Então, subitamente, a pedra acorda. Sente-se o centro do universo e é-o, de facto, por um instante. Olha para mim, a luz eterna, e ri-se. Ri-se de mim, que reparei nela, na sua miséria, no seu negrume vazio que foi algo, talvez, no momento em que o meu olhar nela pousou. Mas o que faz a pedra? Incha. Ao inchar, esmaga-me. Tão forte e tão frágil sou.
É então que surge o abismo. Do inchaço da pedra, da sua vulgaridade, da sua ignorância, da sua fria e estúpida insensibilidade de pedra. Negro, imenso, magnético. A pedra vê-me cair e ri-se, uma última vez. Precipito-me no vazio, em voo picado. A velocidade é tal que as asas se rasgam, bocados esparsos de céu regressam à fonte. A luz da minha respiração destrói a prisão adivinhada. A energia do meu corpo embate, finalmente, contra o fundo, que aguarda, faminto, com mil e um rochedos afiados, como gumes de espadas rombas.
Tudo desaparece. Nasce um novo dia. O verão será curto este ano. Ou talvez nem exista, aqui onde permaneço. Milhões de pequenas partículas regressam ao mundo. Ninguém dá por elas. Minúsculas. Debaixo do meu voo, o abismo cerra-se, as espadas de novo adormecidas.
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