as almas, os pássaros

as almas, os pássaros

as almas, os pássaros

as almas, os pássaros

domingo, 30 de maio de 2010

Não serei poetisa enquanto a toutinegra não pousar nos meus ombros.

sexta-feira, 28 de maio de 2010

I choose my friends not by their skin or other archetype, but by the pupil.
They have to have questioning shine and unsettled tone.
I'm not interested in the good spirits or the ones with bad habits.
I'll stick with the ones that are made of me being crazy and blessed.
From them, I don't want an answer, I want to be reviewed.
I want them to bring me doubts and fears and to tolerate the worst of me.
But that only being crazy.
I want saints, so they dount doubt differences and ask for forgiveness for injustices.
I choose my friends for their clean face and their soul exposed.
I don't just want a man or a skirt, I also want his greatest happiness.
A friend that doesn't laugh together doesn't know how to cry together.
All my friends are like that, half foolish, half serious.
I don't want forseen laughter or cries full of pity.
I want serious friends, those that make reality their fountain of knowledge, but that fight to keep fantasy alive.
I don't want adult or boring friends.
I want half kids and half elderly.
Kids, so they don't forget the value of the wind blowing on their faces and elderly people so they're never in a hurry.
I have friends to know who I am.
Then seeing them as clowns and serious, crazy and saints, young and old, I will never forget that 'normalcy' is a steril and imbecil illusion.

Oscar Wilde


quarta-feira, 19 de maio de 2010

A água dos teus olhos acendeu-me a urgência de descobrir o sabor do céu da tua boca, marfins que estremecem, súbitos veludos de sangue a pulsar, aos murros nas veias, com pressa, as mãos com pressa de incendiar as sedas dobradas, guardadas nas gavetas, os linhos, os bordados, resguardados, escondidos, perdidos, longe, tão perto e tão longe, as gavetas, os armários onde nos prendemos, as mãos com pressa do mergulho, carícias profundas, vincos, peles molhadas, da água, marco-te a pele molhada em sonho com o punhal das unhas pequenas, brancas, pergunto: será salgada ou doce, essa água?
será água?
a minha é salgada, algo doce, é água, água, água, a minha é água, verdadeira como a água, não falo dela, não falo dela contigo, porque é água, água, mágoa, água, com a força da água antiga, quebra ossos e pedras, as mãos presas em laços negros, nós e mais nós, nós? não, apenas nós, apertados, dos laços, a ansiedade das mãos, dos braços, do corpo todo, travada na pergunta, será água? será água a tua água?
será água?
se fosse água, estavas aqui, não é água. pouco me importa o que é, não é água.
se fosse água, desatavas-me os laços negros e eu marcava-te com a concha das minhas unhas, pequenas, rosadas e não precisava de me interrogar sobre o sabor do céu.
da tua boca.

terça-feira, 18 de maio de 2010

Nem mesmo com a serpente a beber-me a raíz, maldade pura, nunca bati num cavalo. Visto o xaile negro da fadista, o punhal entre os seios, arrastando a saudade debaixo dos pés descalços, mas não bato nos cavalos. Nem quando eles escouceiam ou me atiram ao chão, mais depressa pego na chibatinha e a ferro no pescoço de outros cavaleiros. Nem com a mão, não bato nos cavalos, mas bato nos cavaleiros, com a chibatinha ou com o punhal enfiado entre os olhos, tanto faz, se é de dia ou de noite, a chibatinha para o dia, o punhal para a noite. Prefiro o punhal, a chibatinha é de uma arrogância. 
Cabra é o meu nome do meio, pensei eu hoje quando o homem me disse que os meus cigarros cheiravam bem e o olhei como se fosse lama. Se fosse ontem, ter-lhe-ia oferecido um diabinho preto, mas hoje não, cabra é o meu nome do meio, enquanto ele se enforcava com as cordas de uma guitarra. E agora vens tu, com a família, apareces-me aqui sem avisar e levas com a chibatinha ou com o punhal, talvez te atire uma panela à cabeça, o xaile negro a esvoaçar, sou portuguesa, podes ficar com elas, com a família e com a panela, não me batas à porta agora. Como se eu tivesse portas. 
Hoje reparei nas pedras, umas sobre as outras. As pedras são lentas, tão lentas que parecem mortas, mas quando se movem bebem sangue e trilham ossos. Depois surgem aqueles monumentos, naturais ou feitos pelo homem, o sangue seco entre elas, hoje reparei em todas as vidas que as pedras bebem. Também nunca bati nas pedras. As únicas pedras que para mover não matam são as esculpidas. As pedras gostam de ser amadas, mas só o artista vê nelas alguma coisa e elas deixam-se esculpir, passando fome. Não bato nas pedras, nem com punhal, chibatinha, nem mesmo com maço ou cinzel, mais depressa racho a cabeça dos capatazes, que gostam de lhes dar homens a comer ou cavalos ou bois.
Não devias vir agora, estou a mudar de pele, carrego o xaile da saudade espezinhada, o punhal entre os seios, a chibatinha entre as saias, um maço e um cinzel nos bolsos, a serpente bebe-me a raíz como as pedras outrora o sangue dos escravos, tenho este barco dentro de mim, o punhal é para o barco romper amarras.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fotografia de Johannes Hjorth
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

segunda-feira, 3 de maio de 2010

O Um foi o grande amor da minha vida. A minha alma gémea, para quem acredita em almas gémeas. Foi também o único homem perfeito que conheci. Perfeito para mim, claro. Alto, moreno, de olhos verdes, mãos grandes, boca larga, um sentido de humor surpreendente, com uma infinita paciência para o meu mau feitio e ainda por cima, um cavalheiro. E no entanto... nenhuma destas qualidades o tornava perfeito. O que o tornava perfeito é que eu era perfeita para ele. Ou seja, éramos perfeitos um para o outro. O nosso estar ao lado um do outro era diferente do estar ao lado de outra pessoa qualquer. Nós sabíamo-lo e sabiam-no os outros. Ele era a minha almofada de criança, a minha casa, o meu chão e o meu céu, o mar que me alimentava a alma e o abismo que me obrigava a mergulhar, a muralha contra a qual eu me quebrava e a origem primeira do meu vôo.  E é, ainda hoje, a razão porque ninguém me quebra, porque a água não se quebra. Ele é a nascente dos meus rios de março. E não, o texto em baixo não foi escrito para ele, foi escrito para o Dois, o das mãos pequenas, mas foi escrito na altura em que o larguei e regressei ao Um. Foi um texto de despedida. É um texto de adeus, saudade e regresso à fonte. Um texto nascido para o Dois, mas com raíz no Um. 
Todos os outros que amei depois, não apenas o Dois, eram imperfeitos. Mas não eram imperfeitos no sentido de lhes faltar algo. Eram completamente errados. Até mesmo fisicamente. Talvez exista em mim uma profunda lealdade ao Um, que me impede de me apaixonar por outro homem que se aproxime da perfeição dele e por isso procure os homens errados. Ou talvez, quando nos separamos da alma gémea, seja para aprender e crescer para além da nossa perfeição. Quem sabe se, quando nos apaixonamos por idiotas, não será para descobrir e confrontar uma certa idiotia em nós. Quando nos apaixonamos por um mentiroso, pode ser que precisemos de extirpar de nós uma réstia de mentira. Quando nos apaixonamos por um ser ordinário, talvez tenhamos de trabalhar a nossa amabilidade para com os outros. Afinal, nós éramos perfeitos um para o outro. Mas seremos perfeitos para o resto da Humanidade? Não. Separados, continuamos no entanto ligados, a crescer e a aprender separados e juntos. E agora que, uma vez mais, os meus rios de março começaram a correr, regresso à nascente neste blog, à claridade, à luz. Reaprendo o que é o Amor, mais livre, mais limpa, mais verdadeira, mais amável, mais feliz. Afinal, aqueles que, como o Um e eu, procuram o amor no Outro, procuram o divino em si. Um. Dois, Três, Quatro, Cinco... foram apenas experiências, degraus, obstáculos a ultrapassar, para que um dia possa regressar ao Um, perfeita para ele, perfeita para a Humanidade. Daqui a muitas vidas.
 

 

folhas soltas

a tua alma apontada (1) A viagem da alma (28) Agnieszka Kurowska (1) Agostinho da Silva (2) Agustina Bessa-Luís (1) Aida Cordeiro (1) Al Berto (1) Alexandre Herculano (1) Alisteir Crowley (1) Almada Negreiros (2) Amanda Palmer (1) amigos (1) Ana Cristina Cesar (1) Ana Hatherly (1) Anne Stokes (1) Antero de Quental (1) António Lobo Antunes (2) António Ramos Rosa (2) Apocalyptica (1) apócrifos (2) Arte Virtual (1) as almas os pássaros (1) As Arqui-inimigas (1) Ashes and Snow (1) Auguste Rodin (1) autores preferidos (88) avós (1) Bocelli (1) Bon Jovi (1) Buda (1) Carl Sagan (1) Carolina (3) Caroline Hernandez (1) Catarina Nunes de Almeida (1) ce qu’il faut dépenser pour tuer un homme à la guerre (1) Cheyenne Glasgow (1) Chiyo-ni (1) Chogyam Trungpa Rinpoche (1) cinema (6) Cinema Paradiso (1) Clarice Lispector (1) Coldplay (1) Colin Horn (1) Constantin Brancusi (1) contos (28) Contos para crianças (6) Conversas com os meus cães (2) Curia (1) Daniel Faria (2) David Bohm (1) David Doubilet (1) Dítě (1) Do Mundo (32) Dylan Thomas (1) Eça de Queiroz (1) Eckhart Tolle (1) Edgar Allan Poe (1) Edmond Jabès (1) Elio Gaspari (1) Emily Dickinson (4) Ennio Morricone (1) Eric Serra (1) escultura (2) Federico Mecozzi (1) Fernando Pessoa (3) Fiama Hasse Pais Brandão (3) Fiona Joy Hawkins (1) Física (1) fotografia (9) Francesco Alberoni (1) Francisca (2) Fynn (1) Galileu (1) Gastão Cruz (2) Georg Szabo (1) George Bernanos (1) Giuseppe Tornatore (1) Gnose (2) Gonçalo M. Tavares (1) Gregory Colbert (1) Haiku (1) Hans Christian Andersen (1) Hans Zimmer (1) Henri de Régnier (1) Henry Miller (1) Herberto Helder (5) Hermes Trismegisto (1) Hilda Hilst (3) Hillsong (1) Hipácia de Alexandria (1) Igor Zenin (1) inteligência artificial (1) James Lovelock (1) Jean-François Rauzier (1) Jess Lee (1) João Villaret (1) Johannes Hjorth (1) Jonathan Stockton (1) Jorge de Sena (1) Jorge Luis Borges (2) Jorseth Raposo de Almeida (1) José Luís Peixoto (2) José Mauro de Vasconcelos (1) José Régio (1) José Saramago (1) Khalil Gibran (1) Krishnamurti (1) Kyrielle (1) Laura (1) Linkin Park (1) Lisa Gerrard (3) Live (1) Livros (1) Loukanikos (1) Luc Besson (1) Ludovico Einaudi (1) Luis Fonsi (1) Luís Vaz de Camões (1) Luiza Neto Jorge (1) Lupen Grainne (1) M. C. Escher (1) M83 (1) Machado de Assis (1) Madalena (1) Madan Kataria (1) Manuel Dias de Almeida (1) Manuel Gusmão (1) Marco Di Fabio (1) Margaret Mitchell (1) Maria Gabriela Llansol (1) Memórias (25) Michelangelo (1) Miguel de Cervantes y Saavedra (1) Miguel Esteves Cardoso (1) Miguel Sousa Tavares (1) Miguel Torga (1) Milan Kundera (1) música (25) Neil Gaiman (1) Nick Cave (1) Noite de todos os santos (1) O sal das lágrimas (2) Olavo de Carvalho (1) Orações (1) Orides Fontela (1) Orpheu (1) Oscar Wilde (3) Palavras preferidas (1) Palavras que odeio (1) Paolo Giordano (1) páscoa todos os dias (3) Patrick Cassidy (1) Paul Valéry (1) Paulo Melo Lopes (2) pensamentos (76) pintura (5) Platão (1) poemas (15) Poemas Gregos (2) Poesia (2) prosas (25) Prosas soltas (1) Radin Badrnia (1) Richard Linklater (1) rios de março (1) Roland Barthes (1) Russell Stuart (1) Serafina (2) Shalom Ormsby (1) Sigur Rós (1) Simone Weil (1) sobrinhas (5) Sócrates Escolástico (1) Sofia Raposo de Almeida (176) Sophia de Mello Breyner (14) Stephen Fry (1) Stephen Simpson (1) Steve Jobs (1) Susan J. Roche (1) Sytiva Sheehan (1) Teresa Vale (1) The Cinematic Orchestra (2) The Verve (1) Thomas Bergersen (1) Todd Gipstein (1) Tomás Maia (1) traduções de poemas (5) Uma Mulher na Foz de um Rio (4) valter hugo mãe (1) Vincent Fantauzzo (1) Wayne Roberts (1) wikihackers (1) William Blake (2) Yeshua (2) Yiruma (1)

cinco mais