as almas, os pássaros

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domingo, 6 de setembro de 2009



Não é amigo aquele que alardeia a amizade: é traficante; a amizade sente-se, não se diz.
Machado de Assis


Penso que, como todos, tenho poucos amigos. Muito poucos. Penso que, cada vez mais, há menos pessoas na sociedade dita civilizada dignas de poderem ser consideradas amigas. Porque existem cada vez menos pessoas empáticas, ternas, atentas, curiosas em relação aos outros. Nunca recuso ninguém. O problema é que a maior parte das pessoas que aceito no meu círculo não merecem o tempo que se lhes dedica. O que verifico, ao fim de uma análise interessada e profunda, é que no fundo, são pessoas extremamente sós e vazias, o que não é de admirar, mas o que nunca há-de deixar de me surpreender, é o que compõe o lodo que está no fundo: tanta inveja, tanta fome, tanta amargura, tanta secura. Machado de Assis tem razão, aliás como Krishnamurti, quando diz que uma verdade dita muitas vezes se torna uma mentira. Os afectos profundos e verdadeiros não se dizem, sentem-se. Os traficantes da amizade são da mesma forma traficantes de amor. Traficam palavras das quais desconhecem o verdadeiro significado, cuja profunda verdade lhes escapa, pois estão tão cheios de matéria corrompida e pesada, que passam pela vida como caixões de chumbo com a podridão a roe-los por dentro. Também os que criticam o Facebook, como Miguel Sousa Tavares e outros, têm razão. Amigos, no Facebook, tenho meia dúzia e depois talvez mais meia dúzia que considero serem merecedores de tal distinção. Os restantes são contactos, alguns profissionais, outros porque partilham de uma paixão comum, letras, pintura, música... Acredito sempre que sejam boas pessoas, dignas, que tenham palavra. Mas muitas vezes me desiludo. Hoje em dia, por isso mesmo, já não quero olhar e ver mais profundamente. Tenho horror.
Ter Palavra. Isto já não se usa, pois não? Eu uso. Aprendi com o meu avô Manuel, que nasceu em 1903, sobre o que era ter Palavra. E depois aprendi com os outros sábios que lhe sucederam, nos tantos livros que li, que a Palavra era Verbo e que o Verbo era Deus. Não se usa, mas devia usar-se. Quem não tem Palavra, usa mal a Palavra e nem mesmo é digno de a pronunciar. Quem não tem Palavra, não sabe o significado profundo das palavras e mente o tempo todo com todos os dentes que tem na boca. Quem não tem Palavra é como um mau actor no palco da vida, pedindo emprestado aos outros vidas e sentimentos, vampirizando os que ainda sentem alguma coisa... e sim, digo mau actor, porque os bons actores transformam-se e absorvem o que os rodeia, crescendo e evoluindo. Há quem peça emprestado para crescer. A esses não se empresta. Dá-se. Os maus actores não pedem, roubam, roubam e estragam o que roubaram, tudo neles se suja e parte. Quem não tem Palavra, não sabe ser amigo de ninguém. E também não sabe amar. Sinto compaixão por essas pessoas, mas não sei como ajudá-las. Não sei como quebrar os caixões de chumbo e libertar a podridão. Confesso que já desisti. Como já disse uma vez, estou cansada. Estou cansada de não encontrar Deus naqueles que o deviam trazer dentro. E quem poderá saber o que para mim significa a Palavra-Deus? Talvez ninguém vivo.
Tal como disse Buda, um amigo falso e maldoso é mais temível que um animal selvagem; o animal pode ferir o teu corpo, mas um falso amigo irá ferir a tua alma. Tenho que a proteger, à minha alma. Afinal, mais ninguém o fará.
Quanto aos amigos, aos poucos que tenho, esses, como li uma vez, são anjos tranquilos. Ao pé deles sinto sempre paz e bem-estar. Fazem-me acreditar em tudo aquilo que não pode ser provado ou testado. Alguns desses meus amigos, não são humanos. Mas foi com esses que mais aprendi sobre o amor e os laços que unem os seres. Sobre a devoção desinteressada.



sábado, 5 de setembro de 2009

Como um incêndio lavra na floresta, indiferente e cruel, assim lavra a raiva, como um incêndio ou a gangrena no corpo, surge repentinamente, surge sempre da Verdade, nunca da Mentira, a Mentira apenas perde, atrapalha, desorienta, a Verdade incendeia e diz: amputa, amputa, corta, arde, a dor do corte, do fogo, é ignorada, arde, arde, cura-te, larga essa coisa que te envenenou a vida, que te escureceu, que te fez escoar todo o teu ser para um pântano, só dói enquanto é gangrena, enquanto tem bicho, enquanto há seiva, mas a raiva seca a seiva, como um incêndio, já nada dói, agarra no machado e corta, arranca o que está podre, queima o que está doente, o que vale a pena foge, alguma coisa que vale a pena morre, paciência.








segunda-feira, 17 de agosto de 2009



A água dos teus olhos acendeu-me a urgência de descobrir o sabor do céu da tua boca, marfins que estremecem, súbitos veludos de sangue a pulsar, aos murros nas veias, com pressa, as mãos com pressa de incendiar as sedas dobradas, guardadas nas gavetas, os linhos, os bordados, resguardados, escondidos, perdidos, longe, tão perto e tão longe, as gavetas, os armários onde nos prendemos, as mãos com pressa do mergulho, carícias profundas, vincos, peles molhadas, da água, marco-te a pele molhada em sonho com o punhal das unhas pequenas, brancas, pergunto: será salgada ou doce, essa água?
será água?
a minha é salgada, algo doce, é água, água, água, a minha é água, verdadeira como a água, não falo dela, não falo dela contigo, porque é água, água, mágoa, água, com a força da água antiga, quebra ossos e pedras, as mãos presas em laços negros, nós e mais nós, nós? não, apenas nós, apertados, dos laços, a ansiedade das mãos, dos braços, do corpo todo, travada na pergunta, será água? será água a tua água?
será água?
se fosse água, estavas aqui, não é água. pouco me importa o que é, não é água.
se fosse água, desatavas-me os laços negros e eu marcava-te com a concha das minhas unhas, pequenas, rosadas e não precisava de me interrogar sobre o sabor do céu.
da tua boca.


Fonte da imagem: Gettyimages


sexta-feira, 31 de julho de 2009



Uma muralha púrpura de água prenhe de memórias, sombras negras dos cadeados, das fechaduras, das correntes, riscos lilases luminosos dos segredos arrefecidos, como chamas moribundas, ergue-se a toda a largura da foz, a sua imensidão desequilibra-me, deixa-me tonta, quase embriagada de imaginar atravessá-la, beber dela, afogar-me nela, preferia voar, onde estão as asas? para voar precisas da leveza, ossos ocos e toda uma melodia aérea de corpo - que não tens quando a tristeza do lodo do rio te abraça venenosa a alma, as asas estão presas no leito do rio, descoladas do corpo, adiadas, a vida pesa como chumbo neste rio que devagar vou odiando cada vez mais, fujo para as margens, arquejos saltam-me do peito, fecho a boca, furiosa, corro para a floresta, percorro a correr toda a álea de palmeiras, o vento está quente, o verão prestes a morrer e a matar a esperança, como me irrita essa palavra, esperança, tanto como a palavra espera, corro, por isso é que corro, o vento traz-me o perfume das árvores e das flores, beija-me os pulmões, sento-me nos degraus de pedra do pequeno palácio escondido, em ruínas, estou quase em casa, aqui estou quase em casa, regresso devagar, abraço as árvores, enfrento a muralha na margem do rio.
um dia, com ou sem asas, irei para além de ti, coisa brutal... ou talvez descubra simplesmente que não existes.

Fonte da imagem: kendraseward

quinta-feira, 30 de julho de 2009



Por vezes solto-me do mundo, do rio. Paro à beira da estrada e mergulho numa pedra qualquer. Vejo a dor. Sintonizo-me com ela. Pedra cinzenta e negra, de respirar tão lento, que é quase como se pudesse não existir. Mas está ali. Nasceu de um vulcão e é lenta, apenas. Dor, como os outros. Então, o mundo desaparece e surge na pedra, em toda a sua plenitude inútil. Respiro fundo e toco-lhe. Surge este louco sonho de salvar a pedra e salvar o mundo. Interrompo a luz e chove. O frio desce sobre a estrada, a humidade inunda os ossos e congela a seiva. O tempo pára. O mundo à deriva, numa pedra. Vertigem. Tudo numa pedra. Solidão. As eras pesam-me, como mantos de lama. Apaixono-me pela pedra. Está tudo ali: as extinções em massa, as guerras, a fome, a morte. Tudo numa só pedra. Toco-lhe, tão ao de leve, e exorto-a: sê!

Então, subitamente, a pedra acorda. Sente-se o centro do universo e é-o, de facto, por um instante. Olha para mim, a luz eterna, e ri-se. Ri-se de mim, que reparei nela, na sua miséria, no seu negrume vazio que foi algo, talvez, no momento em que o meu olhar nela pousou. Mas o que faz a pedra? Incha. Ao inchar, esmaga-me. Tão forte e tão frágil sou.

É então que surge o abismo. Do inchaço da pedra, da sua vulgaridade, da sua ignorância, da sua fria e estúpida insensibilidade de pedra. Negro, imenso, magnético. A pedra vê-me cair e ri-se, uma última vez. Precipito-me no vazio, em voo picado. A velocidade é tal que as asas se rasgam, bocados esparsos de céu regressam à fonte. A luz da minha respiração destrói a prisão adivinhada. A energia do meu corpo embate, finalmente, contra o fundo, que aguarda, faminto, com mil e um rochedos afiados, como gumes de espadas rombas.

Tudo desaparece. Nasce um novo dia. O verão será curto este ano. Ou talvez nem exista, aqui onde permaneço. Milhões de pequenas partículas regressam ao mundo. Ninguém dá por elas. Minúsculas. Debaixo do meu voo, o abismo cerra-se, as espadas de novo adormecidas.



quarta-feira, 29 de julho de 2009


Os ramos de árvores despidos que nos lembram
o nada. Sobretudo na fase de exaltação
do espírito. Com a cabeça encostada
aos vidros altos.

Simultaneamente procurar o centro
da irradiação. O Sol matinal com os seus hiatos
preenchidos por casas. Ameias onde se
invertem os vértices do horizonte.
Sol magnânimo

fixo sobre as árvores abençoadas sem
folhas. Infinitos pormenores visíveis e
espaços audíveis preenchem a hora exaltada.
Ponto profusamente cheio. Um fino
silêncio exterior

sinal do nada circundante. Graveto
junto de graveto cruzados para além do fim
da perspectiva. Um significado diverso
naquelas ameias em outros planos. O nada
sempre coeso. Uma respiração intangível
e sem sombras.


Fiama Hasse Pais Brandão in Nova Natureza



Compreendo cada vez melhor que cada um de nós cria o seu próprio mundo. Ligados. estamos todos ligados, mas somos como Ilhas. não conseguimos chegar ao que nos liga: amor, separados por: ódio, medo, barro. o meu mundo é diferente do Teu e vivemos lado a lado. não consigo ligar-me à tua Ilha, crio Uma, esta é diferente, Ideal, não és Tu, Tu não estás mais aqui. é de madrugada, quando me refugio no sono-sonho onde te encontro, a Ti. estás sempre comigo em todas as Madrugadas esvaziadas da matéria-fronteira, sombras, onde apenas o meu Desejo impera, falo Contigo, sorrio para Ti, Tu sorris para mim, Tu, que mal sorris, sorris, adormecemos abraçados, Um. os dias, as horas, os anos, já nada me dizem, vivo para as madrugadas Contigo, onde o meu Mundo se torna real e o meu Mundo és Tu: aí, Mulher-plena, deslizo pela Foz e saio para a Luz do Mar. regressar à foz é-me cada vez mais difícil, um dia abandono-me à Loucura, tão frágil a fronteira, prefiro as sombras, idealizo-Te? não, és Tu sem mácula, sem dor, como vieste ao mundo a primeira vez, não nesta vida, a primeira de todas, o que vejo em Ti e desejo absolutamente e está fora do meu alcance, Tômâ. e no entanto, todas as madrugadas, chego lá, a Ti, e não há mácula nenhuma, é apenas Fogo e Terra a derramar-se na Água, que então se ergue e dança no Vento, Um.

terça-feira, 28 de julho de 2009


Quando passa o tempo, as coisas
retornam aos elementos. E as cria-
turas. Para a transformação
final. Mas nem o fim
permanece. O cardume dos lagos
que morre embranquecido
por fim é de água. Os boquilobos
multicolores na beira das áleas
caem na terra e são terra.


Fiama Hasse Pais Brandão, in Três Rostos - Ecos


O rio não dialoga senão pela alma
de quem o olha e embebeu a sua alma
de olhares ribeirinhos no passado
ou à flor do pensamento no futuro.

É um país que fala dentro da fronte,
olhando as naus, navios, barcos pesqueiros
e o trilho das famintas aves pintoras
de riscos negros, que perseguem o odor
das redes cheias, as outrossim poéticas
familiares gaivotas. É uma costa inteira
de imagens de gaivotas dentro dos olhos.
São bocas a pensar razões da vida,
gargantas já caladas pela nascença e morte,
quando entre si se vêem ou juntas olham
o mar dos seus próprios dias. São cabeças
velhas de labutar, entre dentes cerrados,
as palavras mudas de um ofício no mar,
antigas de silêncio, como se no esófago
guardassem há muito a sabedoria de ir
enfrentar o mar, transpor o mar, estar.

Tal como um rio o mar só quer falar
pela dor e alegria de alma com que o chama,
há séculos na orla, um povo mudo,
com as palavras presas, guturais sem fôlego,
dentro de si, tão firmes no palato, articuladas
na língua interior. E o mar é quieto ou bravo,
e a alma tensa de uma paixão secreta,
escondida atrás da boca, e sempre aberta,
tal como as pálpebras diante desta água.

Só a alma sabe falar com o mar,
depois de chamar a si o Rio, no imo
de cada um, recordações, de todos
os que cumprem na linha da costa o seu destino.
O de crianças, berços nascidos à beira-mar,
aleitadas por água marinha bebida por rebanhos,
alimentadas por frutos regados pela bruma.
Mesmo quando petroleiros, se olharmos o mar,
passam sem som na glote, para nós mesmos dizemos
que o tempo já findou das caravelas outrora
e dentro do nosso sangue passa o tempo de agora.

Também as varinas, fenícias áfonas no poema
que as canta, sabem as formas, pelo olhar,
de serem mulheres com peixes à cabeça.
E os pregões que eu calo, revendo-as, eram outra
língua do mar, os nomes com que nos chamam
para o seu modo de levar entre as casas o mar.
Mas as dores não as ecoa o mar, nem mesmo
as de poetas, só as pancadas das palavras
no encéfalo parecem ser voz do mar.

É uma nação única de memórias do mar,
que não responde senão em nós. Glórias, misérias,
que guardámos por detrás do olhar lírico
e da língua, a silabar dentro da boca.
Nunca chamámos o mar nem ele nos chama
mas está-nos no palato como estigma.


Fiama Hasse Pais Brandão in Cena Vivas, Relógio d´Água

domingo, 26 de julho de 2009


Nos traços quentes e perecíveis de um rosto a água deixa sulcos profundos e escuros, antiga perenidade gravada no vivo dos ossos malares, que os dedos frios tentam apagar. Não tem conserto, a água não pára, jorra de um abismo antigo, sem memória, vai desfazendo os ossos, a carne, a pele, vem de dentro, do fundo, do antes, corroendo o que respira, os ossos ardem? não sei, são duzentos e seis, a água é travada nos ombros, como se estes fossem dunas rebeldes, poderias consertar-me agora? dos ombros para cima, onde as dunas travaram a água, poderias consertar-me? não. o estrago é tão perene quanto a alma. por isso, com tudo o que sobrevive para lá das dunas danço, com tudo o que morre, canto.


sábado, 25 de julho de 2009



Um dia renasceu e tinha um irmão. Por causa desse irmão, esqueceu-se também de quem era. Cresceram juntos. Nas horas livres, corriam pelas praias atrás das gaivotas e dos caranguejos, deslizavam nas rochas cobertas de algas verdes e macias, coleccionavam conchas. Viviam na ponta mais ocidental da terra, para além da qual só havia mar. Uma terra ainda livre e intocada. O povo era rude e taciturno, a paisagem agreste, a comida escassa. À medida que crescia, recuperava os seus dons. Aprendeu a curar com mãos e plantas. Os campos tornaram-se férteis e a água doce brotou das rochas. As flores desabrochavam nos caminhos que pisava. Não havia lobo que comesse uma ovelha na sua presença. Quando atingiu os quinze anos, tal como a água brotara das rochas, também três rios prateados nasceram entre os seus cabelos negros. E foi então que chegaram os padres. Vinham vestidos de escuro, com capuzes e cruzes e rodeados de cavaleiros vestidos de ferro. Quando os viu pela primeira vez, mil pássaros enlouqueceram dentro dela e a sua energia estilhaçou-se, como vidro quebrado.

- O que tens? Perguntou Idevor, a remexer na areia com um pau.
Viria limitou-se a abraçar os joelhos com as mãos e nada disse. O mar espraiava-se diante dos seus olhos, prateado, ondas brancas quebravam-se lá mais longe, o céu carregado a ameaçar temporal. Mas os olhos escuros do irmão fitavam apenas a areia revolta nervosamente pelo pau.
- Não queres ir à missa, no domingo? Mas o pai diz que tens de ir.
- Não percebo nada do que eles dizem., respondeu Viria finalmente. Falam em latim. Porque é que tu vais? Também não percebes nada.
Tentou abraçar o irmão, mas este levantou-se, subitamente, rejeitando os seus braços magros e atirando furiosamente o pau na direcção das ondas.
- Dizem que és bruxa!, atirou-lhe, a voz alterada. E afastou-se rapidamente, deixando-a completamente só. Como quase sempre estivera.

O traje de serapilheira feria-lhe a pele delicada. Os longos cabelos negros tinham sido primeiro cortados e depois arrancados com ódio, mas nem mesmo assim tinham desaparecido os três rios de prata que lhe tinham nascido um dia da alma, que mais pareciam agora três cordões de estrelas. Olhou para trás uma última vez, para o irmão.
- Idevor… a voz falhou-lhe, espantada, na garganta.
- Esse já não é o meu nome!, respondeu-lhe o irmão, a voz seca, os olhos negros a espreitarem por entre o capuz de monge. Os dois soldados, vestidos de ferro da cabeça aos pés, torceram-lhe os dois braços, arrastando-a tão violentamente que lhe deslocaram um dos braços. Mas ela não tirava os olhos do irmão. Pensou Viria também nunca foi o meu nome. Murmurou para si mesma, uma vez mais, o nome do irmão. Idevor. Mas nenhum som saiu da sua garganta. O irmão atirou o capuz para trás, fitando-a e, para seu grande espanto, fitava-a com um profundo amor, como se fosse o seu salvador. Um amor rasgado pela dor. Como estás errado, Idevor… meu Tômânem com espadas, nem com palavras, nem com cruzes ou fogueiras… não adivinhaste ainda o único caminho para a Luz? Tu, que és Luz? E foi este o seu último pensamento, pois um dos guardas deu-lhe um pontapé tão forte na cabeça, que desmaiou. O que sofreu de seguida distorceu-lhe a alma, que só despertaria de novo passados mais de mil anos.


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