Por vezes a vida é tão insuportável para alguns que só lhes resta encená-la. Criam cenários e actores, enredos e diálogos, sendo sempre eles os actores principais, os únicos de carne e osso; os restantes, fantoches, sombras, sem pincelada de realidade, nem um sorriso verdadeiro, nem uma lágrima que molhe, nem um toque em que se sinta o osso ou a veia a pulsar, não, tudo imaginado, imaginário: imagens idealizadas.
E eu sento-me no balcão, silenciosa, e a única coisa que posso fazer é aplaudir.
Mas não me convidem para o palco. Posso até assistir à peça até ao fim. Depois parto sem me despedir.
Fotografia: Marco Di Fabio