Esplanada da Cafetaria Quadrante, CCB, seis e meia da tarde. Havia muitos estudantes, alguns solitários, alguns turistas e um senhor com o cão mais desobediente que já vi, que não dava pelo nome de Pipas, provavelmente porque o nome não lhe agradava. A minha sobrinha mais nova e eu tínhamos acabado a visita ao Jardim Botânico Tropical, onde tínhamos estado com os mais belos cisnes e as mais belas árvores e os patos mais curiosos que já tínhamos visto. Apeteceu-nos um refresco e um bolo. A ver o rio. Estávamos ali sentadas as duas, a rir com o Pipas, que não se queria chamar Pipas de certeza, a Guigas a tentar apanhá-lo, o pseudo-dono a tentar apanhá-lo, o Pipas não parava de correr entre as mesas, a cheirar pernas, meias, sapatos, embalagens de gelados, guardanapos que tinham voado com o vento, aquela esplanada era o paraíso dos cheiros para o Pipas. Foi então que apareceu a senhora. Era uma senhora já velha, muito gentil, muito elegante, muito educada e reparei logo nela porque vinha carregada de livros. Dirigiu-se à nossa mesa e estendeu-nos um livro. Era um livro com muitas cores, branco, encarnado, verde, amarelo e um melro preto, de smoking. Tinha na capa um xilofone, um quadro preto, um marmelo, um violino, uma maçã e três sapos. E o melro, claro. O melro parecia estar a dar lições de matemática aos sapos. Com o livro estendido para nós, a senhora apresentou-se, dizendo simplesmente: sou a autora. A Guigas olhou para mim e acenou com a cabeça negativamente, como quem diz ignora. A senhora, sensível e atenta às crianças, pois era a autora de um livro para crianças, olhou para ela e explicou: sabes que estarias também a ajudar outras crianças, outras que não têm saúde, ao comprar este livro? A Guigas continuava a olhar para mim fixamente, até que lhe disse: Guigas, a senhora está a falar contigo. Aí ela procurou prestar atenção. A senhora abriu o livro e se a Guigas ainda estava duvidosa, eu já não estava. O livro tinha letras de várias côres, poemas, desenhos, músicas com notas... aquele melro devia ser extraordinariamente criativo e inteligente. Além disso, Aida Cordeiro trazia os livros debaixo dos braços. Quanto é? Eu fico com um. Cinco euros. O livro custava cinco euros. E era um livro tão lindo, com tantas cores, tanta magia. A troca fez-se rapida e silenciosamente. Sorrimos uma para a outra. Que lindo livro! Obrigada, Aida Cordeiro. O livro tem lições de história, matemática e música e está quase todo escrito em poema. Se algum dia, algum de vós tiver a sorte de se cruzar com Aida Cordeiro, nascida em Trás-Os-Montes, onze anos vividos em Moçambique e professora do ensino básico desde 1972 em Lisboa, não percam a oportunidade de comprar O Melro.
sábado, 26 de novembro de 2011
por
Sofia
on
sábado, novembro 26, 2011
publicado em
Aida Cordeiro
,
autores preferidos
,
Memórias
,
Sofia Raposo de Almeida
|
2
comentários
segunda-feira, 21 de novembro de 2011
por
Sofia
on
segunda-feira, novembro 21, 2011
Now Lady Gregory was Yeats' patron, this Irish person, and though I'd never seen her image, I was just sure that this was the face of Lady Gregory. So I'm walking along, and Lady Gregory turns to me and says, "Let me explain to you the nature of the universe. Philip K. Dick is right about time, but he's wrong that it's 50 A.D. Actually, there's only one instant, and it's right now, and it's eternity. And it's an instant in which God is posing a question, and that question is basically, 'Do you want to be one with eternity? Do you want to be in heaven?' And we're all saying, 'No thank you. Not just yet.' And so time actually is just this constant saying No to God's invitation. That's what time is, and it's no more 50 A.D. than it's 2001. There's just this one instant, and that's what we're always in." Then she tells me that actually, this is the narrative of everyone's life. That behind the phenomenal differences, there is but one story, and that's the story of moving from No to Yes. All of life is like, "No thank you, no thank you, no thank you," then ultimately it's, "Yes, I give in, yes, I accept, yes, I embrace." That's the journey. Everyone gets to Yes in the end, right? — Richard Linklater, excerpt from the movie "Waking Life"
publicado em
cinema
,
Richard Linklater
|
sem comentários
quarta-feira, 9 de novembro de 2011
por
Sofia
on
quarta-feira, novembro 09, 2011
publicado em
poemas
,
Sofia Raposo de Almeida
|
sem comentários
Subscrever:
Mensagens
(
Atom
)
folhas soltas
a tua alma apontada
(1)
A viagem da alma
(28)
Agnieszka Kurowska
(1)
Agostinho da Silva
(2)
Agustina Bessa-Luís
(1)
Aida Cordeiro
(1)
Al Berto
(1)
Alexandre Herculano
(1)
Alisteir Crowley
(1)
Almada Negreiros
(2)
Amanda Palmer
(1)
amigos
(1)
Ana Cristina Cesar
(1)
Ana Hatherly
(1)
Anne Stokes
(1)
Antero de Quental
(1)
António Lobo Antunes
(2)
António Ramos Rosa
(2)
Apocalyptica
(1)
apócrifos
(2)
Arte Virtual
(1)
as almas os pássaros
(1)
As Arqui-inimigas
(1)
Ashes and Snow
(1)
Auguste Rodin
(1)
autores preferidos
(88)
avós
(1)
Bocelli
(1)
Bon Jovi
(1)
Buda
(1)
Carl Sagan
(1)
Carolina
(3)
Caroline Hernandez
(1)
Catarina Nunes de Almeida
(1)
ce qu’il faut dépenser pour tuer un homme à la guerre
(1)
Cheyenne Glasgow
(1)
Chiyo-ni
(1)
Chogyam Trungpa Rinpoche
(1)
cinema
(6)
Cinema Paradiso
(1)
Clarice Lispector
(1)
Coldplay
(1)
Colin Horn
(1)
Constantin Brancusi
(1)
contos
(28)
Contos para crianças
(6)
Conversas com os meus cães
(2)
Curia
(1)
Daniel Faria
(2)
David Bohm
(1)
David Doubilet
(1)
Dítě
(1)
Do Mundo
(32)
Dylan Thomas
(1)
Eça de Queiroz
(1)
Eckhart Tolle
(1)
Edgar Allan Poe
(1)
Edmond Jabès
(1)
Elio Gaspari
(1)
Emily Dickinson
(4)
Ennio Morricone
(1)
Eric Serra
(1)
escultura
(2)
Federico Mecozzi
(1)
Fernando Pessoa
(3)
Fiama Hasse Pais Brandão
(3)
Fiona Joy Hawkins
(1)
Física
(1)
fotografia
(9)
Francesco Alberoni
(1)
Francisca
(2)
Fynn
(1)
Galileu
(1)
Gastão Cruz
(2)
Georg Szabo
(1)
George Bernanos
(1)
Giuseppe Tornatore
(1)
Gnose
(2)
Gonçalo M. Tavares
(1)
Gregory Colbert
(1)
Haiku
(1)
Hans Christian Andersen
(1)
Hans Zimmer
(1)
Henri de Régnier
(1)
Henry Miller
(1)
Herberto Helder
(5)
Hermes Trismegisto
(1)
Hilda Hilst
(3)
Hillsong
(1)
Hipácia de Alexandria
(1)
Igor Zenin
(1)
inteligência artificial
(1)
James Lovelock
(1)
Jean-François Rauzier
(1)
Jess Lee
(1)
João Villaret
(1)
Johannes Hjorth
(1)
Jonathan Stockton
(1)
Jorge de Sena
(1)
Jorge Luis Borges
(2)
Jorseth Raposo de Almeida
(1)
José Luís Peixoto
(2)
José Mauro de Vasconcelos
(1)
José Régio
(1)
José Saramago
(1)
Khalil Gibran
(1)
Krishnamurti
(1)
Kyrielle
(1)
Laura
(1)
Linkin Park
(1)
Lisa Gerrard
(3)
Live
(1)
Livros
(1)
Loukanikos
(1)
Luc Besson
(1)
Ludovico Einaudi
(1)
Luis Fonsi
(1)
Luís Vaz de Camões
(1)
Luiza Neto Jorge
(1)
Lupen Grainne
(1)
M. C. Escher
(1)
M83
(1)
Machado de Assis
(1)
Madalena
(1)
Madan Kataria
(1)
Manuel Dias de Almeida
(1)
Manuel Gusmão
(1)
Marco Di Fabio
(1)
Margaret Mitchell
(1)
Maria Gabriela Llansol
(1)
Memórias
(25)
Michelangelo
(1)
Miguel de Cervantes y Saavedra
(1)
Miguel Esteves Cardoso
(1)
Miguel Sousa Tavares
(1)
Miguel Torga
(1)
Milan Kundera
(1)
música
(25)
Neil Gaiman
(1)
Nick Cave
(1)
Noite de todos os santos
(1)
O sal das lágrimas
(2)
Olavo de Carvalho
(1)
Orações
(1)
Orides Fontela
(1)
Orpheu
(1)
Oscar Wilde
(3)
Palavras preferidas
(1)
Palavras que odeio
(1)
Paolo Giordano
(1)
páscoa todos os dias
(3)
Patrick Cassidy
(1)
Paul Valéry
(1)
Paulo Melo Lopes
(2)
pensamentos
(76)
pintura
(5)
Platão
(1)
poemas
(15)
Poemas Gregos
(2)
Poesia
(2)
prosas
(25)
Prosas soltas
(1)
Radin Badrnia
(1)
Richard Linklater
(1)
rios de março
(1)
Roland Barthes
(1)
Russell Stuart
(1)
Serafina
(2)
Shalom Ormsby
(1)
Sigur Rós
(1)
Simone Weil
(1)
sobrinhas
(5)
Sócrates Escolástico
(1)
Sofia Raposo de Almeida
(176)
Sophia de Mello Breyner
(14)
Stephen Fry
(1)
Stephen Simpson
(1)
Steve Jobs
(1)
Susan J. Roche
(1)
Sytiva Sheehan
(1)
Teresa Vale
(1)
The Cinematic Orchestra
(2)
The Verve
(1)
Thomas Bergersen
(1)
Todd Gipstein
(1)
Tomás Maia
(1)
traduções de poemas
(5)
Uma Mulher na Foz de um Rio
(4)
valter hugo mãe
(1)
Vincent Fantauzzo
(1)
Wayne Roberts
(1)
wikihackers
(1)
William Blake
(2)
Yeshua
(2)
Yiruma
(1)
cinco mais
-
Todas as árvores nascem de uma semente. Menos a primeira árvore, cuja semente se transformou em semente por força de um sonho. É isso que ...
-
São duas e vinte e dois da manhã. Trouxe o portátil para o piso térreo da casa. Aqui não se ouvem cantar os estranhos pássaros nocturnos, q...
-
And death shall have no dominion. Dead men naked they shall be one With the man in the wind and the west moon; When their bones are pic...
-
Não se perdeu nenhuma coisa em mim. Continuam as noites e os poentes Que escorreram na casa e no jardim, Continuam as vozes diferentes Q...