domingo, 31 de outubro de 2010
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domingo, outubro 31, 2010
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Memórias
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Sofia Raposo de Almeida
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sexta-feira, 29 de outubro de 2010
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sexta-feira, outubro 29, 2010
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Do Mundo
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Sofia Raposo de Almeida
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quinta-feira, 28 de outubro de 2010
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quinta-feira, outubro 28, 2010
II
Amada vida, minha morte demora.
Dizer que coisa ao homem,
Propor que viagem? Reis, ministros
E todos vós, políticos,
Que palavra além de ouro e treva
Fica em vossos ouvidos?
Além de vossa rapacidade
O que sabeis
Da alma dos homens?
Ouro, conquista, lucro, logro
E os nossos ossos
E o sangue das gentes
E a vida dos homens
Entre os vossos dentes.
VIII
Lobos? São muitos.
Mas tu podes ainda
A palavra na língua
Aquietá-los.
Mortos? O mundo.
Mas podes acordá-lo
Sortilégio de vida
Na palavra escrita.
Lúcidos? São poucos.
Mas se farão milhares
Se à lucidez dos poucos
Te juntares.
Raros? Teus preclaros amigos.
E tu mesmo, raro.
Se nas coisas que digo
Acreditares.
Hilda Hilst, Júbilo Memória Noviciado da Paixão, 1974
Amada vida, minha morte demora.
Dizer que coisa ao homem,
Propor que viagem? Reis, ministros
E todos vós, políticos,
Que palavra além de ouro e treva
Fica em vossos ouvidos?
Além de vossa rapacidade
O que sabeis
Da alma dos homens?
Ouro, conquista, lucro, logro
E os nossos ossos
E o sangue das gentes
E a vida dos homens
Entre os vossos dentes.
VIII
Lobos? São muitos.
Mas tu podes ainda
A palavra na língua
Aquietá-los.
Mortos? O mundo.
Mas podes acordá-lo
Sortilégio de vida
Na palavra escrita.
Lúcidos? São poucos.
Mas se farão milhares
Se à lucidez dos poucos
Te juntares.
Raros? Teus preclaros amigos.
E tu mesmo, raro.
Se nas coisas que digo
Acreditares.
Hilda Hilst, Júbilo Memória Noviciado da Paixão, 1974
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Hilda Hilst
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domingo, 24 de outubro de 2010
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Sofia
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domingo, outubro 24, 2010
Eu queria ser a terra em que tu hás-de estar morta e branca e fria, para te envolver toda num beijo fecundo. Eça de Queiroz, na minha timeline do Facebook
Credo!
Até porque na terra nunca se fica "morta, branca e fria", antes morta, terrosa e podre.
Credo! Credo!
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Eça de Queiroz
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domingo, outubro 24, 2010
Começou por ser uma casa vazia. Portas e janelas sempre abertas. Chão e paredes de pedra. Tectos transparentes. Também a sua localização era importante. Não era uma casa fixa, circulava, ora rodeada de floresta, ora de nuvens, ora de estrelas. Era uma boa casa. Dormia no chão e nem sentia o frio da pedra. Era feliz. Amigos vinham e iam, como aves de arribação. Abraços, risos, conversas, algumas lágrimas. Era a melhor casa do mundo.
Até que um dia vieram aqueles que não partiram mais.
Começaram por pôr trancas nas portas e janelas e começaram a trazer coisas para dentro de casa. Depois, fixaram-na ao chão, com cabos de aço, para facilitarem a tarefa de acumulação e enchimento. Cobriram os tectos com placa sólida. Trouxeram raiva, amargura, frustração. E coisas, muitas coisas. Coisas sólidas, que ocupam tudo, de todos os tamanhos, côres e texturas, coisas grandes e coisas pequenas, bicudas e redondas, com e sem arestas, de formatos simples ou complexos. A paisagem desapareceu e a casa começou a encher-se do pó dos que não partiam e do envelhecer das coisas. Já nem havia espaço para as aves de arribação, que com tristeza, ainda pousavam nos beirais, de vez em quando, até que um dia deixaram de vir. A casa ficou cheia, muito cheia, e escura e triste. E a alma que vivia lá dentro, deixou de conseguir respirar e morreu, sem espaço e sem luz.
Box of Rejection, Pintura de Sytiva Sheehan, Estados Unidos
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Sofia Raposo de Almeida
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Sytiva Sheehan
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sexta-feira, 22 de outubro de 2010
por
Sofia
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sexta-feira, outubro 22, 2010
já não dói já não dói, ou quando dói é como uma enorme dor apertada num espaço muito pequeno e num tempo mais pequeno ainda, uma dor que já não cabe, nem no espaço, nem no tempo, nem em quem sou, nem na vida, nem sequer na morte, já não dói, breve o instante em que ainda dói, apertado o espaço em que a dor é estrangulada, grande a vida a esmagar a dor, a reduzi-la ao lixo que foi, tanto lixo. agora. só preciso de limpar todo o lixo que a dor deixou para trás. tanto lixo. tanto, tanto lixo para varrer
e depois penso, o lixo que se lixe, é mais fácil fechar a porta e ir embora, os pés na água limpa, o vento que cuide do resto
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Sofia Raposo de Almeida
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quinta-feira, 21 de outubro de 2010
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quinta-feira, outubro 21, 2010
Não resisto a partilhar. Até porque as gémeas já são adolescentes e ninguém as irá reconhecer. Acima de tudo, ri hoje a bom rir com elas com o nome que a prima deu à fotografia. Tico e Teco. Cada uma parece esconder uma noz na boca, Tico e Teco. Absolutamente deliciosas, acabadas de descer das árvores, convencidas de que ninguém viu. As nozes. Os segredos de criança. Amo-as muito.
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Sofia Raposo de Almeida
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segunda-feira, 18 de outubro de 2010
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Sofia
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segunda-feira, outubro 18, 2010
usurar
verbo intransitivo
emprestar dinheiro (ou outra coisa) exigindo juros superiores aos estabelecidos por lei; viver da usura
(De usura+-ar)
Fonte: Infopedia
Ora, e será assim tão difícil mudar a Lei?
Fotografia de Michael Blann
verbo intransitivo
emprestar dinheiro (ou outra coisa) exigindo juros superiores aos estabelecidos por lei; viver da usura
(De usura+-ar)
Fonte: Infopedia
Ora, e será assim tão difícil mudar a Lei?
Fotografia de Michael Blann
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Palavras que odeio
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Sofia Raposo de Almeida
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terça-feira, 12 de outubro de 2010
por
Sofia
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terça-feira, outubro 12, 2010
Hoje vieram ter comigo à saída da floresta, mesmo antes do viaduto. Vieram aos bandos. Não os consegui ver, mas ouvi-os, cantavam alto e alegremente, como numa conversa sobre esquilos, avelãs e o cheiro das folhas de eucalipto, os troncos a descascar prata e oiro com a chuva recente. Eram tantos. Senti-me profundamente grata, como uma criança, como quando era criança, pelo orvalho, a gratidão de ver o orvalho nas folhas de manhã, a caminho da escola, e consegui mais tarde no dia atravessar uma passadeira ao lado de um pombo gordo e preto, devagar como ele, ao ritmo dele, o barulho dos humanos era ensurdecedor, somos tantos, já não vejo as pessoas, tanta vaidade, tanta gravata, tanta ignorância, tão barulhentos, os homens, os egos enormes, as gravatas, a pressa, a arrogância, os poderes de coisa nenhuma, aqueles que são máscaras, e eu silenciosa com o pombo gordo e preto, bamboleante como um perú na véspera do natal, inchado de poluição, um pombo muito preto, na passadeira seguinte uma pomba voou ao meu lado, empresta-me as tuas asas, a pomba era cinzenta e branca, eles não saíram da floresta, mas agora sei que estão ali, à minha espera, nas manhãs, falam de esquilos e árvores e dos frutos de outono e do cheiro dos eucaliptos, pensei que iam entrar por ali dentro como os de Hitchcock, mas não, eram alegres e o outro, ainda tão jovem, o homem apressado que não larga o computador, pediu-me para lhe ir comprar um livro que ensina a viver devagar e eu percebi que tudo tem, de facto, um sentido qualquer, a ideia do livro veio com os pássaros da manhã.
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terça-feira, 5 de outubro de 2010
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terça-feira, outubro 05, 2010
Súbitamente o sentimento que a inundava encheu-a de dor e vergonha, como se tudo estivesse errado, o mundo virado do avesso, a eternidade já não fosse coisa sua, nem o sentimento fosse coisa sua, tornara-se um estranho, algo que agora não deveria ter existido nunca, um erro profundo, algo que parecia devorá-la por dentro, as visões e memórias em cacos afiados como punhais a estilhaçarem-lhe o cérebro e os olhos, um punho fechado de gelo vermelho paralisado dentro do peito, depois negro, depois transparente, depois nada.
Um breve nada - seguido de água furiosa, a jorrar branca e fria por todo o lado dentro de si, a comprimir o sentimento, a tentar expulsá-lo, a comprimi-lo cada vez mais, e o sentimento - que é estrela - a inchar desmesuradamente, até que simplesmente implode sobre si mesmo, e depois explode para fora dela, numa nuvem de luz e fogo, evaporando-se no espaço em redor, desaparecendo do tempo, todo o tempo, por toda a eternidade.
E daquele ponto no presente - é sempre apenas um ponto, o Agora, onde tudo acontece - o passado mudou desde o princípio e o futuro desviou-se.
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Sofia Raposo de Almeida
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