as almas, os pássaros

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sexta-feira, 8 de abril de 2011



E Rafael disse:
Muitos, a maioria, só querem de nós aquilo que pensam que temos para lhes dar. E então eu dou. Depois, fecho e espero. Muitos, a maioria, perde todo o interesse. É assim que eu sei a quem posso dar tudo o que tenho e a quem não. E darei tudo o que tenho, o que me sobra de espírito e cura, aos que se interessam pelo outro, não por aquilo que ele lhes dá, mas por curiosidade. A curiosidade é o princípio do amor e são esses que mudam o mundo.

Fotografia de Stephen Simpson

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Súbitamente o sentimento que a inundava encheu-a de dor e vergonha, como se tudo estivesse errado, o mundo virado do avesso, a eternidade já não fosse coisa sua, nem o sentimento fosse coisa sua, tornara-se um estranho, algo que agora não deveria ter existido nunca, um erro profundo, algo que parecia devorá-la por dentro, as visões e memórias em cacos afiados como punhais a estilhaçarem-lhe o cérebro e os olhos, um punho fechado de gelo vermelho paralisado dentro do peito, depois negro, depois transparente, depois nada.
Um breve nada - seguido de água furiosa, a jorrar branca e fria por todo o lado dentro de si, a comprimir o sentimento, a tentar expulsá-lo, a comprimi-lo cada vez mais, e o sentimento - que é estrela - a inchar desmesuradamente, até que simplesmente implode sobre si mesmo, e depois explode para fora dela, numa nuvem de luz e fogo, evaporando-se no espaço em redor, desaparecendo do tempo, todo o tempo, por toda a eternidade.
E daquele ponto no presente - é sempre apenas um ponto, o Agora, onde tudo acontece - o passado mudou desde o princípio e o futuro desviou-se.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Emoção foi a primogénita. Nasceu bela, louca e sábia, com todos os dons, sendo nela os dons da visão e da cura os mais fortes. Possuía uma qualidade que a tornava amada e imprescindível: nunca se enganava.
Razão nasceu eras mais tarde, apenas para ser apoucada pela sua irmã mais velha. Desenvolveu-se a pulso, mas sempre inacabada, fria, cega e ignorante. A sua utilidade era desconhecida, apenas se tornava aparente quando a loucura tomava conta de sua irmã. Nessa altura, Razão parecia conseguir exercer algum controlo sobre ela. No entanto, vivia só e invejosa, desamada por todos.
Mas no dia em que Emoção se enganou pela primeira vez, Razão ganhou o direito de a matar.
E fê-lo, com uma crueldade inimaginável.


domingo, 20 de setembro de 2009



Gostava que a tivesses visto, a enorme ave branca que atravessou os mares nocturnos, ontem à noite. Brilhava na escuridão com uma luz muito suave e voava baixo, maior do que um airbus, mais leve do que uma pena, mais veloz do que a luz ou o pensamento, chegou tão depressa como só o sentimento pode chegar, cruzou os mares, todos os mares de todos os tempos, todas as noites de todos os dias, branca, tão branca na noite, um branco de lua virgem dos beijos dos meteoros.
Quando chegou a terra diminuiu de tamanho, entrou pela foz rio acima, a planar sobre as águas sujas que sob ela se agitavam, a ave trouxe o mar com ela, as águas ficaram limpas, os golfinhos vinham atrás, os dorsos prateados a cavalgarem as ondas, deixaram chamas verdes na superfície das águas, regressaram ao mar, a ave não. Com a sua bela cabeça de cisne gigante, o seu pescoço longo e macio, passou por cima do teu esconderijo, sei o que estavas a fazer, vi-o através dos olhos da ave, deixei-a pousar lá onde estavas, não chorei, pela primeira vez não chorei, adormeci dentro dos olhos pretos da ave, não sem antes ter tapado os espelhos com veludo azul, tapei os espelhos e então a ave escondeu o bico debaixo das asas, fechou os olhos pesados do veludo azul e adormeceu comigo lá dentro.
De madrugada, ambas tínhamos desaparecido.
Só gostava que tivesses visto a ave que fiz para ti.





sexta-feira, 31 de julho de 2009



Uma muralha púrpura de água prenhe de memórias, sombras negras dos cadeados, das fechaduras, das correntes, riscos lilases luminosos dos segredos arrefecidos, como chamas moribundas, ergue-se a toda a largura da foz, a sua imensidão desequilibra-me, deixa-me tonta, quase embriagada de imaginar atravessá-la, beber dela, afogar-me nela, preferia voar, onde estão as asas? para voar precisas da leveza, ossos ocos e toda uma melodia aérea de corpo - que não tens quando a tristeza do lodo do rio te abraça venenosa a alma, as asas estão presas no leito do rio, descoladas do corpo, adiadas, a vida pesa como chumbo neste rio que devagar vou odiando cada vez mais, fujo para as margens, arquejos saltam-me do peito, fecho a boca, furiosa, corro para a floresta, percorro a correr toda a álea de palmeiras, o vento está quente, o verão prestes a morrer e a matar a esperança, como me irrita essa palavra, esperança, tanto como a palavra espera, corro, por isso é que corro, o vento traz-me o perfume das árvores e das flores, beija-me os pulmões, sento-me nos degraus de pedra do pequeno palácio escondido, em ruínas, estou quase em casa, aqui estou quase em casa, regresso devagar, abraço as árvores, enfrento a muralha na margem do rio.
um dia, com ou sem asas, irei para além de ti, coisa brutal... ou talvez descubra simplesmente que não existes.

Fonte da imagem: kendraseward

quinta-feira, 30 de julho de 2009



Por vezes solto-me do mundo, do rio. Paro à beira da estrada e mergulho numa pedra qualquer. Vejo a dor. Sintonizo-me com ela. Pedra cinzenta e negra, de respirar tão lento, que é quase como se pudesse não existir. Mas está ali. Nasceu de um vulcão e é lenta, apenas. Dor, como os outros. Então, o mundo desaparece e surge na pedra, em toda a sua plenitude inútil. Respiro fundo e toco-lhe. Surge este louco sonho de salvar a pedra e salvar o mundo. Interrompo a luz e chove. O frio desce sobre a estrada, a humidade inunda os ossos e congela a seiva. O tempo pára. O mundo à deriva, numa pedra. Vertigem. Tudo numa pedra. Solidão. As eras pesam-me, como mantos de lama. Apaixono-me pela pedra. Está tudo ali: as extinções em massa, as guerras, a fome, a morte. Tudo numa só pedra. Toco-lhe, tão ao de leve, e exorto-a: sê!

Então, subitamente, a pedra acorda. Sente-se o centro do universo e é-o, de facto, por um instante. Olha para mim, a luz eterna, e ri-se. Ri-se de mim, que reparei nela, na sua miséria, no seu negrume vazio que foi algo, talvez, no momento em que o meu olhar nela pousou. Mas o que faz a pedra? Incha. Ao inchar, esmaga-me. Tão forte e tão frágil sou.

É então que surge o abismo. Do inchaço da pedra, da sua vulgaridade, da sua ignorância, da sua fria e estúpida insensibilidade de pedra. Negro, imenso, magnético. A pedra vê-me cair e ri-se, uma última vez. Precipito-me no vazio, em voo picado. A velocidade é tal que as asas se rasgam, bocados esparsos de céu regressam à fonte. A luz da minha respiração destrói a prisão adivinhada. A energia do meu corpo embate, finalmente, contra o fundo, que aguarda, faminto, com mil e um rochedos afiados, como gumes de espadas rombas.

Tudo desaparece. Nasce um novo dia. O verão será curto este ano. Ou talvez nem exista, aqui onde permaneço. Milhões de pequenas partículas regressam ao mundo. Ninguém dá por elas. Minúsculas. Debaixo do meu voo, o abismo cerra-se, as espadas de novo adormecidas.



quarta-feira, 29 de julho de 2009


Compreendo cada vez melhor que cada um de nós cria o seu próprio mundo. Ligados. estamos todos ligados, mas somos como Ilhas. não conseguimos chegar ao que nos liga: amor, separados por: ódio, medo, barro. o meu mundo é diferente do Teu e vivemos lado a lado. não consigo ligar-me à tua Ilha, crio Uma, esta é diferente, Ideal, não és Tu, Tu não estás mais aqui. é de madrugada, quando me refugio no sono-sonho onde te encontro, a Ti. estás sempre comigo em todas as Madrugadas esvaziadas da matéria-fronteira, sombras, onde apenas o meu Desejo impera, falo Contigo, sorrio para Ti, Tu sorris para mim, Tu, que mal sorris, sorris, adormecemos abraçados, Um. os dias, as horas, os anos, já nada me dizem, vivo para as madrugadas Contigo, onde o meu Mundo se torna real e o meu Mundo és Tu: aí, Mulher-plena, deslizo pela Foz e saio para a Luz do Mar. regressar à foz é-me cada vez mais difícil, um dia abandono-me à Loucura, tão frágil a fronteira, prefiro as sombras, idealizo-Te? não, és Tu sem mácula, sem dor, como vieste ao mundo a primeira vez, não nesta vida, a primeira de todas, o que vejo em Ti e desejo absolutamente e está fora do meu alcance, Tômâ. e no entanto, todas as madrugadas, chego lá, a Ti, e não há mácula nenhuma, é apenas Fogo e Terra a derramar-se na Água, que então se ergue e dança no Vento, Um.

sábado, 25 de julho de 2009



Um dia renasceu e tinha um irmão. Por causa desse irmão, esqueceu-se também de quem era. Cresceram juntos. Nas horas livres, corriam pelas praias atrás das gaivotas e dos caranguejos, deslizavam nas rochas cobertas de algas verdes e macias, coleccionavam conchas. Viviam na ponta mais ocidental da terra, para além da qual só havia mar. Uma terra ainda livre e intocada. O povo era rude e taciturno, a paisagem agreste, a comida escassa. À medida que crescia, recuperava os seus dons. Aprendeu a curar com mãos e plantas. Os campos tornaram-se férteis e a água doce brotou das rochas. As flores desabrochavam nos caminhos que pisava. Não havia lobo que comesse uma ovelha na sua presença. Quando atingiu os quinze anos, tal como a água brotara das rochas, também três rios prateados nasceram entre os seus cabelos negros. E foi então que chegaram os padres. Vinham vestidos de escuro, com capuzes e cruzes e rodeados de cavaleiros vestidos de ferro. Quando os viu pela primeira vez, mil pássaros enlouqueceram dentro dela e a sua energia estilhaçou-se, como vidro quebrado.

- O que tens? Perguntou Idevor, a remexer na areia com um pau.
Viria limitou-se a abraçar os joelhos com as mãos e nada disse. O mar espraiava-se diante dos seus olhos, prateado, ondas brancas quebravam-se lá mais longe, o céu carregado a ameaçar temporal. Mas os olhos escuros do irmão fitavam apenas a areia revolta nervosamente pelo pau.
- Não queres ir à missa, no domingo? Mas o pai diz que tens de ir.
- Não percebo nada do que eles dizem., respondeu Viria finalmente. Falam em latim. Porque é que tu vais? Também não percebes nada.
Tentou abraçar o irmão, mas este levantou-se, subitamente, rejeitando os seus braços magros e atirando furiosamente o pau na direcção das ondas.
- Dizem que és bruxa!, atirou-lhe, a voz alterada. E afastou-se rapidamente, deixando-a completamente só. Como quase sempre estivera.

O traje de serapilheira feria-lhe a pele delicada. Os longos cabelos negros tinham sido primeiro cortados e depois arrancados com ódio, mas nem mesmo assim tinham desaparecido os três rios de prata que lhe tinham nascido um dia da alma, que mais pareciam agora três cordões de estrelas. Olhou para trás uma última vez, para o irmão.
- Idevor… a voz falhou-lhe, espantada, na garganta.
- Esse já não é o meu nome!, respondeu-lhe o irmão, a voz seca, os olhos negros a espreitarem por entre o capuz de monge. Os dois soldados, vestidos de ferro da cabeça aos pés, torceram-lhe os dois braços, arrastando-a tão violentamente que lhe deslocaram um dos braços. Mas ela não tirava os olhos do irmão. Pensou Viria também nunca foi o meu nome. Murmurou para si mesma, uma vez mais, o nome do irmão. Idevor. Mas nenhum som saiu da sua garganta. O irmão atirou o capuz para trás, fitando-a e, para seu grande espanto, fitava-a com um profundo amor, como se fosse o seu salvador. Um amor rasgado pela dor. Como estás errado, Idevor… meu Tômânem com espadas, nem com palavras, nem com cruzes ou fogueiras… não adivinhaste ainda o único caminho para a Luz? Tu, que és Luz? E foi este o seu último pensamento, pois um dos guardas deu-lhe um pontapé tão forte na cabeça, que desmaiou. O que sofreu de seguida distorceu-lhe a alma, que só despertaria de novo passados mais de mil anos.


quinta-feira, 16 de julho de 2009


A desidratação torna-nos quebradiços. Podemos partir-nos em milhões de pedaços e nem dar por isso ou tal ser extremamente doloroso. Para lidar com a desidratação temos de a enfrentar como uma desconstrução e não aproveitar nenhum pedaço daquilo que se partiu. O cálice parte-se, sim. Mas era um cálice de terra, Inês. Barro. Era um cálice imperfeito. Temos de reconstruir-nos, agora, e sim, podes usar o barro, mas tens de o amassar com luz. Inês escutava Alaïs atentamente, o corpo trémulo e dorido, tinha frio e tinha medo, mas escutava-a. Sabia tudo o que tinha de largar e não era fácil. Já não tinha mais lágrimas, rios e mar estavam secos. A luz existe na escuridão, tal como a eternidade existe no tempo. Com o teu corpo formas uma cruz, abraças e colhes, abraça e colhe, mas lembra-te, o que colhes não é aquilo que abraçaste. Abraças no plano do barro e colhes no plano da luz. Só assim poderás construir o cálice perfeito. Pois é assim que se amassa o barro com a luz.


domingo, 12 de julho de 2009


Não há calor nem frio neste sítio onde me encontro,
nem luz nem escuridão. Apenas breves sombras
acinzentadas, como pálidos braços
de nevoeiro ondulantes, talvez serpentes adormecidas,
cujos dentes se tenham enterrado no sangue


outrora vermelho, agora igualmente cinzento,
espesso, enlameado.
Não há sentimento ou emoção,
apenas uma espécie de anestesia,
paralisia ou desaceleração, quase morte.
Não existe sequer peso ou leveza,
ou chão, ou caminho ou horizonte ou paisagem,
nem mesmo o tempo aqui sobreviveu.
Não existe vida. No entanto, existe algo.
Eu estou aqui e não estou morta.
Mas não há som, nem tacto, nem cheiro,
apenas a memória do sabor numa certa humidade
na boca e os restos de uma visão queimada.
Não estou adormecida. Não estou acordada.
Nada sinto. Estou mortalmente cansada.
Pedra vegetal. Dormente.


De repente fui despertada por guinchos horríveis. Só então me apercebi de que adormecera também. Os guinchos provêm da alma, que se contorce, perdendo gradualmente a forma, enquanto o punhal se crava no ser. As asas já não existem. Os guinchos são como os de uma criatura recém nascida, abandonada, esfomeada. Tento não ouvir. O tempo restabelece-se, toda a paisagem se desfaz, cores violentas invadem a minha sensibilidade. Tento ainda segurar o cabo do punhal, mas em vão, pois o cabo desfaz-me uma parte da mão. Enterra-se cada vez mais firmemente na alma, que se parece cada vez mais com um trapo sujo. O punhal desaparece e tudo fica silencioso. Em estado de choque, fito o que sobrou, na luz cinzenta. Fiapos negro-azulados de uma qualquer coisa. A coisa rasteja agora, em direcção ao corpo. Continua viva. Cobre todo o corpo, enquanto a mente enlouquece por um instante, e a coisa penetra nele, no corpo, pela pele, sem dor. À medida que o corpo cai, lentamente, na neve, a luz regressa. O tempo faz-se ouvir de novo. A mente adormece. Estamos no cimo de uma montanha gelada. Vejo o sol a rosar o horizonte. Não há caminho. As pálpebras erguem-se devagar. O olhar do corpo é triste. Vejo-o ficar azulado com o frio, braços, mãos, pernas, pés, nádegas enterrados na neve branca. A coisa está viva dentro dele. A mente desperta e começa a trabalhar. Mas é inútil. O corpo está nú, na neve gelada. Não há caminho. Preparo-me para partir. É então que ele surge, Raziel, sob a forma de esfinge ardente, do outro lado do cume, de ocidente. Desenhou uma estrada na encosta da montanha e traz um manto sobre o dorso. Com espanto, vejo o corpo erguer-se e precipitar-se na direcção do querubim e aninhar-se sob as suas patas dianteiras. Raziel baixa a enorme cabeça e o manto escorrega-lhe do pescoço para cima do corpo. Sussurra um nome, que não consegui escutar. O corpo adormece de novo, enrolado no manto. Raziel parte. Durante sete dias e sete noites, o corpo não se move, mas respira, e ouço a mente a trabalhar. No amanhecer do oitavo dia, o corpo ergue-se, enrolado no manto e vira-se para trás, o olhar gelado fixo em mim. Com voz rouca, murmura: Vens? Sem palavras, volto a fundir-me com o corpo e a mente e desço com eles a montanha, pela estrada calcinada que Raziel deixou aberta. Da alma, nem sinal.

sábado, 11 de julho de 2009


Senhor das Palavras, não te quero aqui.
As palavras que te roubei estão mortas.
Eu também.

Recebeu, no seu regaço, as palavras que não lhe eram destinadas. Por elas se apaixonou perdidamente, embalou-as, deu-lhes peito, beijou-as, acariciou-as, explorou-as, bebeu delas, fez amor com elas uma noite atrás da outra, como louca que era, como uma ladra, como uma perdida. As palavras definharam no seu colo, nunca se transmutaram, nunca cresceram, nem sequer falaram. Pertenciam a outra, uma qualquer, pouco lhe interessava, apenas a queria desviva, a essa outra, a bruxa dele.

Até que a realidade a trespassou de lança, como a um estafermo de barro fresco, ao ver as palavras secas a corromperem-se entre os dedos famintos. Pegou então no que restava delas, pedaço a pedaço, e devorou-as, mastigou-as raivosamente, rasgou-as com os dentes caninos, triturou-as com os molares, desfez o resto em papa com a acidez da saliva e tentou cuspi-las. As palavras, vingativas, invadiram-lhe as entranhas e penetraram-lhe no sangue. Agora, deliciadas, vampirizam-lhe o corpo e a vida, devagar, muito devagar, com o prazer deleitoso, profundo e egoísta das mortas-vivas.



sexta-feira, 10 de julho de 2009


Ezequiel 10:14


E cada um deles tinha quatro rostos:
o primeiro, era o rosto de um touro
e o segundo o rosto de um humano,
e o terceiro o rosto de um leão
e o quarto o rosto de uma águia.

Árvore da vida
irmã, guardo-te com a flama,
quatro nomes e quatro rostos, terra,
mar, fogo e vento.
Onde está o meu irmão?
Não há abraço
na mentira.
Sobra o fogo:
keruvim araiot.
Cálice de luz, sei
todos os nomes, encontrarei
o que te perdeu,
será teu,
na tua
mão.

A alma não acorda. Já tentei várias vezes arrancar-lhe o punhal que tem cravado entre as frágeis asas, mas em vão. O punhal é estranho. Parece cristal, mas não é sólido. Cada vez que tento puxá-lo, enterra-se mais e estende pelas costas da alma uma espécie de pequenos tentáculos de água, que seguram as asas de encontro às margens delicadas do ser etéreo. Retiro a mão e os tentáculos desaparecem. Não são realmente água. Já tentei senti-los. Estão muito quentes e emitem luz, como se fossem de matéria plasmática. O corpo e a mente já acordaram. Só me falta acordar a alma, mas sem tirar o punhal, não consigo. Pela primeira vez, não sei o que fazer. Preciso compreender como surgiu este punhal e de que material ou energia é feito. Sem a alma, não sei para onde vamos. Já descansámos o suficiente. Posso abandoná-los aos três e partir, mas sei que ainda não chegou o tempo. Estou agora aqui confinada a este espaço, onde existe apenas uma estranha mistura de penumbra e claridade. Senti-a sonhar, a noite passada. Invocou Raziel. Não faço ideia o que pretende do querubim. Não se devem invocar os querubins sem mais nem menos. Mas como a tonta, como de costume, não sabe o que está a fazer, resta-me esperar. O corpo recupera devagar, mas de forma segura. A mente, a mais cobarde de todas, ainda treme. Aqui o tempo foi silenciado, o que ainda me preocupa mais, pois sem a música do tempo não faço ideia se isto pode ter um fim. Isto, este intervalo forçado num buraco do tempo, com a alma a dormir, o punhal cristalino enterrado entre as asas. Não que esteja desconfortável. Só me sinto incomodada. A maior parte da luz que aqui existe vem do punhal. Não gostava que ele se apagasse. Mas sei que tenho de arranjar uma forma de o arrancar ou de o enterrar de vez dentro da alma. Só que não sei se ela poderá voar com o punhal enterrado lá dentro. É importante compreender primeiro as coisas antes de lhes tocar ou de as forçar a algo. E a única forma absoluta de compreensão é através do amor. Tento amar o punhal, mas não consigo. É demasiado estranho. Nunca vi tal coisa. Vou ter de aguardar. Sento-me e dou pequenos toques na alma. Nada. No sítio onde depositei os toques, surgiram pequenos jasmins brancos. Suspiro. Sinto pela primeira vez com dor a ausência da música. O silêncio dói. Mas isso já eu sabia.

terça-feira, 7 de julho de 2009


No man is an island, entire of itself;
every man is a piece of the continent, a part of the main.
If a clod be washed away by the sea,
Europe is the less, as well as if a promontory were,
as well as if a manor of thy friend's or of thine own were.
Any man's death diminishes me, because I am involved in mankind;
and therefore never send to know for whom the bell tolls; it tolls for thee...

John Donne, Meditation 17, Devotions upon Emergent Occasions


Quando não tenho que lidar com os teus temporais, tudo no meu universo fica mais tranquilo. A minha dança apazigua a tua eterna deslealdade. Mãos como raízes, braços como ramos, pés como frutos. A dança é fluida. Véus de vento, água e luz cobrem a terra. Pequenas línguas de fogo despertam no núcleo; a sua extrema intensidade transforma os metais e regula os pólos; a sua delicadeza poupa as árvores.

Talvez um dia consiga despertar-te desse sono profundo. Melhor ainda... talvez um dia despertes por ti e por aqueles que precisam de ti. E esqueças as meras questões mundanas que nos separam.

As aves marinhas voam à altura do meu olhar, agora sereno. Como cenário de fundo, uma cidade ao crepúsculo, uma foz, um rio, o mar cor de prata, os tons azuis, roxos e rosa do sol que desaparece na orla do planeta, que por vezes parece perdido... As luzes vão-se acendendo uma a uma, ofuscando as estrelas, e os sinos tocam. São dezoito horas e trinta e dois minutos. Porque tocarão os sinos? Talvez por mim, como tão bem escreveu John Donne. Não deixa de ser uma hora estranha para eles tocarem. Agora, que me sentei a escrever, enquanto anoitece. Tocam por mim, com certeza.

Hoje não sei qual de mim sou. Estou numa cidade estranha, mas ao mesmo tempo familiar, onde não há táxis. As aves continuam a voar à altura dos meus olhos, assim levam-me com elas, estou precisamente no sétimo piso, no plano exacto do vôo tranquilo do crepúsculo, antes que adormeça tudo o que é natural e ao dia pertence. É um óptimo plano para se estar. Mas continuo sem saber qual de mim sou e que partes de mim estão acordadas e quais dormem. Talvez seja por estar numa cidade estranha, talvez nada em mim durma ou nada em mim esteja acordado, se quando viajo estou sempre no plano do sonho, afinal no plano do vôo, afinal longe, até de mim.

Estou rodeada de mogno, seda, cabedal, aço, de tons castanhos, creme e côr de vinho maduro. Quente e confortável. Sólido. Não era necessário tanto para voar. Mas por vezes acontece. Talvez ainda não esteja pronta para voltar a andar de pés descalços. Ainda tenho as plantas dos pés queimadas. Talvez por isso os sinos toquem. Talvez pela morte de alguém. De alguém que sou. Pois sou todos os que já existiram e existem e virão a existir. Ou talvez apenas pelas plantas dos meus pés.


Tudo dorme. Escuto agora este silêncio que parece ter coberto todo o universo. Similar a um coração que pulsa, mas sem som. Não sinto nenhuma vibração. Os laços estão rompidos. Flutuam à minha volta como fitas de organza de um branco sujo, as pontas chamuscadas. Parecem agora tão frágeis. Isolei-me num oceano de tranquilidade. O oceano brilha e nele foi traçado um caminho de luar. As últimas memórias tombam sobre o silêncio, como folhas de inverno. Foi tudo em vão.

Vou reaprender a dança do leque no fim do silêncio. Serão os primeiros sons que escutarei. Durmo. Sei que durmo, aninhada no peito de alguém. Talvez no meu próprio. O leque aberto rasga, fechado é punhal. O leque é vermelho. Visualizo o leque a rasgar o ar, aberto. O leque torna-se o centro de gravidade do corpo. Estou dentro do leque, por isso o corpo dança à volta dele desenhando formas improváveis. O leque liga o céu e a terra. É um leque muito bonito. Sim, durmo. Sonho. O corpo à volta do leque, sem música, porque este silêncio nasceu da última lágrima. Vou ter de me habituar a escutá-lo, ao silêncio. Será o coração que pulsa sem som dentro da música do leque. Os movimentos do corpo são belos.

Vou para um nível de sono mais profundo. O oceano brilha e flutuo, adormecida, sobre os braços nele traçados do luar. Até as estrelas se silenciaram. Este é o silêncio do verdadeiro princípio. Ventre.


Preciso de um mundo vazio, agora. Quarenta dias num deserto. Não me sinto bem em lado algum. Não me sinto bem ao lado de ninguém. O temporal lá fora fustiga as árvores contra as paredes velhas e por caiar da casa. Os ramos a arranharem a parede do meu quarto recordam-me as unhas grossas de gigantescas e carnívoras criaturas ancestrais. Chove. Diluvianamente. Há já alguns dias. O vento chegou hoje, frio, gelado, forte. Receio pelos botões na amendoeira. As tangerinas são sacudidas e arrancadas dos ramos e rolam pela erva, como pequenas bolas macias. A alma parece adormecida. Cansou-se. Na véspera da partida, dorme, enrolada no peito do ser. O corpo, enfim em paz, também só quer dormir. Como a mente. Estão os três em perfeito equilíbrio de sono. Mas eu continuo desperta. Não durmo, não descanso. Aprendi que, tal como n'A Fada Oriana (*) , as asas só aparecem quando precisamos delas. Só é necessário não esquecer que as temos e não termos medo de saltar. Quero um mundo vazio, onde dormir. Um deserto branco e luminoso. O vôo também me cansou, mas não consigo dormir neste mundo. Faltam-me árvores. Já não há árvores suficientes. Sete árvores para cada ser humano. É o que é necessário para repôr o ar que respiramos. Sei que neste momento as árvores já não são suficientes. E matamos mais todos os dias. Preciso retirar-me, agora, deste mundo e partir para outro. Um que seja branco e vazio. Durante quarenta dias. Já que a alma, a corpo e a mente dormem, separá-los-ei, gentilmente, e levarei apenas a alma comigo. Nenhum deles dará por nada. Quarenta dias num deserto branco. Tomarei banho numa cascata de luz, lavarei os cabelos com água primordial, enrolar-me-ei depois num manto de nuvens aveludadas, deixar-me-ei cair suavemente na areia, tão fina, que mais parece algodão, regressarei à eterna posição de embrião e fecharei os olhos. E adormecerei também, com a alma aninhada no meu peito.

(*) Conto infantil de Sophia de Mello Breyner

domingo, 5 de julho de 2009


O tempo não existe, mas nenhum destino se cumpre sem ele. Porque será? O tempo existe, porque o criámos. Para quê? O tempo torna tudo curvo e redondo e esférico, dobra, dobra-nos, obriga-nos a circundar, a circunferenciar, a rodar, a acelerar e a desacelerar. O tempo consome-nos a energia, mata-nos as células, afasta-nos daqueles que amamos, murcha-nos as mãos e devora-nos a alma. Envenena-nos, ilude-nos, escraviza-nos, derrota-nos. O tempo, existe ou não? O que é o tempo, afinal?

O tempo... são mãos, criadoras, educadoras, castigadoras... mãos, que moldam barros, cortam joio, cavam leitos de rio, amassam pão, pisam uvas, fundem metais, desenham artes, dominam o fogo, rasgam sem compaixão os trilhos da nossa vida... mãos. O tempo são as nossas mãos. Delas surgiu o tempo, como da batuta de um maestro, e só se silenciará quando a música der lugar ao deslumbramento.




A casa está cheia de lama. Chove lama dos céus. Agarro-me ao muro, sei que devia ter asas, mas não as sinto. As mãos escorregam, caio, sei que vou estatelar-me redonda no chão... e voo. Rente ao chão que me não quebrou. Há lama por todo o lado. Corpo esguio, enlameado, também. Não saí incólume. Pesa-me o corpo e apesar das asas, voo junto aos rios de lama no fundo, tudo cinzento e escuro, perdido, a espada segura junto ao corpo, fina, a única fonte de luz. Não há vivalma. Estou pele e osso... e alma. Leve, leve, não consigo erguer-me. Sei que chegou a minha hora. Foi para isto que nasci uma vez mais. Leve, leve, leve, magra, muito magra, uma corrente de ar soergue-me. Voo alto, agora, sobre a copa das árvores. Sei que nasci para isto. Não tenho medo. Faz um mundo melhor para os teus. Os meus partiram todos. Mas fiz um mundo melhor para eles. Protegi-os. Ama o teu próximo... o teu próximo... como a ti mesma. Tinha ouvidos. Escutei e obedeci. Obedeço apenas a um, que se chama Amor. O nome da minha espada. Assustou os ogres, apenas barro. Agora. É agora. Estou livre. Não voltarei aqui. Mas esta é a minha batalha final. A causa perdida da minha alma. De alfa a ómega. Armagedão. Lutarei pela última alma, até contra ti, Miguel.

sexta-feira, 3 de julho de 2009


Há ogres a prenderem-me os calcanhares. Estão famintos. A fome deles é desmedida e desproporcional. Terei de roer as minhas próprias pernas para partir? Que falta me farão as pernas? Tu não me agarras os calcanhares. Mas estás no meio deles, insensível e indiferente. Sempre soube que serias a minha perdição. Mas ainda luto. Lutarei até à morte. Lutarei até que a fibrose me impeça de respirar. A morte é a minha última saída. Não a temo. Somos amigas. Os ogres, fêmeas e machos, babam-me os pés nús, o olho cego no meio da testa, os dentes como moedas de dois metais. Têm uma fome que não terminará nunca. Cobiçam-me as asas, e o amor, que se faz sangue irascível e me esmurra o peito com cada batida.

E a tonta da alma, que continua a cantar... a mente desistiu... o corpo já não se levanta, as manhãs tornaram-se noites profundas, sem estrelas, de sono cobertas, como pesados mantos de indiferença.

Sinto o rosto a arder, agora. É da lama. Enterro nela as mãos. A lama está quente, macia, cinzenta, quase barro. Dói-me o pescoço, da tensão. Penso em pousar a cabeça. Enquanto a alma cantar, ainda espero. Talvez com a boca consiga ainda fazer uma espada do barro que se prepara para me enterrar.


Porque tu já não estás aqui. Nunca estiveste. E o dia da minha partida aproxima-se. Por isso, quero escrever-te, não direi que pela última vez. Quero escrever-te agora, que já partiste e eu ainda aqui estou, de pés descalços, alma, mente e corpo em total desalinho, desalinhados do espaço e do tempo, em desarmonia comigo e contigo, as malas de vento prontas, só vento, pois nada mais possuo para levar comigo. E o vento sopra-me no rosto, por vezes gelado, outras apenas frio, e traz o cheiro do rio e do mar e da humidade das ruas e prédios e dos corpos dos outros, que passam. E tu já não estás aqui. Assim, parto sem poder despedir-me, mas também não gosto de despedidas, embora esteja sempre a despedir-me, mas só eu sei como as odeio, às despedidas. E estas cores com que pintei a vida, gostava de ver-me livre delas, mas não consigo. Queria apenas dizer-te as palavras que já não tenho ou a única palavra que não disse, a única que verdadeiramente importa, mas também sei que não a direi. Não vale a pena dizer uma palavra que morre na minha boca uma e outra vez porque não a ouvi da tua. Essa palavra não a direi. Faz-se tarde. Se não me encontrares, procura-me no vento, ou não me procures ou procura-me sem me encontrares, ou procura-me e encontra-me, mas será que estarei aqui? Obrigada, queria dizer-te obrigada, por ter-te encontrado, mesmo tarde, por te ter conhecido, por teres cruzado a minha vida ou teres-me deixado cruzar a tua, por breves instantes. Um dia a palavra saiu-me, mesmo morta, viva, sete vezes sete vezes noves fora quatro, quatro foram as luas durante as quais caminhámos lado a lado e saiu-me. Doeu-me a palavra, saída assim da boca, não, da alma, não, do corpo, não, de todo o meu ser, uma palavra surda, sem som, que se perdeu e não ouviste. Não peço mais perdão. A alma, porque é tonta, ouviu palavras da tua boca que não existiam, leu loucuras onde havia apenas bom senso. O corpo devorou o silêncio das palavras mortas. A mente tentou equilibrar as coisas, em vão. Dói-me não estares aqui. Fico feliz por não estares aqui. Estas são as não-palavras. Não sobrou nada. Não sobrou nada. Pego no vento, sinto o vento outra vez. Não. Vejo o futuro. Não estarei lá. Nem tu.

terça-feira, 30 de junho de 2009


Acho que a minha viagem está prestes a começar. Não foi agradável ler o sinal. Até a tonta da alma se assustou. A mente nem se fala. Quanto ao corpo, fez o que costuma fazer nestas alturas. Chorou. Confio mais na alma. Inquieta, espontânea, facilmente empurrável, nem sabe ler. Mas sentiu quando eu li. O susto durou pouco tempo. Agora esperamos todas pelo desfecho. Desta vez vai ser uma longa viagem. E iremos de mãos quase vazias. Não sabemos o que está no fim do caminho. Mas sabemos que o caminho será difícil. A mente luta entre preferir ser vítima a carrasco e a prudência aprendida nos bancos da vida. A alma não se vitimiza, canta take the money and run. O corpo lambe as feridas, pulmões quase sem ar, garganta arranhada, noites e noites sem dormir. A Primavera está a chegar. A nossa viagem vai iniciar-se na Primavera. Partiremos com as flores. As dores cairão pelo caminho, carregos pesados. Ainda temo pela alma... ainda temo... mas é tão idiota que talvez sobreviva. Talvez um dia regresse a ti. Ou talvez ainda esta viagem seja apenas para ir ao teu encontro. Porque tu já não estás aqui. Nunca estiveste.

folhas soltas

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