Sobre a pele
vestia apenas uma camisa curta de seda prateada, os cabelos lisos e soltos, ainda húmidos do banho. Deitou-se sobre a cama de madeiras exóticas, agora proibidas. Um leve aroma a jasmim azul evolava dos lençóis brancos de linho acabados de lavar. Muito devagar, como se cada osso do seu corpo lhe doesse, enrolou-se em posição fetal. Fechou os olhos. Lentamente, o dia expirou, a luz agoniando suavemente e o silêncio e a escuridão foram-se instalando, as formas das coisas vivas e mortas a desfazerem-se como borrões de tinta escura na água nova da noite. Sob as suas pálpebras fechadas, as sombras luminosas deram lugar às sombras cinzentas e depois sobraram apenas rolos e chamas de luz de várias côres, que dançaram dentro dos seus olhos, com o ritmo do bater de um coração, até que, num rápido piscar de olhos, os eliminou. Lá fora, o vento parou e as aves calaram-se. Os insectos pousaram quietos e assustados. As lagartixas refugiaram-se nos buracos das pedras.
O silêncio tornou-se absoluto.
Sobrou apenas o marulhar rouco e incomodativo da sua própria respiração, até que este marulhar incessante, como a voz de um mar esquecido e absurdo, a enfureceu. Emitiu um último breve soluço e
parou de respirar.
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