via Trama
Tomás Maia, Assombra, Assírio & Alvim, 2009
Não se podendo afirmar que o jovem amado ainda está plenamente presente nem que já está definitivamente ausente da cena de circunscrição (da sombra), pode-se todavia dizer que a rapariga coríntia, antecipando a sua ausência, lhe volta as costas e o retira do seu próprio campo de visão. Para poder desenhar o contorno do rapaz, ela faz-se cega (deliberadamente deixa de o ver). Tal é a condição para que a imagem surja: os dois corpos deixam de estar face a face, e a rapariga, em vez de sofrer passivamente o desaparecimento da silhueta masculina no seu horizonte visual, volta-se para a sombra projectada e transforma activamente o que está a desaparecer num reaparecimento – num outro aparecimento.
A lenda de Corinto (…) conta a necessidade originária da imagem: uma mulher terá retido a sombra daquele que morre – terá portanto retido algo da morte – por amor.
Tomás Maia, Assombra, Assírio & Alvim, 2009