A água dos teus olhos acendeu-me a urgência de descobrir o sabor do céu da tua boca, marfins que estremecem, súbitos veludos de sangue a pulsar, aos murros nas veias, com pressa, as mãos com pressa de incendiar as sedas dobradas, guardadas nas gavetas, os linhos, os bordados, resguardados, escondidos, perdidos, longe, tão perto e tão longe, as gavetas, os armários onde nos prendemos, as mãos com pressa do mergulho, carícias profundas, vincos, peles molhadas, da água, marco-te a pele molhada em sonho com o punhal das unhas pequenas, brancas, pergunto: será salgada ou doce, essa água?
será água?
a minha é salgada, algo doce, é água, água, água, a minha é água, verdadeira como a água, não falo dela, não falo dela contigo, porque é água, água, mágoa, água, com a força da água antiga, quebra ossos e pedras, as mãos presas em laços negros, nós e mais nós, nós? não, apenas nós, apertados, dos laços, a ansiedade das mãos, dos braços, do corpo todo, travada na pergunta, será água? será água a tua água?
será água?
se fosse água, estavas aqui, não é água. pouco me importa o que é, não é água.
se fosse água, desatavas-me os laços negros e eu marcava-te com a concha das minhas unhas, pequenas, rosadas e não precisava de me interrogar sobre o sabor do céu.
da tua boca.
0 comments :
Enviar um comentário