certa forma, reinventarmo-nos. Ou nos reinventamos ou extinguimo-nos. Mas esta é uma forma relativamente passiva de nos reinventarmos.
Muitos cientistas e biólogos procuraram no cérebro humano características que realmente nos diferenciassem dos outros animais, essencialmente primatas, e não conseguiram encontrá-las ou defini-las. Tudo o que parecia distinguir-nos dos outros primatas, afinal, é comum a ambas as espécies. Nós processamos em maior quantidade a informação, mas não em qualidade. Os chimpanzés e os gorilas, tal como nós, desenvolvem estratégias, constroem ferramentas e abrigos, sonham, riem e choram, amam, sentem ciúme, inveja, irritação.
Talvez o ser humano, no entanto, seja a único ser da Terra capaz de reinventar-se de uma forma diferente, não apenas para se adaptar, não apenas para sobreviver, mas para, ao reinventar-se, recriar um mundo diferente à sua volta. E essa é uma característica única daquilo a que os filósofos e sábios sempre chamaram Mente.
E mesmo assim, talvez não... Talvez um dia descubramos que há outras criaturas na Terra capazes de o fazer, que também possuem uma Mente, como nós.


Fotografia de Matthias Clamer


quinta-feira, 26 de novembro de 2009







Por vezes a vida é tão insuportável para alguns que só lhes resta encená-la. Criam cenários e actores, enredos e diálogos, sendo sempre eles os actores principais, os únicos de carne e osso; os restantes, fantoches, sombras, sem pincelada de realidade, nem um sorriso verdadeiro, nem uma lágrima que molhe, nem um toque em que se sinta o osso ou a veia a pulsar, não, tudo imaginado, imaginário: imagens idealizadas.
E eu sento-me no balcão, silenciosa, e a única coisa que posso fazer é aplaudir.
Mas não me convidem para o palco. Posso até assistir à peça até ao fim. Depois parto sem me despedir.





Fotografia: Marco Di Fabio


terça-feira, 24 de novembro de 2009

Patience, patience
Patience dans l'azur
Chaque atome de silence
Est le coeur d'un fruit mûr


 

Não há um último pensamento em si e por si.
Em alguns insectos machos, há um último acto, que é de amor, após o qual morrem. Mas não há pensamento que esgote as virtualidades do espírito.
Há porém uma estranha tendência (em todos os espíritos de certa ordem) que é a de avançarem sempre rumo a não sei que ponto de não sei que céu.

Paul Valéry

via Trama, Introdução ao Método de Leonardo da Vinci

 

Um filme de Giuseppe Tornatore. Um filme sobre a vida, sobre a infância, a adolescência, a maturidade e o envelhecimento, o cair das folhas dos sonhos ao longo do caminho e uma amizade que sobrevive a tudo, entre um velho e um rapaz. 


segunda-feira, 23 de novembro de 2009



Às vezes apetece-me dizer a um amigo: big, big mistake! No entanto, nunca o fiz. Acredito que cada um de nós tem a sua aprendizagem e esta só se concretiza pelos erros que cometemos na vida. Dói-me vê-los cair, dói-me vê-los enterrarem-se, dói-me vê-los emparedarem-se vivos, por vezes, e, no entanto, nada digo. Limito-me a ficar ao lado deles; se um deles me estender a mão, eu agarro. Mas só se me estenderem a mão. Se o não fizerem, fico ali, limito-me a amá-los. Há quem não compreenda. Mas há que respeitar a liberdade com que nascemos. Sem dúvida que todos nascemos livres e haveremos de morrer ainda mais livres, a menos que alguém, bem-intencionado, mas que não saiba amar, resolva viver as nossas dores por nós. E eu? Porque é que quase não cometo erros? Porque vejo para a frente e para trás, infinitamente e, por vezes, interrogo-me: porque é que ainda cá estou?

Talvez porque só veja dentro do círculo.


Fotografia: Cheyenne Glasgow


sexta-feira, 20 de novembro de 2009



A Europa jaz, posta nos cotovelos:
De Oriente a Ocidente jaz, fitando,
E toldam-lhe românticos cabelos
Olhos gregos, lembrando.

O cotovelo esquerdo é recuado;
O direito é em ângulo disposto.
Aquele diz Itália onde é pousado;
Este diz Inglaterra onde, afastado,
A mão sustenta, em que se apoia o rosto.

Fita, com olhar esfíngico e fatal,
O Ocidente, futuro do passado.
O rosto com que fita é Portugal.

Fernando Pessoa, O dos Castelos, in A Mensagem






Quem fala de Amor não ama verdadeiramente: talvez deseje, talvez possua, talvez esteja realizando uma óptima obra literária, mas realmente não ama; só a conquista do vulgar é pelo vulgar apregoado aos quatro ventos; quando se ama, em silêncio se ama: às vezes o sabe a mulher amada, mas creio até que num amor que fosse pleno, em que nada entrasse das preocupações da terra, nem ela o saberia.
[...]
Admirar a Natureza e não admirar a mulher que é a sua obra mais bela e não a admirar, querendo-a, em tudo o que ela é, espírito e corpo, é ser um poeta que faltou, na sua alma, à amplitude do mundo. O primeiro dever diante de uma mulher é ser um fogo que arde e um coração que se vigia.
[...]
Apesar de todas as amizades, sempre na vida estamos sozinhos; o que é mais grave, mais doloroso, exactamente como o que é mais belo, passa-se apenas connosco. Entre um homem e outro homem há barreiras que nunca se transpõem. Só sabemos, seguramente, de uma amizade ou de um amor: o que temos pelos outros. De que os outros nos amem nunca poderemos estar certos.
[...]
Aqui tem você um conselho que lhe poderá servir para a sua filosofia: não force nunca; seja paciente pescador neste rio do existir. Não force a arte, não force a vida, nem o amor, nem a morte. Deixe que tudo suceda como um fruto maduro que se abre e lança no solo as sementes fecundas. Que não haja em si, no anseio de viver, nenhum gesto que lhe perturbe a vida.


Agostinho da Silva, in Sete Cartas a um Jovem Filósofo – Seguidas de Outros Documentos para o Estudo de José Kertchy Navarro”, I, II, edição da Ulmeiro, 1990

Pintura de Odilon Redon, Sombra e Luz, 1900


segunda-feira, 16 de novembro de 2009



Chove. Muito. Mangueiras e mangueiras de água doce e limpa. A terra está um lamaçal e os citrinos e as romãs caem das árvores já podres, com o vento a chicotear tudo. As rosas plantadas pelo meu avô para a minha avó sobreviveram miraculosamente. As outras morreram. Dançar, só flutuando. E leve. Caso contrário, afogamo-nos.







Tive amigos que morriam, amigos que partiam
Outros quebravam o seu rosto contra o tempo.
Odiei o que era fácil
Procurei-te na luz, no mar e no vento.

Sophia de Mello Breyner, in No Tempo Dividido e Mar Novo



Quando fazemos tudo para que nos amem e não conseguimos, resta-nos um último recurso: não fazer mais nada. Por isso, digo, quando não obtivermos o amor, o afeto ou a ternura que havíamos solicitado, melhor será desistirmos e procurar mais adiante os sentimentos que nos negaram. Não fazer esforços inúteis, pois o amor nasce, ou não, espontaneamente, mas nunca por força de imposição. Às vezes, é inútil esforçar-se demais, nada se consegue;outras vezes, nada damos e o amor se rende aos nossos pés. Os sentimentos são sempre uma surpresa. Nunca foram uma caridade mendigada, uma compaixão ou um favor concedido. Quase sempre amamos a quem nos ama mal, e desprezamos quem melhor nos quer. Assim, repito, quando tivermos feito tudo para conseguir um amor, e falhado, resta-nos um só caminho... o de mais nada fazer.

Clarice Lispector



Pormenor da imagem in the night sky by =inPrint on deviantART


domingo, 15 de novembro de 2009









A amizade é uma predisposição recíproca que torna dois seres igualmente ciosos da felicidade um do outro.

Platão












Fonte da fotografia: Gettyimages


sábado, 14 de novembro de 2009






Estou deitado no sonho não
perturbes o caos que me constrói
Afasta a tua mão

das pálpebras molhadas
Debaixo delas passa
a água das imagens

Gastão Cruz, in Órgão de Luzes


Pintura em acrílico de Agnieszka Kurowska



Vêm de dentro repelidos
Conforme o seu destino a sua cor varia
pois escolhem a base de acordo com
a luz que o rosto cria

A frente da cortina enfrentam
o vazio
que lhes dava guarida Em sepulcros
abrigam as faces atingidas

No palco deambulam como num
tempo estreito entre duas crateras
a que na sua frente lhes recolhe os soluços
e o nada donde vieram

Gastão Cruz, in As Leis do Caos




Pintura: Retrato de Heath Ledger, pintado por Vincent Fantauzzo


sexta-feira, 6 de novembro de 2009

quinta-feira, 5 de novembro de 2009



Esse negro corcel, cujas passadas
Escuto em sonhos, quando a sombra desce,
E, passando a galope, me aparece
Da noite nas fantásticas estradas,

Donde vem ele? Que regiões sagradas
E terríveis cruzou, que assim parece
Tenebroso e sublime, e lhe estremece
Não sei que horror nas crinas agitadas?

Um cavaleiro de expressão potente,
Formidável, mas plácido, no porte,
Vestido de armadura reluzente,

Cavalga a fera estranha sem temor:
E o corcel negro diz: "Eu sou a Morte!"
Responde o cavaleiro: "Eu sou o Amor!"


Antero de Quental


quarta-feira, 4 de novembro de 2009



Quando nos rimos, algo dentro de nós muda. E quando nós mudamos, o mundo muda.

Madan Kataria


Fonte das imagens: Gettyimages


folhas soltas

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