terça-feira, 30 de junho de 2009
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terça-feira, junho 30, 2009
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segunda-feira, 29 de junho de 2009
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Uma Mulher na Foz de um Rio
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quinta-feira, 25 de junho de 2009
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quinta-feira, junho 25, 2009
São duas e vinte e dois da manhã. Trouxe o portátil para o piso térreo da casa. Aqui não se ouvem cantar os estranhos pássaros nocturnos, que aliás desapareceram há algumas semanas. Os únicos sons que ouço a esta hora é o ronronar eléctrico do frigorífico e o disparar, a espaços iguais, da ventoínha do computador. Por vezes, também se ouve cair um limão lá fora. São enormes, estes limões, e caem como pedregulhos, mas a casca é grossa e não se abrem. São limões quase doces. Ontem, quase que levei com um na cabeça, enquanto alimentava os peixes no lago. Mas é raro. Não sei porquê, os limões preferem largar o limoeiro durante o dia. Talvez para ver se acertam em alguém. Além de doces, têm sentido de humor. Outras vezes, também ouço um pequeno animal a passar entre as roseiras ou arbustos ou escuto um suspiro tranquilo de um dos meus cães.
As crianças há muito que se recolheram aos quartos. Estavam cansadas. Hoje fomos comer pasteís de Belém com granizados de limão. Foi um grande passeio a pé, ida e volta. Eu seguia mais ou menos devagar, mas elas corriam para trás e para a frente, não houve árvore ou muro que não experimentassem subir, andaram pelo menos umas dez vezes mais do que eu. Depois do lanche, fomos para o parque, onde a correria continuou e antes de regressarmos a casa, visitámos o mosteiro. Uma das gémeas ainda tentou trepar o túmulo de Camões, mas isso não deixei. Há que respeitar os poetas. Além de que o padre, que estava lá ao fundo a dar a missa das sete para meia dúzia de almas, parecia com vontade de nos crucificar a todas. Não teria gostado de me ouvir contar-lhes a história da Ordem de Cristo, e dos Cavaleiros Templários, a verdadeira história, claro. E do extermínio, numa sexta-feira, dia 13. E de como os homens de então, muitos deles, ainda pensavam que a Terra não era redonda e achavam que o mar estava pejado de monstros marinhos. E de Copérnico e Galileu. A mais velha conhecia a história da rebeldia deste último e foi ela que concluiu, com: E pur se muove.
Mas foi isto que Galileu teve de recitar, para escapar à morte: Eu, Galileu Galilei, filho do finado Vincenzio Galilei de Florença, com setenta anos de idade, tendo vindo pessoalmente ao julgamento e me ajoelhado diante de vós Eminentíssimos e Reverendíssimos Cardeais, Inquisidores Gerais da Republica Cristã Universal, contra a corrupção herética, tendo diante de meus olhos os Santos Evangelhos que toco com minhas próprias mãos, juro que sempre acreditei, e, com o auxílio de Deus, acreditarei no futuro, em tudo o que a Santa Igreja Católica e Apostólica de Roma sustenta, ensina e pratica. Mas como fui aconselhado, por êste Ofício a abandonar totalmente a falsa opinião que sustenta que o Sol é o centro do mundo e que é imóvel, e proibido de sustentar, defender ou ensinar a falsa doutrina de qualquer modo; e porque depois de saber que tal doutrina era repugnante diante das Sagradas Escrituras, escrevi e imprimi um livro, no qual trato da mesma e condenada doutrina, e acrescento razões de grande força em apoio a mesma, sem chegar a nenhuma solução, tendo sido portanto suspeito de grave heresia; ou seja porque mantive e acreditei na opinião que diz que o Sol é o centro do mundo e está imóvel, e que a Terra não é o centro e se move, desejo retirar essa suspeição da mente de vossas Eminências e de qualquer Católico Cristão, que com razão era feita a meu respeito, e por isso, de coração e com verdadeira fé, abjuro, amaldiçôo e detesto os ditos erros e heresias e de uma maneira geral todo o erro ou conceito contrário à dita Santa Igreja; e juro não mais no futuro dizer ou asseverar qualquer cousa verbalmente ou por escrito que possa levantar suspeita semelhante sobre minha pessoa; mas que se souber da existência de algum hereje ou alguém suspeito de heresia, o denunciarei a este Santo Ofício, ou ao Inquisidor do lugar onde me encontrar. Juro ainda mais e prometo que satisfarei totalmente e observarei as penitências que me foram ou me sejam ditadas pelo Santo Ofício. Mas se acontecer que eu viole qualquer de minhas promessas, juramentos, e protestos (que Deus me defenda!) sujeito-me a todos os castigos que forem decretados e promulgados pelos cânones sagrados e outras determinações particulares e gerais contra crimes deste tipo. Assim, que Deus me ajude, bem como os Santos Evangelhos, os quais toco com as mãos, e eu, o acima chamado Galileu Galilei, abjuro, juro, prometo e me curvo como declarei; e em testemunho do mesmo, com minhas próprias mãos subscrevi a presente abjuração, que recitei palavra por palavra.
Em Roma, no Convento de Minerva, 22 de Junho de 1633 eu, Galileu Galilei, abjurei como acima disse por minhas próprias mãos.
E pur se muove, disse ele mais tarde.
Pelas palavras acima, pode não parecer herói nenhum, este homem sem espada. Mas ele sabia que a sua obra só poderia ser preservada por ele. E viveu para o fazer. E pur se muove. Tudo se move.
Galileu Galilei só no dia 31 de Outubro de 1992 foi reabilitado pelo Papa, depois de a Terra rodar 359 vezes à volta do Sol. Foi um herói tranquilo, apaixonado pelas estrelas e inteligente. Ele, com os seus vidros polidos, a sua pena e os seus livros. Armas terríveis.
Agora os padres já nada podem contra nós e os reis foram mortos ou vivem algo enclausurados. Mas se a sociedade voltar a cair no obscurantismo... por vezes acho que pouco falta, com tanta televisão, tantos jogos de computador, tanto consumo, tanta ganância, tanta, mas tanta ignorância, numa época em que todo o conhecimento do mundo parece estar à distância de um clique... quem sabe se os livros de Galileu não serão de novo considerados heréticos e ele excomungado.
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quarta-feira, 17 de junho de 2009
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quarta-feira, junho 17, 2009
As nossas tragédias são sempre de uma profunda banalidade para os outros.
Oscar Wilde
Estar triste é como ter um rio dentro de nós que não encontra a foz. Esse rio percorre todo o nosso ser, enlouquecido e sem sentido ou direcção. Quando se apercebe de que a foz não existe, vira-se contra nós e afoga-nos. Uma vez liberto das paredes da mente, vaza-se no negro da noite, gerando uma entropia avassaladora.
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quarta-feira, 3 de junho de 2009
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quarta-feira, junho 03, 2009
[...]
A leitura da Bíblia não tinha grande êxito. Ela considerava-a uma coisa primária, boa só para crianças. A mensagem da Bíblia era simples, e qualquer pateta a podia compreender em meia hora! A religião consistia em fazer coisas, não na leitura de coisas feitas. Uma vez recebida a mensagem, era inútil relê-la cem vezes. O cura da nossa paróquia ficou surpreendido quando interrogou Ana acerca de Deus. Foi esta mais ou menos a conversa:
- Acreditas em Deus?
- Acredito.
- Sabes quem é Deus?
- É Deus.
- Costumas ir à igreja?
- Não.
. Porquê?
- Porque já sei aquilo tudo.
- O que é que sabes?
- Sei amar o Tio Deus, amar as pessoas, e os gatos, e os cães, e as aranhas, e as flores, e as árvores... - a lista nunca mais acabava - ... com todo o meu coração.
Carol riu-se para mim, Stan fez uma careta e eu meti à pressa um cigarro na boca, disfarçando o riso com um ataque de tosse. Não havia nada a fazer perante esta acusação. Porque era uma acusação (Deus fala pela boca das crianças). Ana passara por cima de todo o acessório e resumira séculos de sabedoria numa simples frase: "E Deus disse: ama-me, ama-os, ama tudo,e não te esqueças de te amar a ti próprio."
Aquele costume de os adultos irem à igreja enchia Ana de suspeitas. A ideia do culto colectivo ia contra o sentido íntimo das conversas que ela tinha com Deus. Quanto a ir à igreja para se encontrar com o Tio Deus, era absurdo. Se ele não estava em toda a parte, então não estava em parte nenhuma. Não via a relação entre a igreja e "falar com o Tio Deus".
[...]
- Toda a gente tem os seus pontos de vista, compreendes? O de cada um. Mas o Tio Deus não tem. O Tio Deus só tem "pontos para ver".
Outro dos livros da minha vida. Que posso dizer sobre ele? Li-o, era ainda eu própria uma criança e foi como uma chave que abriu uma porta e eu entrei e nunca mais voltei para trás. É-me difícil escolher excertos para aqui colocar. Lembro-me de tudo, de encontrar neste livro as respostas para as perguntas que tinha e que os adultos não conseguiam responder. Claro que caminhei muito e estou longe, agora, mas este foi o princípio. Este livro. Uma libertação da ignorância dos adultos.
Este ano levei a minha sobrinha à Feira do Livro e ela escolheu cinco livros. Houve quem me perguntasse se eu já os tinha lido. Disse que não. Então, e deixaste que ela os trouxesse? Sim. Não se deve escolher os livros para outra pessoa. Quando muito, pode-se recomendar. Por acaso, um dos livros que ela trouxe foi recomendado por mim, mas tenho a certeza de que será o último que ela lerá, se é que alguma vez o lerá. Cada criança deve poder escolher os seus livros. Cada criança tem o seu próprio caminho a seguir.
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