Simone Weil, in A Gravidade e a Graça
sexta-feira, 24 de novembro de 2023
Simone Weil, in A Gravidade e a Graça
You're a slave to money then you die
I'll take you down the only road I've ever been down
You know the one that takes you to the places
where all the veins meet yeah,
No change, I can change
I can change, I can change
But I'm here in my mold
I am here in my mold
But I'm a million different people
from one day to the next
I can't change my mold
No, no, no, no, no
Well I never pray
But tonight I'm on my knees yeah
I need to hear some sounds that recognize the pain in me, yeah
I let the melody shine, let it cleanse my mind, I feel free now
But the airways are clean and there's nobody singing to me now
No change, I can change
I can change, I can change
But I'm here in my mold
I am here in my mold
And I'm a million different people
from one day to the next
I can't change my mold
No, no, no, no, no
I can't change
I can't change
'Cause it's a bittersweet symphony, this life
Try to make ends meet
Try to find some money then you die
I'll take you down the only road I've ever been down
You know the one that takes you to the places
where all the things meet yeah
You know I can change, I can change
I can change, I can change
But I'm here in my mold
I am here in my mold
And I'm a million different people
from one day to the next
I can't change my mold
No, no, no, no, no
I can't change my mold
no, no, no, no, no,
I can't change
Can't change my body,
no, no, no
I'll take you down the only road I've ever been down
I'll take you down the only road I've ever been down
Been down
Ever been down
Ever been down
Ever been down
Ever been down
Have you ever been down?
Have you've ever been down?
Carl Sagan
A amizade é regida pelo mesmo mecanismo que o amor, é instantânea e absoluta.
Fonte: Conversas com António Lobo Antunes, de María Luisa Blanco, 2002
Que eu saiba, o único invejoso assumido da literatura universal é O Sobrinho de Rameau, de Diderot, personagem caricato demais para ser real. Mesmo O Homem do Subterrâneo de Dostoiévski só se exprime no papel porque acredita que não será lido. A gente confessa ódio, humilhação, medo, ciúme, tristeza, cobiça. Inveja, nunca. A inveja admitida se anularia no ato, transmutando-se em competição franca ou em desistência resignada. A inveja é o único sentimento que se alimenta de sua própria ocultação.
O homem torna-se invejoso quando desiste intimamente dos bens que cobiçava, por acreditar, em segredo, que não os merece. O que lhe dói não é a falta dos bens, mas do mérito. Daí sua compulsão de depreciar esses bens, de destruí-los ou de substituí-los por simulacros miseráveis, fingindo julgá-los mais valiosos que os originais. É precisamente nas dissimulações que a inveja se revela da maneira mais clara.
As formas de dissimulação são muitas, mas a inveja essencial, primordial, tem por objeto os bens espirituais, porque são mais abstratos e impalpáveis, mais aptos a despertar no invejoso aquele sentimento de exclusão irremediável que faz dele, em vida, um condenado do inferno. Riqueza material e poder mundano nunca são tão distantes, tão incompreensíveis, quanto a amizade de Abel com Deus, que leva Caim ao desespero, ou o misterioso dom do gênio criador, que humilha as inteligências medíocres mesmo quando bem sucedidas social e economicamente. Por trás da inveja vulgar há sempre inveja espiritual.
Mas a inveja espiritual muda de motivo conforme os tempos. A época moderna, explica Lionel Trilling em Beyond Culture (1964), "é a primeira em que muitos homens aspiram a altas realizações nas artes e, na sua frustração, formam uma classe despossuída, um proletariado do espírito."
Para novos motivos, novas dissimulações. O "proletariado do espírito" é, como já observava Otto Maria Carpeaux (A Cinza do Purgatório, 1943), a classe revolucionária por excelência. Desde a Revolução Francesa, os movimentos ideológicos de massa sempre recrutaram o grosso de seus líderes da multidão dos semi-intelectuais ressentidos. Afastados do trabalho manual pela instrução que receberam, separados da realização nas letras e nas artes pela sua mediocridade endêmica, que lhes restava? A revolta. Mas uma revolta em nome da inépcia se autodesmoralizaria no ato. O único que a confessou, com candura suicida, foi justamente o "sobrinho de Rameau". Como que advertidos por essa cruel caricatura, os demais notaram que era preciso a camuflagem de um pretexto nobre. Para isso serviram os pobres e oprimidos. A facilidade com que todo revolucionário derrama lágrimas de piedade por eles enquanto luta contra o establishment, passando a oprimi-los tão logo sobe ao poder, só se explica pelo fato de que não era o sofrimento material deles que o comovia, mas apenas o seu próprio sofrimento psíquico. O direito dos pobres é a poção alucinógena com que o intelectual ativista se inebria de ilusões quanto aos motivos da sua conduta. E é o próprio drama interior da inveja espiritual que dá ao seu discurso aquela hipnótica intensidade emocional que W. B. Yeats notava nos apóstolos do pior (v. "The Second Coming" e "The Leaders of the Crowd" em Michael Robartes and The Dancer, 1921). Nenhum sentimento autêntico se expressa com furor comparável ao da encenação histérica.
Por ironia, o que deu origem ao grand guignol das revoluções modernas não foi a exclusão, mas a inclusão: foi quando as portas das atividades culturais superiores se abriram para as massas de classe média e pobre que, fatalmente, o número de frustrados das letras se multiplicou por milhões.
A "rebelião das massas" a que se referia José Ortega y Gasset (La Rebelión de las Masas, 1928) consistia precisamente nisso: não na ascensão dos pobres à cultura superior, mas na concomitante impossibilidade de democratizar o gênio. A inveja resultante gerava ódio aos próprios bens recém-conquistados, que pareciam tanto mais inacessíveis às almas quanto mais democratizados no mundo: daí o clamor geral contra a "cultura de elite", justamente no momento em que ela já não era privilégio da elite.
Ortega, de maneira tão injusta quanto compreensível, foi por isso acusado de elitista. Mas Eric Hoffer, operário elevado por mérito próprio ao nível de grande intelectual, também escreveu páginas penetrantes sobre a psicologia dos ativistas, "pseudo-intelectuais tagarelas e cheios de pose... Vivendo vidas estéreis e inúteis, não possuem autoconfiança e auto-respeito, e anseiam pela ilusão de peso e importância." (The Ordeal of Change, 1952).
Por isso, leitores, não estranhem quando virem, na liderança dos "movimentos sociais", cidadãos de classe média e alta diplomados pelas universidades mais caras, como é o caso aliás do próprio sr. João Pedro Stedile, economista da PUC-RS. Se esses movimentos fossem autenticamente de pobres, eles se contentariam com o atendimento de suas reivindicações nominais: um pedaço de terra, uma casa, ferramentas de trabalho. Mas o vazio no coração do intelectual ativista, o buraco negro da inveja espiritual, é tão profundo quanto o abismo do inferno. Nem o mundo inteiro pode preenchê-lo. Por isso a demanda razoável dos bens mais simples da vida, esperança inicial da massa dos liderados, acaba sempre se ampliando, por iniciativa dos líderes, na exigência louca de uma transformação total da realidade, de uma mutação revolucionária do mundo. E, no caos da revolução, as esperanças dos pobres acabam sempre sacrificadas à glória dos intelectuais ativistas.
Olavo de Carvalho
Folha de S. Paulo, 26 de agosto de 2003
quinta-feira, 2 de novembro de 2023
adjectivo uniforme
1. que não se pode medir
2. que não tem medida comum com outro ou outros objectos
3. imenso; enorme
nome masculino
MATEMÁTICA antiga designação de número irracional
(Do lat. med. incommensurabìle-, «id.»)
Fonte: Infopedia
It may be an infinity.
Infinities are weird things. You tend to think of them as something big. But a property of an infinity if you add 1 to it, or even add another infinity to it - it doesn’t change. Another name for something that doesn’t change is a constant. So an infinity won’t be big or small, just an unchanging part of our reality.
It must be so because our minds are almost certainly discrete, finite things. We can only make finite changes, we can only distinguish between many states. Whatever we do, we can’t change an infinity. So if there is an infinity that is a fundamental part of our universe - how do we observe it?
As far as I know nothing in physics has turned out to be infinite. (I heard it put another way by a physicist once - real numbers exist only in the minds of men and are thus decidedly unreal.) Certainly space and time aren’t infinite in the usual sense - they had beginnings, and we observe their passage, watch them change. The lack of infinities is not so obvious looking at big things, but there is a related concept that accompanies every infinity - the infinitesimal. Infinitesimal implies you can keep chopping things up indefinitely which of course you can do to an infinity. In our observable universe there are no infinitesimals - as far as I know everything has its plank limit, which is why you don’t need reals. Everything physics measures is made of discrete changes, and our discrete finite minds build those changes up into what we perceive as our finite reality.
A similar statement is quantum field theory says we are just a collection of mostly standing but ever changing waves. As I understand it, it’s the best description of our universe we have. But do you see the problem? It has that word “change” in there. And needing constant change implies it is blind to infinities. It is just the sort of blindness you might expect a theory thought up finite minds to have.
But that equally, nothing I’ve seen in physics prohibits an infinity lying at the heart of our universe. It just means our finite minds haven’t observed it (which is hardly a surprise). To us, it is just there - a constant. If this constant is producing things like vacuum energy then questions like “where did it come from” become meaningless.
That doesn’t mean an infinity or a universe that has an infinity at its core is unknowable to us. While infinities are, well, infinite and thus in some sense unknowable, their behaviour is most definitely not. Our finite brains, or at least those of some mathematicians, have mapped out what they do and how they behave fairly well. Not perfectly - we aren’t entirely sure how many there are for example. (Well, we know there are infinitely many of them as we can take the power set of an infinitely to make a new one - but we may be able to make infinitely more than that if you need a smaller gun than a power set, and needing something smaller is the currently favoured conjecture.) But then the similar things could be said for primes. I’d say humans have both fairly well tamed.
The point is saying there is an infinitely lurking, hidden under the maths driving our physics is not at all the same as saying there is a god. No one can claim to tame a god, yet our maths has mostly tamed infinities. We can understand this. The problem is, if there is an infinity generating the universe as we see it, the physicists haven’t found it.
By the by, Penrose’s recurring universe looks decidedly finite to me. If it’s infinite, why are we observing part of the cycle as a change? If the infinity is there, it’s going to run deeper than that.
***
Pode ser uma infinitude.
As infinitudes são coisas estranhas. Tendemos a pensar nelas como algo de grande. Mas uma propriedade de uma infinitude se se adicionar 1, ou mesmo se se adicionar outra infinitude - é que não muda. Outro nome para algo que não muda é uma constante. Portanto uma infinitude não será grande ou pequena, só uma parte inalterável da nossa realidade.
Deve ser assim porque as nossa mentes são quase certamente coisas discretas, finitas. Só conseguimos fazer mudanças finitas, só conseguimos distinguir entre muitos estados. O que quer que façamos, não conseguimos mudar uma infinitude. Por isso, se houver uma infinitude que seja uma parte fundamental do nosso Universo - como é que a observamos?
Tanto quanto sei nada na física se revelou infinito. (Um dia ouvi um físico colocar isto de outra forma - os números reais existem apenas nas mentes dos homens e, por isso, são decididamente irreais.) Certamente que o espaço e o tempo não são infinitos no sentido usual - tiveram um início e observamos a sua passagem, vemo-los mudar. A falta de infinitos não é tão óbvia quando olhamos para as grandes coisas, mas existe um conceito relacionado que acompanha cada infinitude - o infinitesimal. Infinitesimal implica que podemos continuar a dividir as coisas indefinidamente, o que, claro, podemos fazer com uma infinitude. No nosso universo observável não existem infinitesimais - tanto quanto sei tudo tem o seu limite de Planck, razão pelo qual não precisamos de (números) reais. Tudo o que a física mede é feito de discretas mudanças e as nossas mentes discretas e finitas adicionam essas mudanças àquilo que percebemos como a nossa realidade finita.
Acontece algo de similar na teoria do campo quântico, que diz que somos apenas uma colecção de ondas em grande parte permanentes mas em constante mudança. Assim como o entendo, esta é a melhor descrição que temos do nosso Universo. Mas conseguem perceber o problema? A afirmação contém essa palavra "mudança". E a necessidade de mudança constante implica que é cega às infinitudes. É exactamente o tipo de cegueira que se pode esperar de uma teoria pensada por mentes finitas.
Mas da mesma forma nada do que vi em física proíbe uma infinitude de existir no coração do nosso universo. Significa apenas que as nossas mentes finitas ainda não a observaram (o que dificilmente nos surpreende). Para nós, está simplesmente ali - uma constante. Se esta constante produz coisas como energia de vácuo, então perguntas como "de onde veio isso" perdem o sentido.
Isso não significa que uma infinitude ou um universo que contenha uma infinitude no seu núcleo seja irreconhecível por nós. Enquanto que as infinitudes são, bem, infinitas e portanto de certa forma irreconhecíveis, o seu comportamento definitivamente não o é. Os nossos cérebros finitos, ou pelo menos alguns matemáticos, mapearam bastante bem o que fazem e como se comportam. Não de forma perfeita - não temos a certeza absoluta de quantas existem, por exemplo. (...)
Dizer que existe uma infinitude à espreita, escondida entre a matemática que impulsiona a nossa física, não é de todo a mesma coisa que dizer que existe um deus. Ninguém pode afirmar ter dominado um deus, no entanto a nossa matemática já quase que domina as infinitudes. Conseguimos compreender isto. O problema é, se existe uma infinitude que gera o universo da forma como o observamos, os físicos ainda não a encontraram.
E já agora, o universo recorrente de Penrose parece-me decididamente finito. Se é infinito, porque observamos parte do ciclo como uma mudança? Se a infinitude estiver lá, será com certeza mais complicado (de resolver).
sexta-feira, 22 de setembro de 2023
Resolver reabrir este blog numa altura em que a blogoesfera da escrita está assim como que defunta, parece uma causa perdida. Muitos trocaram a intimidade e civilidade dos blogs de escrita pelo ruído e incivilidade das redes sociais. Alguns dos meus escritores e poetas preferidos fecharam os blogs e desapareceram para parte incerta. Outros ainda estão por aí, soltos. E eu voltei. Voltei para aqui, para o silêncio, como quem regressa ao deserto ou zarpa do porto em direção ao mar. Talvez me cruze com outros pelo caminho, talvez não. A solidão não me assusta.
A minha passagem pelas redes sociais foi curta, não suporto o barulho incessante, o cheiro do medo, o vazio das mentiras. Prefiro as ondas do deserto ou do mar, este silêncio, esta paz. Virei as costas e (de)sandei. Seja o que for, a partir de agora, este meu caminho, aqui posso respirar. Talvez termine alguns dos meus contos, talvez não. Quando estamos sózinhos no deserto ou no mar, não vale a pensa pensar o que está para além das dunas ou ondas, apenas interessa o ar limpo, a imensidão e a o re-despertar de todas as possibilidades. Que seja páscoa todos os dias.
folhas soltas
cinco mais
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