as almas, os pássaros

as almas, os pássaros

as almas, os pássaros

as almas, os pássaros

segunda-feira, 12 de março de 2012







Os que avançam de frente para o mar
E nele enterram como uma aguda faca
A proa negra dos seus barcos
Vivem de pouco pão e de luar.

Sophia de Mello Breyner

quinta-feira, 8 de março de 2012

Todas as árvores nascem de uma semente. Menos a primeira árvore, cuja semente se transformou em semente por força de um sonho. É isso que os sonhos fazem. Criam impossibilidades. Os sonhos não são sementes. São caos. São desorganização e energia. Até que alguém pegue neles e crie com eles uma semente. Ou um ovo. São impossibilidades à partida, porque tudo ao redor deles, o que já é, luta contra eles. Isto porque a nova semente, o novo ovo, irá, com o tempo, destruir tudo o que é.

As crianças sabem sempre o que querem ser, quando forem grandes. Também eu, quando criança, o sabia. O problema é que nunca fiquei grande. Quando permanecemos crianças, não sentimos necessidade de transformar os sonhos em realidade. Continuamos a sonhar e os sonhos vão mudando e, com a ajuda dos que nos rodeiam e já não têm sonhos, mais pequenos. Quanto mais pequenos os sonhos, maior a quantidade. São niquitos de sonhos. Como pirilampos. São aos milhares, talvez biliões. Mas tão pirilampos e fugazes que nem damos conta deles, desaparecem antes que consigamos tocar-lhes, mas mantêm o nosso interior vivo e iluminado. Porque são muitos biliões de pirilampos.

Hoje é um dia especial, porque todos os pirilampos se uniram e criaram um sonho maior, assim como um elefante. Não é possível ignorar um elefante, mesmo que um elefante bebé. Quando surge o elefante, já nada consegue parar essa visão. Até hoje, os pirilampos eram esmagados debaixo de sapatos crescidos, mas não é possível os sapatos esmagarem um elefante. Até porque o elefante é invisível para os sapatos. A única mente que o vê é a mãe dos pirilampos e sonhadora do elefante. O elefante começa a andar e espera pela sonhadora. Ela terá de o acompanhar. A mãe dos pirilampos caminha agora com o elefante. Neste novo caminho, a mãe dos pirilampos terá de aprender a manter o elefante vivo, porque o elefante é a semente do caos.



sexta-feira, 2 de março de 2012

o ideal de um cão é, sem dúvida alguma,
uma cadela.
o ideal de uma cadela é, sem dúvida alguma,
um cão.

fazem muito barulho e têm muitas crias.

silenciosos, precisos, exactos são
os lobos.

por isso os matam.

quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012





Ai Orpheu, Orpheu! Por vezes temos mesmo de ir ao Inferno resgatar o Amor.

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Enquanto a única diferença entre o senhor e o escravo for a mão que segura o chicote, homem algum será livre.

sábado, 4 de fevereiro de 2012

quando tudo o que os alimenta é o sangue dos outros, porque não têm uma mulher que os ame, ou um filho que os admire, ou um único amigo em quem possam confiar, têm apenas o sangue dos outros, e os contratos que lhes permitem bebê-lo, porque não vêm a estrela do norte, a lua ou o sol, vêm apenas o vermelho escuro do sangue dos outros, que bebem sôfrega e amargamente, é natural que fiquem cada vez mais feios, chupados, com olheiras, porque o sangue dos outros bebe-os a eles.

[a propósito da entrevista a Ricardo Espírito Santo Salgado, presidente do Banco Espírito Santo 
e outros vassalos que quereriam ser como ele, sei lá eu porquê]

terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Porque já ninguém olha para ela.

North Star May Be Wasting Away




quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Constituição da República Portuguesa, Artigo 21.º, Direito de resistência

Todos têm o direito de resistir a qualquer ordem que ofenda os seus direitos, 
liberdades e garantias e de repelir pela força qualquer agressão, 
quando não seja possível recorrer à autoridade pública.


Os menos afoitos podem exercer o seu direito da segunda forma mais bela: sorrindo. Quanto aos mais afoitos, deles tudo e nada se pode esperar. Podem tudo, até o nada mais belo.



terça-feira, 17 de janeiro de 2012



eles, os donos, cangam os
criados, vós, cangais os
bois, nós, não cangamos o
touro, ele, não (te) canga
tu cangas(te),
eu não me cango,
ca(n)ga-te



quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

a vulgaridade é sempre premiada com um estrondoso aplauso


 

A que regressamos? Porque regressamos? Porquê o aparentemente infinito regresso a não sei que ponto de não sei que céu? Que melodia é esta que nos une e separa, que pulsa e nos pulsa e nos toma o pulso? E porque é que pergunto, se tudo o que escuto é um eco?

surda. devo estar surda. cega. tudo se confunde, letras, imagens, criaturas, vivências, memórias. fecho os olhos à noite e viro-os para dentro              então        
                     vejo o universo. por vezes é preto e adormeço logo. por vezes tem estrelas e galáxias, como a música que me mantém desperta, quando tem cores, sossego, as cores e as batidas de coração nas partículas, um silêncio estrondoso, melodioso, tudo nasce e morre, a conhecer-se, a conhecer-se, a conhecer-se. eco. ecoo em tudo. tudo ecoa em mim. regresso. não sei se dormi.



To what do we return? Why do we return? Why the seemingly endless return to "I do not know which point of I do not know which heaven"? What music is this that binds and separates us, that pulses and senses us and experiences us? And why do I ask if all I hear is echo?

deaf. i must be deaf. blind. everything merges, characters, images, creatures, lives, memories. i close my eyes at night and turn them inside. then
i see       the universe. sometimes it is black and i fall asleep instantly. sometimes it has stars and galaxies, as the music that keeps me awake. if it has colors, i rest. the colors and heartbeats in  particles, an astounding, melodic silence. everything is born and dies, knowing itself, knowing oneself, knowing the self. echo. i echo in everything. everything echoes in me. return. i can not tell if i ever slept.



folhas soltas

a tua alma apontada (1) A viagem da alma (28) Agnieszka Kurowska (1) Agostinho da Silva (2) Agustina Bessa-Luís (1) Aida Cordeiro (1) Al Berto (1) Alexandre Herculano (1) Alisteir Crowley (1) Almada Negreiros (2) Amanda Palmer (1) amigos (1) Ana Cristina Cesar (1) Ana Hatherly (1) Anne Stokes (1) Antero de Quental (1) António Lobo Antunes (2) António Ramos Rosa (2) Apocalyptica (1) apócrifos (2) Arte Virtual (1) as almas os pássaros (1) As Arqui-inimigas (1) Ashes and Snow (1) Auguste Rodin (1) autores preferidos (88) avós (1) Bocelli (1) Bon Jovi (1) Buda (1) Carl Sagan (1) Carolina (3) Caroline Hernandez (1) Catarina Nunes de Almeida (1) ce qu’il faut dépenser pour tuer un homme à la guerre (1) Cheyenne Glasgow (1) Chiyo-ni (1) Chogyam Trungpa Rinpoche (1) cinema (6) Cinema Paradiso (1) Clarice Lispector (1) Coldplay (1) Colin Horn (1) Constantin Brancusi (1) contos (28) Contos para crianças (6) Conversas com os meus cães (2) Curia (1) Daniel Faria (2) David Bohm (1) David Doubilet (1) Dítě (1) Do Mundo (32) Dylan Thomas (1) Eça de Queiroz (1) Eckhart Tolle (1) Edgar Allan Poe (1) Edmond Jabès (1) Elio Gaspari (1) Emily Dickinson (4) Ennio Morricone (1) Eric Serra (1) escultura (2) Federico Mecozzi (1) Fernando Pessoa (3) Fiama Hasse Pais Brandão (3) Fiona Joy Hawkins (1) Física (1) fotografia (9) Francesco Alberoni (1) Francisca (2) Fynn (1) Galileu (1) Gastão Cruz (2) Georg Szabo (1) George Bernanos (1) Giuseppe Tornatore (1) Gnose (2) Gonçalo M. Tavares (1) Gregory Colbert (1) Haiku (1) Hans Christian Andersen (1) Hans Zimmer (1) Henri de Régnier (1) Henry Miller (1) Herberto Helder (5) Hermes Trismegisto (1) Hilda Hilst (3) Hillsong (1) Hipácia de Alexandria (1) Igor Zenin (1) inteligência artificial (1) James Lovelock (1) Jean-François Rauzier (1) Jess Lee (1) João Villaret (1) Johannes Hjorth (1) Jonathan Stockton (1) Jorge de Sena (1) Jorge Luis Borges (2) Jorseth Raposo de Almeida (1) José Luís Peixoto (2) José Mauro de Vasconcelos (1) José Régio (1) José Saramago (1) Khalil Gibran (1) Krishnamurti (1) Kyrielle (1) Laura (1) Linkin Park (1) Lisa Gerrard (3) Live (1) Livros (1) Loukanikos (1) Luc Besson (1) Ludovico Einaudi (1) Luis Fonsi (1) Luís Vaz de Camões (1) Luiza Neto Jorge (1) Lupen Grainne (1) M. C. Escher (1) M83 (1) Machado de Assis (1) Madalena (1) Madan Kataria (1) Manuel Dias de Almeida (1) Manuel Gusmão (1) Marco Di Fabio (1) Margaret Mitchell (1) Maria Gabriela Llansol (1) Memórias (25) Michelangelo (1) Miguel de Cervantes y Saavedra (1) Miguel Esteves Cardoso (1) Miguel Sousa Tavares (1) Miguel Torga (1) Milan Kundera (1) música (25) Neil Gaiman (1) Nick Cave (1) Noite de todos os santos (1) O sal das lágrimas (2) Olavo de Carvalho (1) Orações (1) Orides Fontela (1) Orpheu (1) Oscar Wilde (3) Palavras preferidas (1) Palavras que odeio (1) Paolo Giordano (1) páscoa todos os dias (3) Patrick Cassidy (1) Paul Valéry (1) Paulo Melo Lopes (2) pensamentos (76) pintura (5) Platão (1) poemas (15) Poemas Gregos (2) Poesia (2) prosas (25) Prosas soltas (1) Radin Badrnia (1) Richard Linklater (1) rios de março (1) Roland Barthes (1) Russell Stuart (1) Serafina (2) Shalom Ormsby (1) Sigur Rós (1) Simone Weil (1) sobrinhas (5) Sócrates Escolástico (1) Sofia Raposo de Almeida (176) Sophia de Mello Breyner (14) Stephen Fry (1) Stephen Simpson (1) Steve Jobs (1) Susan J. Roche (1) Sytiva Sheehan (1) Teresa Vale (1) The Cinematic Orchestra (2) The Verve (1) Thomas Bergersen (1) Todd Gipstein (1) Tomás Maia (1) traduções de poemas (5) Uma Mulher na Foz de um Rio (4) valter hugo mãe (1) Vincent Fantauzzo (1) Wayne Roberts (1) wikihackers (1) William Blake (2) Yeshua (2) Yiruma (1)

cinco mais