Gostava que a tivesses visto, a enorme ave branca que atravessou os mares nocturnos, ontem à noite. Brilhava na escuridão com uma luz muito suave e voava baixo, maior do que um airbus, mais leve do que uma pena, mais veloz do que a luz ou o pensamento, chegou tão depressa como só o sentimento pode chegar, cruzou os mares, todos os mares de todos os tempos, todas as noites de todos os dias, branca, tão branca na noite, um branco de lua virgem dos beijos dos meteoros.
Quando chegou a terra diminuiu de tamanho, entrou pela foz rio acima, a planar sobre as águas sujas que sob ela se agitavam, a ave trouxe o mar com ela, as águas ficaram limpas, os golfinhos vinham atrás, os dorsos prateados a cavalgarem as ondas, deixaram chamas verdes na superfície das águas, regressaram ao mar, a ave não. Com a sua bela cabeça de cisne gigante, o seu pescoço longo e macio, passou por cima do teu esconderijo, sei o que estavas a fazer, vi-o através dos olhos da ave, deixei-a pousar lá onde estavas, não chorei, pela primeira vez não chorei, adormeci dentro dos olhos pretos da ave, não sem antes ter tapado os espelhos com veludo azul, tapei os espelhos e então a ave escondeu o bico debaixo das asas, fechou os olhos pesados do veludo azul e adormeceu comigo lá dentro.
De madrugada, ambas tínhamos desaparecido.
Só gostava que tivesses visto a ave que fiz para ti.
Dei por mim a suster a respiração... Era eu ali, no olhos da ave...
ResponderEliminarBeijinhos
Espero que te tenhas sentido aconchegada como eu...
ResponderEliminarBeijinhos,
Laura