sábado, 24 de janeiro de 2009
sábado, 10 de janeiro de 2009
sexta-feira, 9 de janeiro de 2009
Odeio gravatas. Ainda bem que não tenho que as usar. Olho para elas e vejo uma trela. Nem os meus cães usam trela. Considero a trela algo de humilhante, além de que eu própria não suporto nada enrolado à volta do pescoço. Olho para as gravatas e apetece-me puxá-las ou rasgá-las.
Odeio fardas, odeio fatos, odeio planos de negócios e orçamentos. Odeio analistas e economistas. Odeio planos de contingência. Odeio armas. Odeio carros. Odeio betão e alcatrão. Odeio rentabilidades e EBITDAs. Odeio o poder exercido em egoísmo. Odeio conversas de circunstância. Odeio o que fazem às crianças. Odeio a forma como o dinheiro é utilizado. Odeio os falsos sorrisos, as falsas amizades e as perguntas que não estão interessadas nas respostas.
Odeio chefes, directores e administradores e presidentes do conselho de administração. Odeio accionistas e planos de poupança.
Odeio agendas e relógios, odeio emparedamentos no tempo. Odeio grades e fechaduras e portas e janelas fechadas. Odeio modas e ditos politicamente correctos. Odeio perfumes artificiais e fast-food.
Odeio gravatas. Trelas. Mesmo as de seda. Ainda bem que não tenho que as usar.
segunda-feira, 15 de dezembro de 2008
As paredes, não se leia paredes, medem-se pelo número de humanos, não se leia humanos, a quem conseguem suportar o esforço sem ruir. Neste sentido, científico e sistematicamente estruturado, ignorem-se duas vírgulas e três pontos, o mesmo que consolidou enquanto objecto de estudo dinâmico a interoperabilidade entre dunas de fraca consolidação, particularmente atreitas às rachadas tempestades, acrescente-se água, vindas do mais brusco e estúpido oceano, escolha-se um deles, a que a vossa memória profunda, medir a profundidade por meio de sistema hidráulico que comporte uma régua e um nível, possa aceder, virados a leste sempre que os cardeais, que não os padres, antes os pontos, que seria absurdo falar da religiosidade dos cardeais considerando-os referenciais da rosa-dos-ventos, use-se uma outra flor qualquer, assim o permitem, as paredes, não se leia as paredes, consolidam-se estrutura plana e côncava que suporta e abriga a humanidade, ignore-se a humanidade, leia-se outra palavra começada por h que não humidade. As paredes não são náufragos da história; espreguiçam-se em todo o esplendor quando há rasto de olhar humano, franzir a sobrancelha, que é quase uma constante, tão constante quão constante pode ser a constância da ida e volta, ida e volta, ida e volta das marés de gente, repetir sem parar. Paredes a olhar olhos humanos, usar ditongo, olhos humanos a olhar paredes, usar não ditongo. Tão antiga é a parede que não se sabe quem primeiro chegou, se a parede se o olhar, que a obra é anterior ao olhar, mas antes de ser parede já o olhar. Se o olhar forma a parede, é a solidez da rocha que lhe consolida o carácter, substituir por uma outra palavra que não use do verbo ser, e esse, não obstante o peso do olhar, use-se uma balança de pesar-olhares, não se compadece com a tecedura, sentir o tecido a escorrer pela mão esquerda, de olhar verde, azul, castanho, preto, amarelo, vermelho, multicolor: as paredes não se medem pelo olhar, ignore-se a letra h duas vezes consecutivas, nem pela cor dos olhos que as olham: as paredes medem-se pelo número de humanos a quem conseguem suportar o esforço sem ruir com ruído ou com ruído sem ruir. Chegar ao final e não recomeçar.
Paulo Melo Lopes
segunda-feira, 1 de dezembro de 2008
E sem medo nem dó nos destruímos,
Se morremos em tudo o que sentimos
E podemos cantar, é porque estamos
Nus em sangue, embalando a própria dor
Em frente às madrugadas do amor.
Quando a manhã brilhar refloriremos
E a alma possuirá esse esplendor
Prometido nas formas que perdemos.
segunda-feira, 24 de novembro de 2008
segunda-feira, 20 de outubro de 2008
quinta-feira, 21 de agosto de 2008
Há muitas eras atrás, vivia no Ribatejo um Rei foragido. Ele era um foragido, porque embora tivesse nascido Rei, nunca o tinha querido ser. E assim, quando a ocasião se proporcionou, pela calada de uma certa noite, aparelhou e montou o cavalo que havia pertencido a seu Pai, o Rei-Surdo e cavalgou, cavalgou, até chegar ao Ribatejo. Aí, soltou o cavalo, que imediatamente se sentiu em casa com os seus amigos Lusitanos selvagens, e refugiou-se numa pequena casa de cal, abandonada.
E durante anos e anos, alimentado por uma fada e inspirado pela Musa branca, prosseguiu com a sua Poesia, ao ritmo de apenas dois poemas por mês, porque não conseguiu esquecer totalmente a sua educação de Rei e tudo tinha de ser perfeito, poderoso e brilhante, como o trono e coroa que rejeitara. Não foi Rei-Poeta, mas foi Poeta-Rei.
quinta-feira, 12 de junho de 2008
domingo, 20 de abril de 2008
De uma terra à outra o azul profundo. Ondas de prata correm de terra a terra e entre elas e o céu sopram os ventos. Batem nos rochedos, de terra a terra, ilha a ilha, peito a peito. Os rios desistem e transbordam. Derretem as neves nos limites da vida, o oxigénio precipita-se no espaço por entre a aurora boreal. As árvores queimadas, os pulmões param. Dói respirar, as asas partidas no chão. Pois agora ergo-me e danço, rodopio no vento, recolho as folhas e as asas e os olhos dourados dos lobos mortos, salto de onda em onda, atravesso o mar todo e vejo-me nas estrelas.
Sou a vida. Sobreviverei no átomo, respirarei no vazio, sem pulmões.
folhas soltas
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