segunda-feira, 12 de março de 2012
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segunda-feira, março 12, 2012
aquela palavra que diz tudo, não é uma palavra
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Sofia Raposo de Almeida
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segunda-feira, março 12, 2012
gostava de saber o que é a fome, mas na minha sala apareceu-me a raiva. foi a criatura mais assustadora que enfrentei. a raiva, com os seus olhos vermelhos, a carne líquida e pegajosa a escorrer-lhe dos ossos, a tropeçar nos longos cabelos brancos, ralos, a raiva destruiu-me a sala. e eu fiquei quieta, no meu canto, enquanto ela mordia os meus amigos e me rasgava as pinturas, com garras afiadas e me mordia as palavras com dentes como punhais e me partia as mesas e os instrumentos de música e me queimava os livros com vómitos de fogo, a família pintada de cinzentos, a raiva entrou-me na sala e destruiu-me a casa e eu fiquei a olhar, quieta, olhos negros crivados nos olhos vermelhos da raiva, a sala a ser destruída, lá se vão as pinturas, os livros, as fotografias, os amigos foram-se, a família cinzenta, os que ficaram, deixei de os ver, mas ouvia-os, em sólida voz, mesmo com as palavras a quebrarem-se, os candeeiros a arderem. gostava de saber o que é a fome, disse eu à raiva e a raiva continuou, anos a fio, a partir-me tudo. mas o que é a fome, perguntei-lhe, olhos negros crivados nos olhos vermelhos, pensativa, diz-me o que é a fome. não havia mais nada para partir e só há raiva onde não há fome. a raiva fitou-me, exausta. o que é a fome? perguntei-lhe. a raiva saiu da minha sala, nunca fora convidada, a tropeçar nos seus longos cabelos brancos, a carne líquida a escorrer-lhe dos ossos, a casa destruída, a sala, os livros, a música, os amigos, a família, a raiva saiu-me da sala, exausta, a tremer.
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Sofia Raposo de Almeida
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segunda-feira, março 12, 2012
Os que avançam de frente para o mar
E nele enterram como uma aguda faca
A proa negra dos seus barcos
Vivem de pouco pão e de luar.
Sophia de Mello Breyner
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Sophia de Mello Breyner
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quinta-feira, 8 de março de 2012
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quinta-feira, março 08, 2012
Todas as árvores nascem de uma semente. Menos a primeira árvore, cuja
semente se transformou em semente por força de um sonho. É isso que os
sonhos fazem. Criam impossibilidades. Os sonhos não são sementes. São
caos. São desorganização e energia. Até que alguém pegue neles e crie
com eles uma semente. Ou um ovo. São impossibilidades à partida, porque
tudo ao redor deles, o que já é, luta contra eles. Isto porque a nova
semente, o novo ovo, irá, com o tempo, destruir tudo o que é.
As crianças sabem sempre o que querem ser, quando forem grandes. Também
eu, quando criança, o sabia. O problema é que nunca fiquei grande.
Quando permanecemos crianças, não sentimos necessidade de transformar os
sonhos em realidade. Continuamos a sonhar e os sonhos vão mudando e,
com a ajuda dos que nos rodeiam e já não têm sonhos, mais pequenos.
Quanto mais pequenos os sonhos, maior a quantidade. São niquitos de
sonhos. Como pirilampos. São aos milhares, talvez biliões. Mas tão pirilampos
e fugazes que nem damos conta deles, desaparecem antes que consigamos
tocar-lhes, mas mantêm o nosso interior vivo e iluminado. Porque são
muitos biliões de pirilampos.
Hoje é um dia especial, porque todos os pirilampos se uniram e criaram um sonho maior, assim como um elefante. Não é possível ignorar um elefante, mesmo que um elefante bebé. Quando surge o elefante, já nada consegue parar essa visão. Até hoje, os pirilampos eram esmagados debaixo de sapatos crescidos, mas não é possível os sapatos esmagarem um elefante. Até porque o elefante é invisível para os sapatos. A única mente que o vê é a mãe dos pirilampos e sonhadora do elefante. O elefante começa a andar e espera pela sonhadora. Ela terá de o acompanhar. A mãe dos pirilampos caminha agora com o elefante. Neste novo caminho, a mãe dos pirilampos terá de aprender a manter o elefante vivo, porque o elefante é a semente do caos.
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Sofia Raposo de Almeida
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sexta-feira, 2 de março de 2012
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sexta-feira, março 02, 2012
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Sofia Raposo de Almeida
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quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012
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quarta-feira, fevereiro 29, 2012
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Orpheu
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Sofia Raposo de Almeida
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quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012
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quarta-feira, fevereiro 15, 2012
Enquanto a única diferença entre o senhor e o escravo for a mão que segura o chicote, homem algum será livre.
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Sofia Raposo de Almeida
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sábado, 4 de fevereiro de 2012
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sábado, fevereiro 04, 2012
quando tudo o que os alimenta é o sangue dos outros, porque não têm uma mulher que os ame, ou um filho que os admire, ou um único amigo em quem possam confiar, têm apenas o sangue dos outros, e os contratos que lhes permitem bebê-lo, porque não vêm a estrela do norte, a lua ou o sol, vêm apenas o vermelho escuro do sangue dos outros, que bebem sôfrega e amargamente, é natural que fiquem cada vez mais feios, chupados, com olheiras, porque o sangue dos outros bebe-os a eles.
[a propósito da entrevista a Ricardo Espírito Santo Salgado, presidente do Banco Espírito Santo
e outros vassalos que quereriam ser como ele, sei lá eu porquê]
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Sofia Raposo de Almeida
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terça-feira, 31 de janeiro de 2012
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terça-feira, janeiro 31, 2012
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Sofia Raposo de Almeida
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quinta-feira, 19 de janeiro de 2012
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quinta-feira, janeiro 19, 2012
Constituição da República Portuguesa, Artigo 21.º, Direito de resistência
Todos têm o direito de resistir a qualquer ordem que ofenda os seus direitos,
liberdades e garantias e de repelir pela força qualquer agressão,
quando não seja possível recorrer à autoridade pública.
Os menos afoitos podem exercer o seu direito da segunda forma mais bela: sorrindo. Quanto aos mais afoitos, deles tudo e nada se pode esperar. Podem tudo, até o nada mais belo.
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Sofia Raposo de Almeida
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terça-feira, 17 de janeiro de 2012
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terça-feira, janeiro 17, 2012
eles, os donos, cangam os
criados, vós, cangais os
bois, nós, não cangamos o
touro, ele, não (te) canga
tu cangas(te),
eu não me cango,
ca(n)ga-te
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Sofia Raposo de Almeida
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