os espinhos das rosas é que nos mantêm despertos
saudade de adormecer, mas
os espinhos das rosas
os espinhos
da rosa
o sangue da carne
vermelho
como as rosas
a minha rosa
os espinhos
acordam-me
quinta-feira, 20 de setembro de 2012
quarta-feira, 22 de agosto de 2012
Não deixa de ser uma enorme vaidade imaginar que estamos despertos no meio dos que dormem. A nossa vaidade leva-nos a inventar estrelas ardentes que atiramos aos outros, sabendo que entre eles não há um único capaz de segurar uma estrela com a ponta do dedo mindinho. Imaginamos que estamos despertos, mas nenhum de nós tem um sorriso na cara, aquele sorriso mistura de dentes e riso, amor e humildade, dos que enterrados na carne chegaram finalmente à raíz e dela beberam a primeira água-luz perfumada e limpa. Se nem o sorriso temos, muito menos temos asas ou sabemos criar estrelas, nem tratámos de quebrar os ossos, rasgar veias e artérias, dilacerar órgãos e romper a carne e trepar pela raíz acima, desfeitos e nús, em pleno vôo, nem parámos a meio, por compaixão, nem mesmo nos sentámos então de pernas cruzadas a rir, de nós e dos outros. E se mesmo assim, algum de entre nós tivesse passado por tudo isto, teria fingido dormir de novo, com um só olho aberto, à espera dos seus irmãos?
quinta-feira, 2 de agosto de 2012
terça-feira, 17 de julho de 2012
rios
o primeiro é subterrâneo e não tem pai
o segundo larguei-o no mar
o terceiro morreu no deserto
o quarto sobe para o céu
como cascata invertida
e não tem Pai
nem Mãe
domingo, 15 de julho de 2012
sexta-feira, 15 de junho de 2012
as bofetadas brancas do vento crú atiçam a madrugada
sexta-feira, 8 de junho de 2012
Francesco Alberoni, in Enamoramento e Amor
quinta-feira, 7 de junho de 2012
Um corpo pousado no colo do homem, violoncelo, espigão ligado à terra, voluta-céu, o homem precisa de um arco-alma para o tocar, para lhe ouvir a voz, a alma do violoncelo é de abeto, perfeita, perfeitamente posicionada, aguarda o movimento do corpo macio, vibração transmitida ao fundo da luz, as cordas enroladas em prata anseiam as crinas de cavalo do arco de pau-brasil adormecido, não pode tocar-lhe com os dedos, o homem, com os dedos pode apenas tocar-lhe no pescoço, a mão acaricia a voluta e cai, o corpo precisa do arco, o arco precisa da alma do homem para existir, o homem não consegue despertar o arco, que lhe pende da mão, inerte. Só, tão só, o homem agarra o violoncelo e chora, nú.
[publicado no #2 da Contra-Corrente com o pseudónimo Laura Miguéis Raposo]
segunda-feira, 21 de maio de 2012
folhas soltas
cinco mais
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Todas as árvores nascem de uma semente. Menos a primeira árvore, cuja semente se transformou em semente por força de um sonho. É isso que ...
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São duas e vinte e dois da manhã. Trouxe o portátil para o piso térreo da casa. Aqui não se ouvem cantar os estranhos pássaros nocturnos, q...
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And death shall have no dominion. Dead men naked they shall be one With the man in the wind and the west moon; When their bones are pic...
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Não se perdeu nenhuma coisa em mim. Continuam as noites e os poentes Que escorreram na casa e no jardim, Continuam as vozes diferentes Q...