Há ogres a prenderem-me os calcanhares. Estão famintos. A fome deles é desmedida e desproporcional. Terei de roer as minhas próprias pernas para partir? Que falta me farão as pernas? Tu não me agarras os calcanhares. Mas estás no meio deles, insensível e indiferente. Sempre soube que serias a minha perdição. Mas ainda luto. Lutarei até à morte. Lutarei até que a fibrose me impeça de respirar. A morte é a minha última saída. Não a temo. Somos amigas. Os ogres, fêmeas e machos, babam-me os pés nús, o olho cego no meio da testa, os dentes como moedas de dois metais. Têm uma fome que não terminará nunca. Cobiçam-me as asas, e o amor, que se faz sangue irascível e me esmurra o peito com cada batida.
E a tonta da alma, que continua a cantar... a mente desistiu... o corpo já não se levanta, as manhãs tornaram-se noites profundas, sem estrelas, de sono cobertas, como pesados mantos de indiferença.
Sinto o rosto a arder, agora. É da lama. Enterro nela as mãos. A lama está quente, macia, cinzenta, quase barro. Dói-me o pescoço, da tensão. Penso em pousar a cabeça. Enquanto a alma cantar, ainda espero. Talvez com a boca consiga ainda fazer uma espada do barro que se prepara para me enterrar.
Laura,
ResponderEliminará medida que os seus textos
vão surgindo,vou-me dando conta
que será um possível livro?Um conto...
Era uma excelente ideia.
Abraço
PS.será que hoje consigo deixar
o comentário?:)
Cara Ana,
ResponderEliminarA Viagem da Alma é um pequeno conto, que um dia poderá vir a ser integrado num maior, que estou a escrever.
Uma Mulher na Foz de um Rio, ainda não sei, se ficará também um pequeno conto ou crescerá.
Nunca sabemos onde a escrita nos leva...
Livro não, não creio.
Obrigada e abraço,
Laura