as almas, os pássaros

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sexta-feira, 27 de maio de 2011

Hoje fui assistir a uma representação do Cântico Negro,de José Régio, da turma da minha sobrinha Madalena. Ver aqueles jovens, cheios de energia e força, elas, as jovens mulheres portuguesas, pequenas e perfeitas e eles, os jovens homens portugueses, altos e de olhos escuros apaixonados, foi o culminar de uma nova esperança na Humanidade que me surgiu nos últimos dias. Os Lusos existem e estão vivos, em todo o lado, no Equador, na Argentina, na Islândia, no Egipto, na Líbia, na Grécia. Falta o vídeo. Um dia publicá-lo-ei.

 


 

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Esta noite morrerás.
Quando a lua vier tocar-me o rosto
terás partido do meu leito
e aquele que procurar a marca dos teus passos
encontra urtigas crescendo
por sobre o teu nome.
Esta noite morrerás.
Quando a lua vier tocar-me o rosto
terás partido do meu leito
e uma gota de sangue ressequido
é a marca dos teus passos.
No coração do tempo pulsa um maquinismo ínscio
e na casa do tempo a hora é adorno.
Quando a lua vier tocar-me o rosto a tua sombra extinta marca
o fim de um eclipse horário de uma partida iminente e o tempo
apaga a marca dos teus passos sobre o meu nome.
Constante.
O mar é isso.
A lua vir tocar-me o rosto e encontrar urtigas crescendo
por sobre o teu nome.
O mar é tu morreste.
O mar é ser noite e vir a lua tocar-me o rosto quando tu par-
tiste e no meu leito crescem folhas sangue.
A febre é uma pira incompreensível como a aparição da lua
e a opacidade do mar.
No meu leito a lua vai tocar-me o rosto e a tua ausência é um
prisma, um girassol em panóplia.
Agora a lua chega devagar e o mar é o leito de tu teres
partido, uma infrutescência de eu procurar a marca dos teus
passos por sobre o meu rosto.
A noite é eu procurar a marca dos teus passos.
Esta noite a lua terá um halo de concêntricas florações
de gotas do teu sangue e a irisada sombra do meu leito
é o teu rosto iminente.
A lua é uma seta.
Tu partiste é o silêncio em forma de lança.
Esta noite vou erguer-me do meu leito e quando a lua vier
tocar-me o rosto vou uivar como um lobo.
Vou clamar pelo teu sangue extinto.
Vou desejar a tua carne viva, os teus membros esparsos,
a tua língua solta.
O teu ventre, lua.
Vou gritar e enterrar as unhas nos teus olhos até que
o mar se abra e a lua possa vir tocar-me o rosto.
Esta noite vou arrancar um cabelo e com a tua ausência faço
um pêndulo para interrogar a lua por tu teres partido e a marca
dos teus passos ser a razão mágica de a lua poder surgir de
noite e urtigas crescerem no meu leito.
E se encontrar a marca dos teus passos vou crivar-lhe
o coração de alfinetes para que tu partiste seja a razão
mágica de tu poderes morrer-te.
Quando a lua vier em forma de lança vai trespassar um pássaro
para lhe ler nas entranhas a direcção tu partiste e a marca dos
teus passos consiste nos olhos abertos de um pássaro esventrado.
Ah, mas o luar é uma pluma do meu leito e a lua é o colo de
tu morreste para poderes enfim tocar-me o rosto.


Ana Hatherly, in Poesia, 1958-1978

sexta-feira, 8 de abril de 2011



E Rafael disse:
Muitos, a maioria, só querem de nós aquilo que pensam que temos para lhes dar. E então eu dou. Depois, fecho e espero. Muitos, a maioria, perde todo o interesse. É assim que eu sei a quem posso dar tudo o que tenho e a quem não. E darei tudo o que tenho, o que me sobra de espírito e cura, aos que se interessam pelo outro, não por aquilo que ele lhes dá, mas por curiosidade. A curiosidade é o princípio do amor e são esses que mudam o mundo.

Fotografia de Stephen Simpson

quinta-feira, 31 de março de 2011

L' amour est éternel... oui, tant qu'il dure... 
Henri de Régnier, poeta e romancista francês, 1864-1936


sentei-me só. tão só. durante anos.

um: ano do mais profundo amor, dois: ano da mais profunda dor; três: ano da mais profunda raiva; todos começaram em março, com os meus rios;

senti-me só, tão só. tão escuro.

quatro: um ano da mais profunda libertação. todos os sentimentos são eternos... enquanto duram, disse-o o Poeta. 

o Poeta não estava a brincar. o Poeta não brinca. quando os sentimentos jorram em nós oriundos da alma primordial, são eternos. podemos separar-nos deles, porque apenas existimos para os experimentar, mas eles não nascem nem morrem em nós. vêm do fundo da luz-escuridão, quebram as barreiras do tempo e do espaço, passamos por eles, iluminam-nos ou quebram-nos e seguimos, deixando-os onde estão, onde sempre estiveram, onde sempre estarão.

numa terra chamada Nonada.

domingo, 20 de março de 2011





os rios de março vão continuar, subterrâneos, pois subterrânea é a sua verdadeira natureza


Foto de Colin Horn na Unsplash

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Agostinho da Silva disse: "É preciso baralhar e dar de novo." 

Dar de novo e dar novo. Ir buscar um novo. Baralho. De flores. Podem ser flores com chamas.

 

 


 

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Hoje, passada a madrugada, continuei o dia com a minha parte mais sombria; soltaram-se-me as minhas recordações, presentes, passadas e futuras, e não encontrava caminho linear entre elas.
Não só importa escrever sucessivamente, mas saber quem me sucederá numa constelação de sentidos.
O que é a descendência?
A seiva sobe e desce numa árvore, estende-se pelos ramos, e é regulada pelas estações; eu e a árvore dispomo-nos uma para a outra, num lugar por nomear. Este lugar não tem significação de dicionário, não transmigrou para nenhum livro.
Agora o sol, o solo, a solo, encadeiam-me nas palavras Esta madrugada aproximei-me da certeza de que o texto era um ser.

Maria Gabriela Llansol, in um falcão no punho, diário I, Lisboa: Edições Rolim, 1985. p.48

domingo, 13 de fevereiro de 2011






Chama-se amor a muita coisa. Mas nada há digno desse nome que envolva o ego.


Fotografia de Georg Szabo

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011


Enquanto houver uma gota de petróleo na Terra, não haverá paz. E o que acontecerá depois, depende de termos ou não compreendido as Palavras dos que vieram antes de nós, como Buda, Jesus ou Ghandi. Se nos matarmos uns aos outros, faremos um grande favor aos Demónios. Não levantes a mão contra o teu irmão, como está a acontecer no Egipto. Não sejas um vassalo. Se tiveres de matar alguém, mata antes o Demónio que te oprime. Mas lembra-te: esse Demónio está dentro de ti.

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011



Como é que as árvores sabem que devem florir todas naquela noite? Eu acho que elas combinam umas com as outras.

Foi a noite passada.

folhas soltas

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