Inês não respondeu. Mas murmurou: a escuridão é luz suspensa, inerte, como pulmões que pararam de respirar. Não respira. Onde há um respirar, há luz. A escuridão espera, dela nascem as coisas. Mas há lugares na escuridão que estão demasiado quietos. Adormecidos, estagnados, nesses lugares não nasce nada, são abismais. Não quero ir a esses lugares. Não queres saber o que se passa lá? Está a crescer, nada se move lá. Não quero.
terça-feira, 19 de maio de 2009
por
Sofia
on
terça-feira, maio 19, 2009
Sempre estiveram vazias, as mãos. Por isso, não posso atirar nada. Mas posso desligar a luz. A minha luz. De qualquer forma, a luz desligou-se sozinha. Sei que é temporário. Ilumino-me facilmente. Aliás, é preciso muito para que a luz se apague em mim. Muito ou pouco. Tanto ou tão pouco como para me iluminar. Quando olho para trás, sei que é pouco. Agora parece muito. Parece o mundo inteiro contra mim ou eu contra o mundo inteiro. Ainda bem que posso andar para a frente e olhar para trás. Não gosto de estar onde estou agora. Dói. É um mau sítio. Por isso, por vezes recuo, depois avanço, olho para a frente, olho para trás, agora está escuro, a luz apagou-se, mas a alma acender-se-à de novo no futuro, quer queira quer não. Não há opção. É assim mesmo. Olho para a frente e para trás e sei como tudo isto é ridículo, como estou a desperdiçar tempo. Aprende. Mas nunca aprendi nada quando a luz se desliga. Aprende o que é a escuridão. Já sei. Sempre o soube. Porque tenho que regressar sempre a este ponto? Conheço o abismo, caí nele vezes sem conta. O que falta, de que é que me esqueci? Não sei. Neste estado, não vejo nada. Fecha os olhos e sente. Tê-los abertos, de facto, de nada serve. Sentir o quê? Não quero sentir isto. Tens medo. Admite-o. Simplesmente, não quero. É medo. E se for? Sabes o que é ser queimada viva? Sabes o que é ser entregue por aquele em quem mais confiavas? A luz apaga-se. Toda a luz. Tens de ser mais discreta. Isso já aprendi. Confronta as memórias.
publicado em
A viagem da alma
,
contos
,
Sofia Raposo de Almeida
|
sem comentários
Subscrever:
Enviar feedback
(
Atom
)
folhas soltas
a tua alma apontada
(1)
A viagem da alma
(28)
Agnieszka Kurowska
(1)
Agostinho da Silva
(2)
Agustina Bessa-Luís
(1)
Aida Cordeiro
(1)
Al Berto
(1)
Alexandre Herculano
(1)
Alisteir Crowley
(1)
Almada Negreiros
(2)
Amanda Palmer
(1)
amigos
(1)
Ana Cristina Cesar
(1)
Ana Hatherly
(1)
Anne Stokes
(1)
Antero de Quental
(1)
António Lobo Antunes
(2)
António Ramos Rosa
(2)
Apocalyptica
(1)
apócrifos
(2)
Arte Virtual
(1)
as almas os pássaros
(1)
As Arqui-inimigas
(1)
Ashes and Snow
(1)
Auguste Rodin
(1)
autores preferidos
(88)
avós
(1)
Bocelli
(1)
Bon Jovi
(1)
Buda
(1)
Carl Sagan
(1)
Carolina
(3)
Caroline Hernandez
(1)
Catarina Nunes de Almeida
(1)
ce qu’il faut dépenser pour tuer un homme à la guerre
(1)
Cheyenne Glasgow
(1)
Chiyo-ni
(1)
Chogyam Trungpa Rinpoche
(1)
cinema
(6)
Cinema Paradiso
(1)
Clarice Lispector
(1)
Coldplay
(1)
Colin Horn
(1)
Constantin Brancusi
(1)
contos
(28)
Contos para crianças
(6)
Conversas com os meus cães
(2)
Curia
(1)
Daniel Faria
(2)
David Bohm
(1)
David Doubilet
(1)
Dítě
(1)
Do Mundo
(32)
Dylan Thomas
(1)
Eça de Queiroz
(1)
Eckhart Tolle
(1)
Edgar Allan Poe
(1)
Edmond Jabès
(1)
Elio Gaspari
(1)
Emily Dickinson
(4)
Ennio Morricone
(1)
Eric Serra
(1)
escultura
(2)
Federico Mecozzi
(1)
Fernando Pessoa
(3)
Fiama Hasse Pais Brandão
(3)
Fiona Joy Hawkins
(1)
Física
(1)
fotografia
(9)
Francesco Alberoni
(1)
Francisca
(2)
Fynn
(1)
Galileu
(1)
Gastão Cruz
(2)
Georg Szabo
(1)
George Bernanos
(1)
Giuseppe Tornatore
(1)
Gnose
(2)
Gonçalo M. Tavares
(1)
Gregory Colbert
(1)
Haiku
(1)
Hans Christian Andersen
(1)
Hans Zimmer
(1)
Henri de Régnier
(1)
Henry Miller
(1)
Herberto Helder
(5)
Hermes Trismegisto
(1)
Hilda Hilst
(3)
Hillsong
(1)
Hipácia de Alexandria
(1)
Igor Zenin
(1)
inteligência artificial
(1)
James Lovelock
(1)
Jean-François Rauzier
(1)
Jess Lee
(1)
João Villaret
(1)
Johannes Hjorth
(1)
Jonathan Stockton
(1)
Jorge de Sena
(1)
Jorge Luis Borges
(2)
Jorseth Raposo de Almeida
(1)
José Luís Peixoto
(2)
José Mauro de Vasconcelos
(1)
José Régio
(1)
José Saramago
(1)
Khalil Gibran
(1)
Krishnamurti
(1)
Kyrielle
(1)
Laura
(1)
Linkin Park
(1)
Lisa Gerrard
(3)
Live
(1)
Livros
(1)
Loukanikos
(1)
Luc Besson
(1)
Ludovico Einaudi
(1)
Luis Fonsi
(1)
Luís Vaz de Camões
(1)
Luiza Neto Jorge
(1)
Lupen Grainne
(1)
M. C. Escher
(1)
M83
(1)
Machado de Assis
(1)
Madalena
(1)
Madan Kataria
(1)
Manuel Dias de Almeida
(1)
Manuel Gusmão
(1)
Marco Di Fabio
(1)
Margaret Mitchell
(1)
Maria Gabriela Llansol
(1)
Memórias
(25)
Michelangelo
(1)
Miguel de Cervantes y Saavedra
(1)
Miguel Esteves Cardoso
(1)
Miguel Sousa Tavares
(1)
Miguel Torga
(1)
Milan Kundera
(1)
música
(25)
Neil Gaiman
(1)
Nick Cave
(1)
Noite de todos os santos
(1)
O sal das lágrimas
(2)
Olavo de Carvalho
(1)
Orações
(1)
Orides Fontela
(1)
Orpheu
(1)
Oscar Wilde
(3)
Palavras preferidas
(1)
Palavras que odeio
(1)
Paolo Giordano
(1)
páscoa todos os dias
(3)
Patrick Cassidy
(1)
Paul Valéry
(1)
Paulo Melo Lopes
(2)
pensamentos
(76)
pintura
(5)
Platão
(1)
poemas
(15)
Poemas Gregos
(2)
Poesia
(2)
prosas
(25)
Prosas soltas
(1)
Radin Badrnia
(1)
Richard Linklater
(1)
rios de março
(1)
Roland Barthes
(1)
Russell Stuart
(1)
Serafina
(2)
Shalom Ormsby
(1)
Sigur Rós
(1)
Simone Weil
(1)
sobrinhas
(5)
Sócrates Escolástico
(1)
Sofia Raposo de Almeida
(176)
Sophia de Mello Breyner
(14)
Stephen Fry
(1)
Stephen Simpson
(1)
Steve Jobs
(1)
Susan J. Roche
(1)
Sytiva Sheehan
(1)
Teresa Vale
(1)
The Cinematic Orchestra
(2)
The Verve
(1)
Thomas Bergersen
(1)
Todd Gipstein
(1)
Tomás Maia
(1)
traduções de poemas
(5)
Uma Mulher na Foz de um Rio
(4)
valter hugo mãe
(1)
Vincent Fantauzzo
(1)
Wayne Roberts
(1)
wikihackers
(1)
William Blake
(2)
Yeshua
(2)
Yiruma
(1)
cinco mais
-
Todas as árvores nascem de uma semente. Menos a primeira árvore, cuja semente se transformou em semente por força de um sonho. É isso que ...
-
São duas e vinte e dois da manhã. Trouxe o portátil para o piso térreo da casa. Aqui não se ouvem cantar os estranhos pássaros nocturnos, q...
-
And death shall have no dominion. Dead men naked they shall be one With the man in the wind and the west moon; When their bones are pic...
-
Não se perdeu nenhuma coisa em mim. Continuam as noites e os poentes Que escorreram na casa e no jardim, Continuam as vozes diferentes Q...
0 comments :
Enviar um comentário