as almas, os pássaros

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sábado, 24 de janeiro de 2009



Um filme de Luc Besson com música de Eric Serra. Um filme sensível e visualmente belo, que retrata a diferença e o isolamento que ela provoca, a amizade e a obsessão para além da vida.

sábado, 10 de janeiro de 2009

Um dos seus fornecedores tinha-lhe deixado, nessa manhã, o pequeno calendário, em formato de cartão de crédito. O seu primeiro impulso fora deitá-lo fora, mal o fornecedor virara as costas. Mas, sem saber porquê, acabara por colocá-lo no bolso do casaco. Chegado a casa, um pequeno estúdio no último andar de um prédio debruçado sobre o mar, tirara o casaco e a data surgira-lhe diante dos olhos, a dançar, como uma visão. Vinte e oito de Abril de dois mil e oito. Retirou o calendário do bolso do casaco, enquanto descalçava os sapatos. Não o largou enquanto se dirigia ao pequeno bar, retirava um copo e o enchia de Jack Daniels. Duas pedras de gelo retiradas do congelador. O copo numa das mãos, o calendário na outra, dirigiu-se à varanda, que era o melhor que a casa tinha e abriu as janelas de par em par. O mar era todo ele marés vivas e as nuvens rolavam pelo céu a alta velocidade, como fardos prateados, brancos e cinzentos de algodão. Sentou-se na cadeira, bebeu meio copo e fitou de novo a data. Tinham-se passado quinze anos e Tomás não sabia como. O que é que interessa o que pode ou não acontecer? O tempo não perdoa. Após se ter ultrapassado o cume da montanha a que chamamos vida, para baixo é sempre a escorregar. É tão rápido, que mal temos tempo de respirar entre o cair dos anos. Este ano tinha ido às Caraíbas, mas só conseguira pensar no sonho de ambos, do qual ambos se tinham afastado, seguindo caminhos diferentes. Escrever, precisava de escrever, há anos que não escrevia. Continuava a precisar do mar. Aprendera a sobreviver sem quase tudo o que era importante, mas não sobreviveria sem o mar. Nada o prendia. Nem mulher, nem filhos, nenhum compromisso, sempre achara que esse tipo de responsabilidade não convinha à sua loucura. Mas a vida dera-lhe a volta. Começara por colocar uma pedra no caminho, depois agarrara-lhe um calcanhar. Quando dera por ele, já estava envasado.
Os neurologistas dizem hoje que o amor não passa de química cerebral. Uma cientista dizia outro dia num programa televisivo: “Não é suposto durar. Faz-nos sentir maravilhosamente bem. É uma maravilhosa descarga de hormonas, o objectivo é o acasalamento com a pessoa certa (os genes certos). Mais tarde, as hormonas mudam e surge apenas uma sensação calma de bem estar. É o que chamamos amor. Não passa de um truque…” Claro que a cientista era americana…
Se assim é, pensava Tomás, o olhar vagueando entre o mar e o calendário, o céu e as memórias, porque é que há amor sem bem estar? Amor que dura anos e anos e cujos momentos de bem-estar se tornam cada vez mais raros, mais fugidios… A última vez que estivera com ela não sentira nada, nenhum deslumbramento, nenhuma descarga hormonal. Apenas amargura, desilusão. No entanto, continuava a preferir estar ao lado dela do que ao lado de outra pessoa qualquer. Pertenciam um ao outro, percebia-o agora claramente, com uma precisão e nitidez de gume. Há quinze anos que viviam separados. Não havia estímulo hormonal. Não havia recompensas. Já não partilhavam nada. Tinham mudado tanto os dois que às vezes se interrogava se ainda sabia quem ela era. Mas que o amor existia ainda, não tinha nesse momento dúvida alguma. Bebeu o resto do whisky de um só trago e lembrou-se daquela cena do filme Le Grand Bleu: “O que é o amor?”, perguntou um amigo a outro. “Amor é aquilo que nos mantém juntos.” Love is what keeps us together. Dito por um siciliano, claro. Mantém-nos juntos, apesar de separados. Apesar da falta de estímulos, da falta de recompensas. Um amor destes nunca morre. Por vezes transforma-se. Por vezes, na impossibilidade de ser canalizado, pela ausência, para aquela mulher, estende-se para os outros e começa a crescer como um rio por esse mundo fora… abrangendo tudo e todos, mas nunca esquecendo onde está a sua nascente.
Afinal, neste mundo, sussurrara ela uma vez, a única coisa capaz de nos salvar é o amor. Não interessa que tipo de amor é, se é o de um pai pelo seu filho ou o de um homem por uma mulher, ou o amor por todas as coisas, o amor pela vida, o amor universal. Amar, amar, não importa o quê, não importa a quem.
Só o amor cura tudo, como água do mar.

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Odeio gravatas. Ainda bem que não tenho que as usar. Olho para elas e vejo uma trela. Nem os meus cães usam trela. Considero a trela algo de humilhante, além de que eu própria não suporto nada enrolado à volta do pescoço. Olho para as gravatas e apetece-me puxá-las ou rasgá-las.

Odeio fardas, odeio fatos, odeio planos de negócios e orçamentos. Odeio analistas e economistas. Odeio planos de contingência. Odeio armas. Odeio carros. Odeio betão e alcatrão. Odeio rentabilidades e EBITDAs. Odeio o poder exercido em egoísmo. Odeio conversas de circunstância. Odeio o que fazem às crianças. Odeio a forma como o dinheiro é utilizado. Odeio os falsos sorrisos, as falsas amizades e as perguntas que não estão interessadas nas respostas.

Odeio chefes, directores e administradores e presidentes do conselho de administração. Odeio accionistas e planos de poupança.

Odeio agendas e relógios, odeio emparedamentos no tempo. Odeio grades e fechaduras e portas e janelas fechadas. Odeio modas e ditos politicamente correctos. Odeio perfumes artificiais e fast-food.

Odeio gravatas. Trelas. Mesmo as de seda. Ainda bem que não tenho que as usar.

folhas soltas

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