O limiar do meu ser,
O limiar onde hesitamGrandes pássaros que fitam
Meu transpor tardo de os ver.
São aves cheias de abismo,
Como nos sonhos as há.
Hesito se sondo e cismo,
E à minha alma é cataclismo
O limiar onde está.
Então desperto do sonho
E sou alegre da luz,
Inda que em dia tristonho;
Porque o limiar é medonho
E todo passo é uma cruz.
Fernando Pessoa, in Cancioneiro
Escultura Fugit Amor, de Auguste Rodin, 1884
Grato, cara Laura, pelas palavras sentidas, escritas alhures.
ResponderEliminarÉ belo o voto que deixa em remate. De quem é rainha de si, ou o quer ser do reino de si mesma.
[Regresso], sim, num sentido, “à noite antiga e calma /Como a paisagem ao morrer do dia”.
Do íntimo “trono de sonhos e cansaços”, prefiro [despir] a realeza, corpo e alma."
“Cota de malha, inútil”, sim, se não for de virtudes / “esporas de um tinir tão fútil”, se não forem de esporear-me.
O resto, que é mais nada ainda do que todo este nada, deixo-o “pela fria escadaria”, nas veredas do caminho, e do descaminho, que me encaminha a desencobrir-me em tudo, no Amor, o tudo nada que nos é Rey.
Muito grato pela presença e comparência. Isso vale o que tem valor. Se algo, alfim, o tem.
Abraço fraterno.
E um beijo, nas mãos irmãs.
P.S.
Regresso é não estar presente.
Sempre estamos, na nossa mesma ausência. Ver-nos-emos. Pelos meios que nos possibilitemos.
Caro Donis,
ResponderEliminarCompreendo agora que o fogo da Serpente, invisível ou ausente, estará sempre presente.
Abraço fraterno e muito grata por tudo o que partilha,
Laura
Obrigado por recordar Fernando Pessoa.
ResponderEliminarUma mente algo controversa, mas de extrema sensibilidade.
Abraço
Laura,
ResponderEliminarSempre excelentes escolhas. Ainda que complexo, sabia bem o que dizia e, porquê. Via bem mais longe que muitos de nós hoje em dia... Um homem inteligente e de grande sensibilidade.
Obrigada.
Abraço de Luz
Tudo o que é realmente grande, é sempre controverso, polémico, desafiador. Tudo o que é realmente grande gela ou arde.
ResponderEliminarAbraço,
Laura
Mais um belo texto de Pessoa. Sou fã, orgulhosa e incondicionalmente. Parabéns, por este blog muito interessante.
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