quinta-feira, 20 de setembro de 2012
uma só palavra que a inspiração dos povos deixasse
virgem de sentido e que,
vinda de um ponto fogoso da treva, batesse
como um raio
nos telhados de uma vida, e o céu
com águas e astros
caísse sobre esse rosto dormente, essa fechada
exaltação.
Que palavra seria, ignoro. O nome talvez
de um instrumento antigo, um nome ligado
à morte – veneno, punhal, rio
bárbaro onde
os afogados aparecem cegamente abraçados a enormes
luas impassíveis. Um abstracto nome de mulher ou pássaro.
Quem sabe? – Espelho, Cotovia, ou a desconhecida
palavra Amor.
Herberto Helder
E dir-te-ão, vê aqui, ou vê além. Não os ouças nem os sigas.
Pois como o relâmpago, que liga o Céu e a Terra, assim será o Filho do Homem no seu Dia. Mas antes, terás de experimentar muito e ser a negação da tua geração.
Yeshua, segundo Loukás
eu e as árvores
eu e a terra
eu e o ar
eu e o mar
eu e o fogo
eu e o nada
eu, tu, tudo, nada
Horror é a falsa compaixão dos políticos cobertos de ganância.
Horror é a pele ensanguentada do carneiro morto sobre as bestas.
Horror é a falsa glória a escorrer baba sobre a barriga do cavalo aberta pelos cornos do touro.
Horror é a falsa vitória do ego a saltar numa bola de fome.
Horror é o aplauso dos escravos aos carrascos.
Por vezes é necessário um período de zanga e de reconciliação com as palavras.
As coisas são coisas, são coisas que são como são, quando não queremos dar-lhe um nome, acima de todos os nomes, as coisas, coisas que nos levam a aprender, a crescer.
Acima de todos os nomes existe o que não tem nome, não tem som, não tem palavras.
E é isso mesmo que procuram as palavras, lavrando o caminho com luz e escuridão.
os espinhos das rosas é que nos mantêm despertos
saudade de adormecer, mas
os espinhos das rosas
os espinhos
da rosa
o sangue da carne
vermelho
como as rosas
a minha rosa
os espinhos
acordam-me
quarta-feira, 22 de agosto de 2012
Não deixa de ser uma enorme vaidade imaginar que estamos despertos no meio dos que dormem. A nossa vaidade leva-nos a inventar estrelas ardentes que atiramos aos outros, sabendo que entre eles não há um único capaz de segurar uma estrela com a ponta do dedo mindinho. Imaginamos que estamos despertos, mas nenhum de nós tem um sorriso na cara, aquele sorriso mistura de dentes e riso, amor e humildade, dos que enterrados na carne chegaram finalmente à raíz e dela beberam a primeira água-luz perfumada e limpa. Se nem o sorriso temos, muito menos temos asas ou sabemos criar estrelas, nem tratámos de quebrar os ossos, rasgar veias e artérias, dilacerar órgãos e romper a carne e trepar pela raíz acima, desfeitos e nús, em pleno vôo, nem parámos a meio, por compaixão, nem mesmo nos sentámos então de pernas cruzadas a rir, de nós e dos outros. E se mesmo assim, algum de entre nós tivesse passado por tudo isto, teria fingido dormir de novo, com um só olho aberto, à espera dos seus irmãos?
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