terça-feira, 29 de dezembro de 2009
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Sofia
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terça-feira, dezembro 29, 2009
Talvez a melhor resolução que possa tomar agora é viver no agora. Agora é onde estou. Agora é o que sou. Agora. Desejo a todos um bom despertar Agora.
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Chogyam Trungpa Rinpoche
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sexta-feira, 18 de dezembro de 2009
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Sofia
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sexta-feira, dezembro 18, 2009
um pesado tempo quotidiano
onde os gestos se esbarram ao longo do ano
De um amor morto não fica
nenhuma memória
o passado se rende
o presente o devora
e os navios do tempo
agudos e lentos
o levam embora
Pois um amor morto não deixa
em nós seu retrato
de infinita demora
é apenas um facto
que a eternidade ignora
Sophia de Mello Breyner Andresen
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Sophia de Mello Breyner
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quinta-feira, 17 de dezembro de 2009
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Sofia
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quinta-feira, dezembro 17, 2009
Mas para que serve o pássaro?
Nós o contemplamos inerte.
Nós o tocamos no mágico fulgor das penas.
De que serve o pássaro se
desnaturado o possuímos?
O que era vôo e eis
que é concreção letal e cor
paralisada, íris silente, nítido,
o que era infinito e eis
que é peso e forma, verbo fixado, lúdico
o que era pássaro e é
o objeto: jogo
De uma inocência que
o contempla e revive
- criança que tateia
no pássaro um esquema
de distâncias -
mas para que serve o pássaro?
O pássaro não serve; arrítmicas
brandas asas repousam.
Orides Fontela
Fotografia de Todd Gipstein para National Geographic
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Orides Fontela
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Todd Gipstein
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Sofia
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quinta-feira, dezembro 17, 2009
E aqui fica o registo.
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Do Mundo
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Sofia Raposo de Almeida
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terça-feira, 15 de dezembro de 2009
por
Sofia
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terça-feira, dezembro 15, 2009
Deito-me tarde
Espero por uma espécie de silêncio
Que nunca chega cedo
Espero a atenção a concentração da hora tardia
Ardente e nua
É então que os espelhos acendem o seu segundo brilho
É então que se vê o desenho do vazio
É então que se vê subitamente
A nossa própria mão poisada sobre a mesa
É então que se vê passar o silêncio
Navegação antiquíssima e solene
Sophia de Mello Breyner
Vi no silêncio / navegação antiquíssima e solene de Sophia um cisne adormecido embalado nos braços do rio da noite.
É bom quando os cisnes dormem. A minha filha-demónio, que tem de crescer rapidamente, só viu os cisnes adormecidos. Eu já os vi acordados, um branco e um preto, quebram-me o sono com pesadelos, um cisne branco e um cisne preto enrolados como um novelo em fúria a tentarem matar o pato, um pato tão esmagado pelos cisnes que não lhe vejo a cor.
No pesadelo o pato chamou-me, os patos gritam? choram? e fomos as duas de mãos dadas à procura dele no lago, a criança muito pequena, os olhos enormes, um vestido branco de algodão. Olhámos para o lago vazio à tona e foi quando vimos as três aves afundadas, bem no fundo do lago, e a criança-demónio atirou-se à água, tentava salvar as três aves, tentava salvar os cisnes daquele ódio impiedoso pelo pato, tentava salvar o pato dos cisnes e eu agarrei a criança pelos pés, perdeu a consciência assim que o seu pequeno corpo caiu na água, tentava salvar as três aves, duas a morrer de ódio e a outra a morrer do ódio das outras duas, as três aves num abraço violento e mortal, tanta tensão, tanta força nos pescoços dos cisnes, como serpentes em redor do corpo do pato e eu tentava salvar a criança da dor, não lhe largava os pés, precisava segurar-lhe a cabeça, agarrava-lhe os pés, não a queria perto das aves, já estavam mortas, as aves já estavam mortas.
Não devemos tentar salvar os que já estão mortos, segurava a criança-demónio contra o peito e dizia-lhe, não morras a tentar salvar os que já estão mortos.
É bom quando os cisnes dormem, minha filha-demónio. Não os acordes. Cresce, mas não acordes os cisnes adormecidos.
Pintura de Frankie Welk
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prosas
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Sofia Raposo de Almeida
,
Sophia de Mello Breyner
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domingo, 6 de dezembro de 2009
por
Sofia
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domingo, dezembro 06, 2009
ou de uma parte dele que está pelo todo
e fora dos eixos do mundo.
Rodas a partir da cintura, estendes um braço,
há um músculo que se ilumina, uma onda
vertical em que tu própria te subisses;
então uma perna flecte-se, e o outro pé fica em ponta
oblíquo sobre o mundo que nesse instante
se suspende.
Há uma rotação do teu corpo –
Andas pela casa: és um leve rumor sob o silêncio
um rumor que alumia a sombra silenciosa;
na sala, o homem quase surdo quase cego
ouve-te, julga reconhecer-te: vens aí.
Estás aqui. O intervalo de tempo já começou:
há uma rotação no teu corpo
que me exclui do mundo e
entretanto é feita para mim; atinge-me
à velocidade da luz.
E eu o homem quase surdo quase cego
sou tomado pelo vento do fogo que me consome
até ser apenas a última brasa: pequenas ravinas de luz
o incêndio restante sob a exausta crosta da terra
Estavas, estiveste ali.
O tempo recomeça.
Apareces e desapareces.
Como a luz do farol disparando no céu sobre as casas
ou como o anúncio luminoso do prédio em frente
que varre intermitente a obscuridade do quarto no filme.
Quando voltará?
É como se soubesses
que voltará, sim, e que não, não poderá voltar.
Quando, e se voltar, serei eu talvez
quem já lá não está. Quando
é quando?
Quanto tempo ainda poderá o mundo voltar
à possibilidade dessa forma?
Manuel Gusmão (excerto)
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Manuel Gusmão
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quinta-feira, 3 de dezembro de 2009
por
Sofia
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quinta-feira, dezembro 03, 2009
madalena já não sabia o que fazer a tantos vidros partidos dentro dela, se pudesse, abriria a porta e mudava de casa, mas não podia. havia vidros por todo o lado, algo de realmente grande parecia ter-se estilhaçado dentro, os vidros estavam por todo o lado e eram tão reais que lhe perfuravam o corpo e ela via-os, mas mais ninguém os via. os piores eram os que saíam pela parte de trás do pescoço, mas também espreitavam pelos pulsos, pela nuca, atrás dos joelhos, por entre os dedos dos pés e das mãos, debaixo dos olhos... madalena não compreendia as pessoas, diziam-lhe: estás mais bonita, estás tão bonita. olhava para o espelho e via as pequenas rugas no canto exterior dos olhos a sangrar e aquelas enormes manchas escuras a alastrarem dos olhos para as faces e todos os vidros a romperem-lhe a pele. onde estava a vassoura e a pinça? precisava extirpar os vidros, varrê-los, fazer algo para se ver livre deles, mas era tão imenso o que se tinha estilhaçado, era todo o seu ser interior, tudo o que estava por dentro estava partido, só agora descobrira que o seu interior era todo feito de vidro, frágil, frágil, frágil, como era possível que os outros não vissem? estás tão bonita, insistiam eles, tens uns olhos tão brilhantes. não conseguia olhar para o espelho, ficava horrorizada, mas o pior eram as dores. as dores eram terríveis. respirar tornara-se uma agonia, pois sentia os vidros também nos pulmões, os movimentos, quaisquer que fossem, rasgavam-na um pouco mais, cada um, um pouco mais, era mais um vidro que se espetava nela, abrir a porta e sair, quero sair, mas não havia porta, apenas milhares de rasgões e tudo partido, e todas aquelas coisas a morrerem dentro dela, os órgãos, talvez, sentia as coisas a morrerem, como se dentro dela morresse uma árvore ou um pássaro, algo outrora vivo e grandioso, agora a apodrecer e todos tão cegos, cegos, talvez os estilhaços mais pequenos tivessem saltado para os olhos dos outros, de todos os outros, pelo menos não precisava esconder, mas aquelas coisas a morrerem todas dentro dela e os vidros espetados, finalmente descobriu a porta, arrancou com toda a força o bocado maior de vidro, o que saía do pescoço e espetou-o do lado esquerdo do peito. seguiu-se uma explosão de pó de vidro e acabou tudo.
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prosas
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Sofia Raposo de Almeida
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