as almas, os pássaros

as almas, os pássaros

as almas, os pássaros

as almas, os pássaros

terça-feira, 20 de setembro de 2011

A minha rosa quer adormecer e eu não deixo. Se ela adormece, morro. Olho os quatro pontos cardeais da Terra e vejo a Humanidade acéfala dirigida pela gulosa Ignorância, a gananciosa Cegueira e a insaciável Fome.  Pedem-me para traçar os planos do poder e vejo os últimos redutos incendiados, em todas as direcções em que olhe. Não tenho mais onde refugiar-me, que mãe é esta que não vê a dor da sua filha? Há livros que acabam bem. Há filmes que acabam bem. A Vida e a Poesia não acabam bem. 
 


Fonte da imagem: Temperance and greed
                                            
                                                a oposição à luz redunda em chaga aberta
                                                miragem, não posso ficar,
                                                porque dói, não posso,
                                                quando ela parte
                                                vou atrás

Let it go. Let it go.

Não nos que nos são do sangue e da alma. É raro partilhar aqueles que me são conjuntos. Mas quando uma imagem tem o valor da Palavra. Aqui está. Só gostava que pudessem ser - também - os Avós. Os que nos estão e são, raíz viva.


Fotografia de Maria Nobre, prima da Maria Francisca

"...the people who are crazy enough to think they can change the world are the ones who do."

Steve Jobs

Morra o bispo e morra o papa.
maila sua clerezia.
Ai rosas de leite e sangue.
que só a terra bebia!
Morram frades, morram freiras.
maila sua virgaria.
Ai rosas de sangue e leite.
que só a terra bebia!
Morra o rei e morra o conde.
maila toda fidalgula.
Ai rosas de leite e sangue.
que só a terra bebia!
Morram meirinho e carrasco.
maila má judicaria.
Ai rosas de sangue e leite.
que só a terra bebia!
Morra quem compra e quem vende,
maila toda a usuraria.
Ai rosas de leite e sangue.
que só a terra bebia!
Morram pais e morram filhos.
maila toda filharia.
Ai rosas de sangue e leite.
que só a terra bebia!
Morram marido e mulher.
maila casamentaria.
Ai rosas de leite e sangue,
que só a terra bebia!
Morra amigo, morra amante.
mailo amor que se perdia.
Ai rosas de sangue e leite,
que só a terra bebia!
Morra tudo, minha gente.
vivam povo e rebeldia.
Ai rosas de leite e sangue.
que só a terra bebia!

Jorge de Sena

 We were never able to afford the rich. The rich are here to teach us we can not afford them and we must therefore dream further.

Mas em português, é assim: a Vida não existe para sustentar os predadores. Os predadores estão aqui para nos ensinar que não podemos sustentá-los e que temos, portanto, de sonhar para além deles. Não somos rosas de leite e sangue. Apenas. Maila, maila, baila.

 

Se tenho que bater, não sorrio. Beijo e choro. Não sorrio. Quem sorri quando bate tira disso um secreto e íntimo prazer. O odioso e lamacento prazer do ego. Por vezes temos que bater. Se dizer a verdade é bater. Se espelhar o feio é bater. Beijamos e choramos. Não sorrimos. Quem sorri quando bate é falso. Quem sorri quando bate mente, pois aprecia o poder de bater em vez de sofrer a dor de bater.


Poucas têm um rosto tão perfeito e uma alma tão perfeita como a tua. Atrás de ti haverá sempre aqueles que te invejam e tentarão deitar-te abaixo. Jamais compreenderão a tua necessidade de voar até aos céus, pousando nos ramos de árvore que melhor impulso te dão. Por esses, deverás sentir apenas compaixão. Um dia, sentir-se-ão gratos por terem sido os ramos de árvore onde pousou uma ave de luz, antes de partir em direcção à felicidade. Assina: fada-madrinha.
Já alguém sentiu a loucura
vestir de repente o nosso corpo?
Já.
E tomar a forma dos objectos?
Sim.
E acender relâmpagos no pensamento?
Também.
E às vezes parecer ser o fim?
Exactamente.
Como o cavalo do soneto de Ângelo de Lima?
Tal e qual.
E depois mostrar-nos o que há-de vir
muito melhor do que está?
E dar-nos a cheirar uma cor
que nos faz seguir viagem
sem paragem
nem resignação?
E sentirmo-nos empurrados pelos rins
na aula de descer abismos
e fazer dos abismos descidas de recreio
e covas de encher novidade?
E de uns fazer gigantes
e de outros alienados?
E fazer frente ao impossível
atrevidamente
e ganhar-Ihe, e ganhar-Ihe
a ponto do impossível ficar possível?
E quando tudo parece perfeito
poder-se ir ainda mais além?
E isto de desencantar vidas
aos que julgam que a vida é só uma?
E isto de haver sempre ainda mais uma maneira pra tudo?

Tu Só, loucura, és capaz de transformar
o mundo tantas vezes quantas sejam as necessárias para olhos individuais
Só tu és capaz de fazer que tenham razão
tantas razões que hão-de viver juntas.
Tudo, excepto tu, é rotina peganhenta.
Só tu tens asas para dar
a quem tas vier buscar

José de Almada Negreiros
Poemas
Assírio & Alvim


domingo, 4 de setembro de 2011

devagar, o tempo transforma tudo em tempo. 
o ódio transforma-se em tempo, o amor 
transforma-se em tempo, a dor transforma-se 
em tempo. 


os assuntos que julgámos mais profundos, 
mais impossíveis, mais permanentes e imutáveis, 
transformam-se devagar em tempo. 


por si só, o tempo não é nada. 
a idade de nada é nada. 
a eternidade não existe. 
no entanto, a eternidade existe. 


os instantes dos teus olhos parados sobre mim eram eternos. 
os instantes do teu sorriso eram eternos. 
os instantes do teu corpo de luz eram eternos. 
foste eterna até ao fim. 

José Luís Peixoto, in Uma casa na escuridão

Feliz aniversário, José Luís Peixoto.

segunda-feira, 22 de agosto de 2011


Ânfora, vaso, cálice… O que quer que fosse, quebrou-se, em milhares de pequenos pedaços pontiagudos, como ínfimos diamantes distorcidos por forças inconcebíveis, mais o pó entre eles. Olho agora para as mãos vazias, espantada, sem saber como escorregou. Escorregou. Olho-os, como pequenas lágrimas desfeitas, e o pior nem é o pó entre eles, irrecuperável, é a água e a luz que continham. Perdidas. Ajoelho-me no chão e seguro pedaços do delicado invólucro na mão direita, enquanto com o dedo indicador da mão esquerda desenho pequenas serpentes no pó. Uma nuvem brilhante ergue-se do solo e desvanece-se no ar. A perda é tão imensa, tão infinitamente inalcançável pela mente, tão muda, que nada sinto. Ânfora, vaso ou cálice? Até a forma vai desaparecendo na memória e depois os cacos desfazem-se em pó, e mais pó e mais serpentes entre o pó e depois as serpentes tornam-se cada vez mais finas, como fios de seda e desaparecem, pois já nem o pó ali está. Ficam as mãos vazias. Olho-as de novo, tão pequenas, as minhas mãos, os dedos pontiagudos. Tão pequenas. O que posso segurar com elas? Olho em volta. Nada. Ergo-me e olho mais longe. Nada, nada, nada. Não há nada neste mundo que eu possa ou queira segurar. Só esta ideia, que não devia ter deixado cair… o quê? Olho agora para o mundo inteiro, vejo tudo, o infinitamente grande e o infinitamente pequeno, é enorme o mundo e tudo nele tão grande, para dentro e para fora, sem fim, fractal, fracturado. Não quero nada deste mundo.Só queria o que continha o... cálice? Escorregou. A perda é muda. Regresso então às minhas mãos, com uma agarro a outra e sorrio. Entre elas surge de novo água e luz. Mergulho inteira nas minhas mãos e crio um novo mundo. Fractal, intacto.

folhas soltas

a tua alma apontada (1) A viagem da alma (28) Agnieszka Kurowska (1) Agostinho da Silva (2) Agustina Bessa-Luís (1) Aida Cordeiro (1) Al Berto (1) Alexandre Herculano (1) Alisteir Crowley (1) Almada Negreiros (2) Amanda Palmer (1) amigos (1) Ana Cristina Cesar (1) Ana Hatherly (1) Anne Stokes (1) Antero de Quental (1) António Lobo Antunes (2) António Ramos Rosa (2) Apocalyptica (1) apócrifos (2) Arte Virtual (1) as almas os pássaros (1) As Arqui-inimigas (1) Ashes and Snow (1) Auguste Rodin (1) autores preferidos (88) avós (1) Bocelli (1) Bon Jovi (1) Buda (1) Carl Sagan (1) Carolina (3) Caroline Hernandez (1) Catarina Nunes de Almeida (1) ce qu’il faut dépenser pour tuer un homme à la guerre (1) Cheyenne Glasgow (1) Chiyo-ni (1) Chogyam Trungpa Rinpoche (1) cinema (6) Cinema Paradiso (1) Clarice Lispector (1) Coldplay (1) Colin Horn (1) Constantin Brancusi (1) contos (28) Contos para crianças (6) Conversas com os meus cães (2) Curia (1) Daniel Faria (2) David Bohm (1) David Doubilet (1) Dítě (1) Do Mundo (32) Dylan Thomas (1) Eça de Queiroz (1) Eckhart Tolle (1) Edgar Allan Poe (1) Edmond Jabès (1) Elio Gaspari (1) Emily Dickinson (4) Ennio Morricone (1) Eric Serra (1) escultura (2) Federico Mecozzi (1) Fernando Pessoa (3) Fiama Hasse Pais Brandão (3) Fiona Joy Hawkins (1) Física (1) fotografia (9) Francesco Alberoni (1) Francisca (2) Fynn (1) Galileu (1) Gastão Cruz (2) Georg Szabo (1) George Bernanos (1) Giuseppe Tornatore (1) Gnose (2) Gonçalo M. Tavares (1) Gregory Colbert (1) Haiku (1) Hans Christian Andersen (1) Hans Zimmer (1) Henri de Régnier (1) Henry Miller (1) Herberto Helder (5) Hermes Trismegisto (1) Hilda Hilst (3) Hillsong (1) Hipácia de Alexandria (1) Igor Zenin (1) inteligência artificial (1) James Lovelock (1) Jean-François Rauzier (1) Jess Lee (1) João Villaret (1) Johannes Hjorth (1) Jonathan Stockton (1) Jorge de Sena (1) Jorge Luis Borges (2) Jorseth Raposo de Almeida (1) José Luís Peixoto (2) José Mauro de Vasconcelos (1) José Régio (1) José Saramago (1) Khalil Gibran (1) Krishnamurti (1) Kyrielle (1) Laura (1) Linkin Park (1) Lisa Gerrard (3) Live (1) Livros (1) Loukanikos (1) Luc Besson (1) Ludovico Einaudi (1) Luis Fonsi (1) Luís Vaz de Camões (1) Luiza Neto Jorge (1) Lupen Grainne (1) M. C. Escher (1) M83 (1) Machado de Assis (1) Madalena (1) Madan Kataria (1) Manuel Dias de Almeida (1) Manuel Gusmão (1) Marco Di Fabio (1) Margaret Mitchell (1) Maria Gabriela Llansol (1) Memórias (25) Michelangelo (1) Miguel de Cervantes y Saavedra (1) Miguel Esteves Cardoso (1) Miguel Sousa Tavares (1) Miguel Torga (1) Milan Kundera (1) música (25) Neil Gaiman (1) Nick Cave (1) Noite de todos os santos (1) O sal das lágrimas (2) Olavo de Carvalho (1) Orações (1) Orides Fontela (1) Orpheu (1) Oscar Wilde (3) Palavras preferidas (1) Palavras que odeio (1) Paolo Giordano (1) páscoa todos os dias (3) Patrick Cassidy (1) Paul Valéry (1) Paulo Melo Lopes (2) pensamentos (76) pintura (5) Platão (1) poemas (15) Poemas Gregos (2) Poesia (2) prosas (25) Prosas soltas (1) Radin Badrnia (1) Richard Linklater (1) rios de março (1) Roland Barthes (1) Russell Stuart (1) Serafina (2) Shalom Ormsby (1) Sigur Rós (1) Simone Weil (1) sobrinhas (5) Sócrates Escolástico (1) Sofia Raposo de Almeida (176) Sophia de Mello Breyner (14) Stephen Fry (1) Stephen Simpson (1) Steve Jobs (1) Susan J. Roche (1) Sytiva Sheehan (1) Teresa Vale (1) The Cinematic Orchestra (2) The Verve (1) Thomas Bergersen (1) Todd Gipstein (1) Tomás Maia (1) traduções de poemas (5) Uma Mulher na Foz de um Rio (4) valter hugo mãe (1) Vincent Fantauzzo (1) Wayne Roberts (1) wikihackers (1) William Blake (2) Yeshua (2) Yiruma (1)

cinco mais