as almas, os pássaros

as almas, os pássaros

as almas, os pássaros

as almas, os pássaros

sábado, 31 de dezembro de 2011

Estou com vontade de fazer algo que nunca fiz: resoluções para o novo ano. O problema é ser tão desobediente que desobedeço a mim própria. It's my life. It's my life.


Se a memória me não falha, creio que esta será a primeira passagem de ano - no ocidente - que passo só. Não que esta data tenha algum significado especial para mim, mas tem para tantas pessoas. Para mim não, como não tem para as plantas ou para os animais. São mais importantes os solstícios e os equinócios, as rotações e as translações. E eu compreendo, esta necessidade de controlar o tempo, de o domar, embora tal não seja possível. Há sempre acertos a fazer, por melhores que sejam os físicos e os matemáticos, porque o tempo sofre oscilações e estica e encolhe, como as nossas mentes. 
As pedras, as plantas e os animais estão certos. O tempo é um rio e corre como quer, por onde quer, por vezes lento, por vezes rápido, doce e suave, ou violento e esmagador. 
E nós como folhas na água, pensamentos frágeis, poderosos no seu conjunto, ignorantes desse poder, procurando conhecer o que está na água do rio do tempo. 
Por isso, tchin-tchin. Toda a verdade está aqui, pois qualquer rio corre para o mar, tchin.

A todos os que me acompanharam desde sempre, desde o meu primeiro blog (o sal das lágrimas), a todos os que nunca me acompanharam, a todos os que só agora me acompanham, desejo... 

... que possam estar comigo um dia, diante do mar. Tchin.
 

 

domingo, 25 de dezembro de 2011

And death shall have no dominion. 
Dead men naked they shall be one
With the man in the wind and the west moon;
When their bones are picked clean and the clean bones gone,
They shall have stars at elbow and foot;
Though they go mad they shall be sane,
Though they sink through the sea they shall rise again;
Though lovers be lost love shall not;
And death shall have no dominion.

And death shall have no dominion.
Under the windings of the sea
They lying long shall not die windily;
Twisting on racks when sinews give way,
Strapped to a wheel, yet they shall not break;
Faith in their hands shall snap in two,
And the unicorn evils run them through;
Split all ends up they shan’t crack;
And death shall have no dominion.

And death shall have no dominion.
No more may gulls cry at their ears
Or waves break loud on the seashores;
Where blew a flower may a flower no more
Lift its head to the blows of the rain;
Though they be mad and dead as nails,
Heads of the characters hammer through daisies;
Break in the sun till the sun breaks down,
And death shall have no dominion.

~

E a morte não terá domínio algum.
Na sua nudez, os homens mortos serão um
Com o homem no vento e a lua do ocidente;
Quando os seus ossos forem colhidos e limpos no pó,
Haverá estrelas em ombro e pé.
Mesmo que se tornem loucos, serão sãos,
Mesmo que afundem no mar, erguer-se-ão;
Mesmo que os amantes se percam, o amor não;
E a morte não terá domínio algum.

E a morte não terá domínio algum.
Sob as vagas espiraladas do mar,
Os que há muito jazem, não morrerão tempestuosamente;
Torcidos pela roda, quando a coluna ceder,
Acorrentados, não quebrarão;
A fé nas suas mãos estalará,
Percorridos pelas dores do unicórnio;
Ao rasgarem-se num desabrochar de fins, não sucumbem;
E a morte não terá domínio algum.

E a morte não terá domínio algum.
Os gritos das gaivotas silenciar-se-ão nos seus ouvidos
Assim como o estrondo das vagas espiraladas na praia;
Onde soprou flor que jamais flor alguma
Erga a sua corola aos golpes da chuva;
Ainda que loucas e mortas como pregos,
Cabeças de símbolos martelam através de margaridas;
Irrompem no sol até que o sol se rompa,
E a morte não terá domínio algum.

Dylan Thomas, traduzido por mim.



terça-feira, 6 de dezembro de 2011


sábado, 26 de novembro de 2011



Esplanada da Cafetaria Quadrante, CCB, seis e meia da tarde. Havia muitos estudantes, alguns solitários, alguns turistas e um senhor com o cão mais desobediente que já vi, que não dava pelo nome de Pipas, provavelmente porque o nome não lhe agradava. A minha sobrinha mais nova e eu tínhamos acabado a visita ao Jardim Botânico Tropical, onde tínhamos estado com os mais belos cisnes e as mais belas árvores e os patos mais curiosos que já tínhamos visto. Apeteceu-nos um refresco e um bolo. A ver o rio. Estávamos ali sentadas as duas, a rir com o Pipas, que não se queria chamar Pipas de certeza, a Guigas a tentar apanhá-lo, o pseudo-dono a tentar apanhá-lo, o Pipas não parava de correr entre as mesas, a cheirar pernas, meias, sapatos, embalagens de gelados, guardanapos que tinham voado com o vento, aquela esplanada era o paraíso dos cheiros para o Pipas. Foi então que apareceu a senhora. Era uma senhora já velha, muito gentil, muito elegante, muito educada e reparei logo nela porque vinha carregada de livros. Dirigiu-se à nossa mesa e estendeu-nos um livro. Era um livro com muitas cores, branco, encarnado, verde, amarelo e um melro preto, de smoking. Tinha na capa um xilofone, um quadro preto, um marmelo, um violino, uma maçã e três sapos. E o melro, claro. O melro parecia estar a dar lições de matemática aos sapos. Com o livro estendido para nós, a senhora apresentou-se, dizendo simplesmente: sou a autora. A Guigas olhou para mim e acenou com a cabeça negativamente, como quem diz ignora. A senhora, sensível e atenta às crianças, pois era a autora de um livro para crianças, olhou para ela e explicou: sabes que estarias também a ajudar outras crianças, outras que não têm saúde, ao comprar este livro? A Guigas continuava a olhar para mim fixamente, até que lhe disse: Guigas, a senhora está a falar contigo. Aí ela procurou prestar atenção. A senhora abriu o livro e se a Guigas ainda estava duvidosa, eu já não estava. O livro tinha letras de várias côres, poemas, desenhos, músicas com notas... aquele melro devia ser extraordinariamente criativo e inteligente. Além disso, Aida Cordeiro trazia os livros debaixo dos braços. Quanto é? Eu fico com um. Cinco euros. O livro custava cinco euros. E era um livro tão lindo, com tantas cores, tanta magia. A troca fez-se rapida e silenciosamente. Sorrimos uma para a outra. Que lindo livro! Obrigada, Aida Cordeiro. O livro tem lições de história, matemática e música e está quase todo escrito em poema. Se algum dia, algum de vós tiver a sorte de se cruzar com Aida Cordeiro, nascida em Trás-Os-Montes, onze anos vividos em Moçambique e professora do ensino básico desde 1972 em Lisboa, não percam a oportunidade de comprar O Melro.



segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Now Lady Gregory was Yeats' patron, this Irish person, and though I'd never seen her image, I was just sure that this was the face of Lady Gregory. So I'm walking along, and Lady Gregory turns to me and says, "Let me explain to you the nature of the universe. Philip K. Dick is right about time, but he's wrong that it's 50 A.D. Actually, there's only one instant, and it's right now, and it's eternity. And it's an instant in which God is posing a question, and that question is basically, 'Do you want to be one with eternity? Do you want to be in heaven?' And we're all saying, 'No thank you. Not just yet.' And so time actually is just this constant saying No to God's invitation. That's what time is, and it's no more 50 A.D. than it's 2001. There's just this one instant, and that's what we're always in." Then she tells me that actually, this is the narrative of everyone's life. That behind the phenomenal differences, there is but one story, and that's the story of moving from No to Yes. All of life is like, "No thank you, no thank you, no thank you," then ultimately it's, "Yes, I give in, yes, I accept, yes, I embrace." That's the journey. Everyone gets to Yes in the end, right? — Richard Linklater, excerpt from the movie "Waking Life"

 

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

entre a Terra e a Lua
uma pedra canta 
aos surdos




segunda-feira, 31 de outubro de 2011

sábado, 29 de outubro de 2011






Somos sete biliões de humanos e vivemos em sete biliões de mundos diferentes. Estamos longe do fim e do princípio. Pensamos nós. Pensamos demais. Sentimos pouco. Talvez por medo.

domingo, 16 de outubro de 2011

Ordo ab chaos

Both read the Bible day and night, but 
thou read black where I read white.
William Blake












o caos é nosso filho

porque a ordem das coisas
vive na ponta de frágeis paus
mentiras insalubres e loisas
dancemos ordo ab chaos

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Não creias, Lídia que nenhum estio
Por nós perdido possa regressar
Oferecendo a flor
Que adiámos colher.


Cada dia te é dado uma só vez
E no redondo círculo da noite
Não existe piedade
Para aquele que hesita.


Mais tarde será tarde e já é tarde.
O tempo apaga tudo menos esse
Longo indelével rasto
Que o não-vivido deixa.


Não creias na demora em que te medes.
Jamais se detém Kronos cujo passo
Vai sempre mais à frente
Do que o teu próprio passo. 

Sophia de Mello Breyner Andresen

folhas soltas

a tua alma apontada (1) A viagem da alma (28) Agnieszka Kurowska (1) Agostinho da Silva (2) Agustina Bessa-Luís (1) Aida Cordeiro (1) Al Berto (1) Alexandre Herculano (1) Alisteir Crowley (1) Almada Negreiros (2) Amanda Palmer (1) amigos (1) Ana Cristina Cesar (1) Ana Hatherly (1) Anne Stokes (1) Antero de Quental (1) António Lobo Antunes (2) António Ramos Rosa (2) Apocalyptica (1) apócrifos (2) Arte Virtual (1) as almas os pássaros (1) As Arqui-inimigas (1) Ashes and Snow (1) Auguste Rodin (1) autores preferidos (88) avós (1) Bocelli (1) Bon Jovi (1) Buda (1) Carl Sagan (1) Carolina (3) Caroline Hernandez (1) Catarina Nunes de Almeida (1) ce qu’il faut dépenser pour tuer un homme à la guerre (1) Cheyenne Glasgow (1) Chiyo-ni (1) Chogyam Trungpa Rinpoche (1) cinema (6) Cinema Paradiso (1) Clarice Lispector (1) Coldplay (1) Colin Horn (1) Constantin Brancusi (1) contos (28) Contos para crianças (6) Conversas com os meus cães (2) Curia (1) Daniel Faria (2) David Bohm (1) David Doubilet (1) Dítě (1) Do Mundo (32) Dylan Thomas (1) Eça de Queiroz (1) Eckhart Tolle (1) Edgar Allan Poe (1) Edmond Jabès (1) Elio Gaspari (1) Emily Dickinson (4) Ennio Morricone (1) Eric Serra (1) escultura (2) Federico Mecozzi (1) Fernando Pessoa (3) Fiama Hasse Pais Brandão (3) Fiona Joy Hawkins (1) Física (1) fotografia (9) Francesco Alberoni (1) Francisca (2) Fynn (1) Galileu (1) Gastão Cruz (2) Georg Szabo (1) George Bernanos (1) Giuseppe Tornatore (1) Gnose (2) Gonçalo M. Tavares (1) Gregory Colbert (1) Haiku (1) Hans Christian Andersen (1) Hans Zimmer (1) Henri de Régnier (1) Henry Miller (1) Herberto Helder (5) Hermes Trismegisto (1) Hilda Hilst (3) Hillsong (1) Hipácia de Alexandria (1) Igor Zenin (1) inteligência artificial (1) James Lovelock (1) Jean-François Rauzier (1) Jess Lee (1) João Villaret (1) Johannes Hjorth (1) Jonathan Stockton (1) Jorge de Sena (1) Jorge Luis Borges (2) Jorseth Raposo de Almeida (1) José Luís Peixoto (2) José Mauro de Vasconcelos (1) José Régio (1) José Saramago (1) Khalil Gibran (1) Krishnamurti (1) Kyrielle (1) Laura (1) Linkin Park (1) Lisa Gerrard (3) Live (1) Livros (1) Loukanikos (1) Luc Besson (1) Ludovico Einaudi (1) Luis Fonsi (1) Luís Vaz de Camões (1) Luiza Neto Jorge (1) Lupen Grainne (1) M. C. Escher (1) M83 (1) Machado de Assis (1) Madalena (1) Madan Kataria (1) Manuel Dias de Almeida (1) Manuel Gusmão (1) Marco Di Fabio (1) Margaret Mitchell (1) Maria Gabriela Llansol (1) Memórias (25) Michelangelo (1) Miguel de Cervantes y Saavedra (1) Miguel Esteves Cardoso (1) Miguel Sousa Tavares (1) Miguel Torga (1) Milan Kundera (1) música (25) Neil Gaiman (1) Nick Cave (1) Noite de todos os santos (1) O sal das lágrimas (2) Olavo de Carvalho (1) Orações (1) Orides Fontela (1) Orpheu (1) Oscar Wilde (3) Palavras preferidas (1) Palavras que odeio (1) Paolo Giordano (1) páscoa todos os dias (3) Patrick Cassidy (1) Paul Valéry (1) Paulo Melo Lopes (2) pensamentos (76) pintura (5) Platão (1) poemas (15) Poemas Gregos (2) Poesia (2) prosas (25) Prosas soltas (1) Radin Badrnia (1) Richard Linklater (1) rios de março (1) Roland Barthes (1) Russell Stuart (1) Serafina (2) Shalom Ormsby (1) Sigur Rós (1) Simone Weil (1) sobrinhas (5) Sócrates Escolástico (1) Sofia Raposo de Almeida (176) Sophia de Mello Breyner (14) Stephen Fry (1) Stephen Simpson (1) Steve Jobs (1) Susan J. Roche (1) Sytiva Sheehan (1) Teresa Vale (1) The Cinematic Orchestra (2) The Verve (1) Thomas Bergersen (1) Todd Gipstein (1) Tomás Maia (1) traduções de poemas (5) Uma Mulher na Foz de um Rio (4) valter hugo mãe (1) Vincent Fantauzzo (1) Wayne Roberts (1) wikihackers (1) William Blake (2) Yeshua (2) Yiruma (1)

cinco mais