as almas, os pássaros

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segunda-feira, 24 de novembro de 2008


as partículas 
polidas em gelo
desrespiram 
pesam no vazio
sós, diáfanas
e tombam no infinito
indestinadas

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Bateu à porta. Mais um sarcasmo. Como se necessitasse que lhe abrissem a porta. A um sinal de Sophia, a luz desapareceu. Dirigiu-se à porta, os olhos escuros a emitirem uma ténue luz violeta, e abriu-a. O seu único filho estava diante dela, num corpo humano alto, belo, o rosto perfeito, os lábios talvez demasiado grossos, demasiado encarnados.
- Mãe… murmurou, com a sua voz rouca e sedutora.
O lobo negro ergueu-se, o pelo eriçado, a rosnar. Pedro olhou-o, com desprezo.
- Controla a tua criatura. Ou não sabes tu que eu, se quisesse, a destruiria num nanossegundo?
- Sim, Pedro., respondeu Sophia, calando Omael com o pensamento. Poderias fazê-lo. Mas surgiria outro no seu lugar. E mais outro. E ainda outro. Não podes tocar-me.
Um esgar de ódio contorceu-lhe a expressão. Ele sabia.
- Como queiras. No entanto, vê-lo sofrer não seria agradável para ti. – E, mudando habilmente de assunto – Onde está o teu Arcanjo?
- O Arcanjo morreu, quando me traiu.
- Mãe… Sophia interrompeu-o, cansada.
– És um falso deus, Pedro. Nada sabes da luz, dos éons ou dos arcanjos, embora estes últimos tenham sido iniciados por ti. Nem tens compreensão alguma do que seja a morte. Quanto aos Humanos, tens-te esforçado, filho, mas em vão. Viraste-os uns contra os outros, vezes sem conta, mas ainda não conseguiste controlá-los.
- Como te enganas, minha Mãe. Olha à tua volta. Usaram os cadáveres dos anjos caídos como energia. Libertaram de novo a escuridão. Quase toda a água do planeta está envenenada. Quando não tiverem água nem comida, virar-se-ão para mim. Duvidas? Não os conheces ainda?
Sophia estremeceu e preparou-se. Viera, como habitualmente, só para a atormentar.
- Queres que enumere quantas criaturas foram extintas o ano passado? Quanto caos foi criado? Tirou do bolso interior do casaco um enorme charuto, cortou-lhe a ponta com os dentes e acendeu-o com vagar. Inspirou profundamente e, deixando que o fumo lhe saísse voluptuosamente pelo nariz, boca e orelhas, continuou:
- As florestas morrem, a comida e água já está envenenada e não sei se reparaste, agora culpam os fumadores… como eu, dos tumores que lhes crescem no corpo. Farão o que eu disser, Mãe. Como fizeram outros no passado. Pertencem-me, de corpo e alma.
- Ao fim de todos estes milhões de anos, Pedro, não capturaste um único pedaço de espírito, um só micrograma de luz.
Os olhos de Pedro escureceram ainda mais, quando viu o corpo de sua Mãe desaparecer e fundir-se com a luz, emanando raios violeta, dourados e brancos. Estendeu a mão e Omael ganiu. Desfez-se em chamas demasiado rapidamente. Assim que Pedro desapareceu, Sophia regressou, os longos cabelos cheios de chuva, os braços carregados de sementes e, sobre os tições retorcidos de Omael, nasceu mais um lobo negro. Com um longo suspiro, preparou-se para mais uma discussão, desta vez com Miguel.


quinta-feira, 21 de agosto de 2008


Há muitas eras atrás, vivia no Ribatejo um Rei foragido. Ele era um foragido, porque embora tivesse nascido Rei, nunca o tinha querido ser. E assim, quando a ocasião se proporcionou, pela calada de uma certa noite, aparelhou e montou o cavalo que havia pertencido a seu Pai, o Rei-Surdo e cavalgou, cavalgou, até chegar ao Ribatejo. Aí, soltou o cavalo, que imediatamente se sentiu em casa com os seus amigos Lusitanos selvagens, e refugiou-se numa pequena casa de cal, abandonada.
O sonho dele era ser Poeta. Não podia ser Poeta, sendo Rei. Começou por recuperar a casa abandonada, pois é com o trabalho das nossas mãos que a poesia começa a formar-se, dentro da nossa cabeça. A casa era pequenina. Tinha um quarto, que também era sala, com uma lareira de pedra. Estava em muito mau estado, mas o Poeta voltou a caiá-la por fora e a pintá-la por dentro, removeu todo o entulho e com a madeira abandonada no terreno circundante, construiu a cama, a mesa, as cadeiras e até uma escrivaninha, para poder escrever.
O meu nome é Menahel. Já apareci noutras histórias. Preocupei-me com este Rei-Poeta, pois estava sozinho e esquecia-se de comer. Mal a mesa ficou pronta, passei a deixar todas as noites em cima dela um pão e uma garrafa de vinho que surripiava das quintas vizinhas. O Rei-Poeta comia e bebia, e nem se lembrava de perguntar como é que o pão e o vinho tinham aparecido na sua mesa. É natural. Afinal, tinha sido criado como Rei. Estava habituado a ser servido. Quando terminou os trabalhos de recuperação e carpintaria, sentou-se pela primeira vez à escrivaninha, com o pergaminho, pena e tintas que trouxera do palácio do Rei-Surdo e preparou-se para escrever o seu primeiro poema. Estava uma bela tarde nas Lezírias. Era Verão e estava calor, mas dentro da casinha caiada de branco estava fresco. Pela porta e janelas abertas entrava uma brisa cheia dos aromas da terra e dos frutos maduros. O Poeta mergulhou a pena na tinta, aproximou-a do pergaminho… e ficou paralisado. A tinta pingou um enorme borrão no pergaminho.
Bem, é preciso dizer que este Poeta não acreditava nem nas musas dos poetas, nem em fadas, nem mesmo no Pai Natal. Muito menos em anjos ou unicórnios ou cavalos alados. Nem tinha reparado nas asas do cavalo de seu Pai. Afinal, tinha sido educado como Rei. E os Reis são educados para acreditarem apenas no poder e na divindade do seu sangue azul.
Fiquei novamente preocupada com o Poeta. Como iria ele escrever o seu primeiro poema, se durante a infância os seus educadores tinham afastado dele todas as musas, fadas, anjos e unicórnios? Eu era apenas uma fada. Não podia inspirá-lo. Quando muito, podia alimentá-lo. Esperei, muito sossegada, no canto da lareira, enquanto via os borrões encherem o pergaminho. Até que o Poeta chorou. Foi então que a Musa dele regressou. Surgiu da casa caiada, linda e branca, como uma inspiração e sentou-se no seu ombro. Não resistiu às suas lágrimas e muito menos aos borrões. Estava zangada com ele, e por isso decidiu que nunca nenhum dos seus Poemas teria título algum, pois também o Poeta não conheceria o nome da Musa rejeitada, que regressava agora. Assim, o primeiro poema que escreveu não tem título, como nenhum dos outros que escreveu depois, chamou-se apenas: Sem título (00) e, sem que ele o saiba, foi escrito e dedicado à Musa branca e linda, fruto do trabalho das suas mãos, renascida da sua casa de Poeta.
E durante anos e anos, alimentado por uma fada e inspirado pela Musa branca, prosseguiu com a sua Poesia, ao ritmo de apenas dois poemas por mês, porque não conseguiu esquecer totalmente a sua educação de Rei e tudo tinha de ser perfeito, poderoso e brilhante, como o trono e coroa que rejeitara. Não foi Rei-Poeta, mas foi Poeta-Rei. 
 

 

quinta-feira, 12 de junho de 2008

O sal das lágrimas veio do mar há eras atrás, quando eu era um peixe. Trouxe o sal comigo, pois quando rastejei pela areia com pequenas patinhas quase inúteis, não consegui abandonar totalmente o grande azul e trouxe a água e o sal dentro de mim. Já sentia a pele a secar, quase a arder e as escamas a caírem, uma a uma, deixando em mim um rasto de sangue e já tinha tanta, tanta saudade, que ainda hoje me pergunto porque deixei aquela luz azul. Cá fora, antes que eu desse dez passos, milhares de minúsculas criaturas entraram por todos os meus orifícios e mataram-me ali, quase imediatamente. Desovei antes de morrer numa cova na areia e os meus filhos, assim que nasceram, levaram com eles as patas, já biologicamente avançadas, a água e o sal. Lembro-me disto agora porque estou longe do mar, morri muitas vezes, mas ainda aqui estou e sempre que choro, lembro-me dele, do mar, tudo por causa do sal que ainda existe nas lágrimas.

domingo, 20 de abril de 2008

Atlântico oceano, mãe, pai.

De uma terra à outra o azul profundo. Ondas de prata correm de terra a terra e entre elas e o céu sopram os ventos. Batem nos rochedos, de terra a terra, ilha a ilha, peito a peito. Os rios desistem e transbordam. Derretem as neves nos limites da vida, o oxigénio precipita-se no espaço por entre a aurora boreal. As árvores queimadas, os pulmões param. Dói respirar, as asas partidas no chão. Pois agora ergo-me e danço, rodopio no vento, recolho as folhas e as asas e os olhos dourados dos lobos mortos, salto de onda em onda, atravesso o mar todo e vejo-me nas estrelas.

Sou a vida. Sobreviverei no átomo, respirarei no vazio, sem pulmões.



sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008



Lembro-me muito bem de como era ser criança. O tempo era infinito e não havia morte. O mundo era ao mesmo tempo muito pequeno e muito grande, porque tudo nele era enorme. O relvado da escola parecia a pradaria americana. As férias grandes duravam anos e no fim das mesmas tínhamos crescido imenso, pelo menos era o que os adultos nos diziam. As emoções ainda eram grandes demais para nós, por isso submergiam-nos. A nossa casa era um palácio, com um jardim que parecia uma floresta. Demorava pelo menos seis horas a ver um filme do Walt Disney (hoje sabemos que duram apenas 80 minutos). Tudo era possível. Os adultos tinham todas as respostas, por isso a nossa própria ignorância não nos afligia muito. Deus era uma certeza. Entre a fantasia e a realidade não havia fronteiras. O meu último sonho de criança foi na Ericeira. O mar colocou na minha mão uma estranha pedra transparente. Eu segurei a pedra, acariciei a água, como se acariciasse um cão gigante e prometi-lhe que dedicaria a minha vida a defênde-lo.
Lembro-me também muito bem de como era ser adolescente. O tempo começava a encurtar. As férias acabavam mais depressa. Os adultos, afinal, não sabiam tudo. Pior, mentiam-nos muitas vezes e tentavam manipular-nos. Havia demasiadas regras, todas elas duvidosas e, no mínimo, questionáveis. Havia afinal muitos deuses diferentes. Cresciam paredes à nossa volta. Víamos a máquina dos adultos a girar, a roncar, a deitar fumo. Víamos as vidas estúpidas que eles levavam e pensávamos: eu não, eu nunca serei assim, do trabalho para casa, da casa para o trabalho, sentada diante da televisão nas horas vagas, deprimida e sem sentido para a vida. Eu vou ser diferente, vou ser vagabunda, artista, diletante, eremita. Vou viver no campo com os animais e ter uma quinta. Vou-me casar com um padeiro, vou ser amante dum pescador e ele vai levar-me com ele no barco.
Lembro-me também muito bem de como era ter 20 anos. O tempo começara a apanhar-nos. Os adultos tinham os melhores empregos e todos pareciam ter mais oportunidades do que nós. Eram agora nossos competidores e éramos nós que tentávamos usá-los e manipulá-los. Deus já não era nem resposta, nem mesmo pergunta. As férias eram insuportavelmente curtas. Fazíamos as nossas próprias regras e aceitávamos algumas outras, para que não nos incomodassem muito. O tempo livre era utilizado sôfrega e intensamente. Ainda quase tudo era possível: ia-me casar, ter cinco filhos, uma casa enorme com piscina, jardim e court de ténis (porque ele gostava de ténis), quando nos apetecesse íamos jantar a Paris no nosso avião particular... Ia ser empresária, colocar as crianças na minha escola, tinha nomes e caras e côres para elas.
Lembro-me muito bem de ter chegado aos 30. Então, o que estava em questão era toda a minha vida. Já não tinha férias, o tempo deixara de existir porque nunca havia tempo para nada, o mundo tornara-se insuportavelmente pequeno, todas as cidades iguais umas às outras, as pessoas eram uma desilusão, tudo era mentira, interesse, falsidade... Ilhas, éramos todos ilhas a navegar não sabíamos muito bem para onde. A navegar... muitos de nós ilhas ancoradas, presas. Não há comunicação. Não há sentido. Tudo é por acaso.
Foi aos 30 anos que me comecei a consolar com a ideia de envelhecer. Comecei a criar um ideal de mim própria assim velhinha: magra, os cabelos curtos e grisalhos, ainda elegante, enfiada em jeans desbotados, de docksides, com uma bengalinha de mogno com punho de prata, a passear na praia com os meus dois cães, com o motorista à espera no meu velho Mercedes. Isto de manhãzinha cedo. À tarde, escreveria os meus livros, sentada à minha escrivaninha de madeira de cerejeira, no meu velho computador, enquanto os cães ressonavam, refastelados no tapete persa, já tão velho que se desfiava. Nessa altura percebi que tinha que mudar de vida. A vida tecera a sua teia à minha volta, mas eu já não me iludia mais com grandes sonhos e sabia onde tudo ia dar. Fiquei subitamente lúcida, aos trinta anos. Encontrara tudo aquilo com que sonhara (aos 10? aos 20? aos 30?), mas nada me podia pertencer. Dei de caras com a felicidade tarde demais. Perdera demasiado tempo. Restava-me a lucidez e o sentido de humor. Mudei de vida.
O meu mal sempre foi ser rápida demais no trabalho e lenta demais na vida pessoal. Mas isso é, de facto, uma característica minha: rápida a pensar e a agir, lenta a sentir e a confiar. Foi a vida que me ensinou a ser prudente.
Neste momento, tudo o que quero é paz. Apenas PAZ. Serena utopia num mundo que se desmorona, sem que ninguém dê por isso...


quinta-feira, 20 de setembro de 2007

Ela está na árvore, de calções de ganga e blusa cor-de-rosa, quase invisível. Porque cresceu com elas, com as árvores, porque um dia adormeceu abraçada aos troncos rugosos com a música suave do vento a brincar com as folhas, porque arrancou as folhas, e as flores e os frutos, e rasgoub as primeiras, para as conhecer por dentro e por fora, e esmagou as pétalas das outras, para lhes sentir a fragrância e os óleos e abriu os últimos, para lhes ver o caroço e os saborear, porque sentiu nas suas pequenas mãos e nos joelhos e na parte interior das pernas todas as pequenas saliências e texturas, que arranhavam, por vezes feriam, numa retribuição de curiosidade e amor, e porque aprendeu tudo sobre a força dos troncos, inquebráveis e a fragilidade dos ramos, que arrancou com um só puxão, para sentir a seiva escorregar-lhe por entre os dedos, um dia ela amará as árvores. Como só uma criança que as trepou e conheceu por dentro e por fora pode amar as árvores. Será uma dríade.

 



terça-feira, 20 de setembro de 2005

Aliás, Portugal é muito mais água que terra. Sem árvores, não há água.
Hoje em dia a Humanidade começa a colocar-se a questão se deveremos ou não viver para sempre. Isto porque a imortalidade começa a parecer possível, tendo em conta os mais recentes avanços da ciência. Os geneticistas procuram freneticamente o gene do envelhecimento, o gene ou grupo de genes responsáveis por interromperem a vida de cada criatura viva. Mas talvez, quando o encontrarem, descubram que esses genes são multi-funções e que não podem manipulá-los, sem consequências. Tenho a certeza absoluta de que assim será. Tenho a certeza absoluta de que o Homem está muito longe desse tipo de imortalidade. O código genético é, de facto, fascinante. Mas o porquê, o porquê desse código genético, como foi escrito, o que é que leva a que determinados genes sejam activados e outros desactivados, ainda o é mais. Podemos ter em nós os genes das asas, por exemplo, e penso que os temos, no entanto, o Homem não tem asas. Podemos ter em nós os genes das barbatanas e das folhas das árvores e dos olhos das águias e das corolas das flores e da produção das teias de aranha e dos dentes do tigre, e no entanto, não temos barbatanas, nem abanamos ao vento, verdes como esmeraldas, nem vemos o que as águias vêm, nem as abelhas pousam em nós em busca do pólen que não produzimos, nem andamos a fazer teias de aranha durante a noite nem roemos ossos como o tigre. Mas temos em nós todos esses genes. Tomemos os genes das asas, por exemplo. Michio Kaku escreve que não é assim tão simples, termos asas como os anjos e continuarmos humanos. Para termos asas, provavelmente perderíamos as pernas e a figura longilínea que hoje temos, e os nossos ossos teriam de ser ocos. Quem toma estas decisões? Quem decidiu que vivíamos melhor fora de água? Quem decidiu que tínhamos que envelhecer e morrer? Quem decidiu que a melhor forma de não haver desperdício era comermo-nos uns aos outros? Quem decidiu ter pernas e não ter asas? Ou são fruto do acaso, do ambiente, das circunstâncias?
E o que aconteceria, se o Homem se tornasse Imortal? O que aconteceria às crianças? Deixaria de haver crianças? Quanto tempo aguentaria uma pessoa viva? O que faria com a sua imortalidade?
Woody Allen diria que não se importa. Ele diz que não quer sobreviver nas suas obras, que apenas quer sobreviver, ponto final. E o que aconteceria, se o Woody Allen vivesse para sempre? Estaríamos condenados a ver o mesmo tipo de filme para toda a eternidade, ou poderia o Woody Allen vir a fazer filmes como o Cinema Paradiso ou como Le Grand Bleu? Evoluiríamos? O que aconteceria aos nossos genes? Experimentariam as asas?
Claro que me dói, com graus diferentes de dor, quando morrem os meus ou quando morre uma poetisa como a Sophia de Mello Breyner.
Mas eu não quero a imortalidade. Não a minha. Prefiro ser uma chama, que arde e depois se apaga, uma estrela que acaba, o risco de um voo, a espuma de uma onda que nunca se repete. Eu não sou eu. Eu não sou um indivíduo. Eu não sou apenas um indivíduo, tal como as partículas não são apenas partícula, mas partícula e onda, ao mesmo tempo. Eu sou nós, sou parte de um tudo, sou a chama que não arde e as asas que não voam e a espuma que não rebenta na praia e os olhos da águia que não são. Sou a estrela que já implodiu e a chuva que já caiu e o vento que já soprou e a abelha que já morreu. Sou a terra e o mar e a árvore, sou a pedra na areia e também sou o pombo envenenado e o lince extinto e o dinossauro e a formiga e um diamante na rocha.
E voltarei a sê-lo um dia.
Prefiro a Eternidade à Imortalidade.

quinta-feira, 20 de setembro de 2001

Uma das minhas frases preferidas do livro Gone with the wind, de Margaret Mitchell:




She said we could give ourselves airs and get ourselves all rigged up and we were like race horses and we were just mules in horse harness and we didn't fool anybody. (na voz de Scarlett O'Hara)

domingo, 20 de setembro de 1992

Se fosses uma ave, eras coruja, eu, um albatroz.
Se fosses um mamífero, eras um urso pardo, eu, uma orca.
Se fosses uma pedra, eras sílex, eu, berilo.
Se fosses uma cidade, eras Séforis, eu, Atenas.
Se fosses um elementar, eras furacão, eu, nascente.
Se fosses um instrumento, eras uma maça, eu, uma ânfora.
Se fosses um sentimento, eras fúria, eu, serenidade.
Se fosses uma árvore, eras um carvalho, eu, um teixo.
Se fosses um mistério, eras mirra, eu, canela.
Se fosses um aroma, eras bergamota, eu, sândalo.
Se fosses um metal, eras titânio, eu, magnésio.
Se fosses uma paisagem, eras Mauna Loa, eu, o Atlântico.
Se fosses um pensamento, eras precipício, eu, vôo.
Se fosses dois, eras tu, eu, o outro.
Se fosses uma casa, eras uma torre de menagem, eu, uma ruína.
Se fosses um impulso, eras traição, eu, ternura.
Se fosses um filósofo, eras Sartre, eu, Platão.
Se fosses um amante, eras cruel, eu, doce.
Se fosses humano, eras homem, eu, mulher.

Então diz-me? O que poderia ligar-nos? Perguntou o Hidrogénio ao Oxigénio.

Respondeu a Estrela: perguntem ao Mar.

folhas soltas

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