Não resisto a partilhar. Até porque as gémeas já são adolescentes e ninguém as irá reconhecer. Acima de tudo, ri hoje a bom rir com elas com o nome que a prima deu à fotografia. Tico e Teco. Cada uma parece esconder uma noz na boca, Tico e Teco. Absolutamente deliciosas, acabadas de descer das árvores, convencidas de que ninguém viu. As nozes. Os segredos de criança. Amo-as muito.
quinta-feira, 21 de outubro de 2010
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Sofia
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quinta-feira, outubro 21, 2010
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segunda-feira, 18 de outubro de 2010
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Sofia
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segunda-feira, outubro 18, 2010
usurar
verbo intransitivo
emprestar dinheiro (ou outra coisa) exigindo juros superiores aos estabelecidos por lei; viver da usura
(De usura+-ar)
Fonte: Infopedia
Ora, e será assim tão difícil mudar a Lei?
Fotografia de Michael Blann
verbo intransitivo
emprestar dinheiro (ou outra coisa) exigindo juros superiores aos estabelecidos por lei; viver da usura
(De usura+-ar)
Fonte: Infopedia
Ora, e será assim tão difícil mudar a Lei?
Fotografia de Michael Blann
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Palavras que odeio
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Sofia Raposo de Almeida
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terça-feira, 12 de outubro de 2010
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terça-feira, outubro 12, 2010
Hoje vieram ter comigo à saída da floresta, mesmo antes do viaduto. Vieram aos bandos. Não os consegui ver, mas ouvi-os, cantavam alto e alegremente, como numa conversa sobre esquilos, avelãs e o cheiro das folhas de eucalipto, os troncos a descascar prata e oiro com a chuva recente. Eram tantos. Senti-me profundamente grata, como uma criança, como quando era criança, pelo orvalho, a gratidão de ver o orvalho nas folhas de manhã, a caminho da escola, e consegui mais tarde no dia atravessar uma passadeira ao lado de um pombo gordo e preto, devagar como ele, ao ritmo dele, o barulho dos humanos era ensurdecedor, somos tantos, já não vejo as pessoas, tanta vaidade, tanta gravata, tanta ignorância, tão barulhentos, os homens, os egos enormes, as gravatas, a pressa, a arrogância, os poderes de coisa nenhuma, aqueles que são máscaras, e eu silenciosa com o pombo gordo e preto, bamboleante como um perú na véspera do natal, inchado de poluição, um pombo muito preto, na passadeira seguinte uma pomba voou ao meu lado, empresta-me as tuas asas, a pomba era cinzenta e branca, eles não saíram da floresta, mas agora sei que estão ali, à minha espera, nas manhãs, falam de esquilos e árvores e dos frutos de outono e do cheiro dos eucaliptos, pensei que iam entrar por ali dentro como os de Hitchcock, mas não, eram alegres e o outro, ainda tão jovem, o homem apressado que não larga o computador, pediu-me para lhe ir comprar um livro que ensina a viver devagar e eu percebi que tudo tem, de facto, um sentido qualquer, a ideia do livro veio com os pássaros da manhã.
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Do Mundo
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Sofia Raposo de Almeida
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terça-feira, 5 de outubro de 2010
por
Sofia
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terça-feira, outubro 05, 2010
Súbitamente o sentimento que a inundava encheu-a de dor e vergonha, como se tudo estivesse errado, o mundo virado do avesso, a eternidade já não fosse coisa sua, nem o sentimento fosse coisa sua, tornara-se um estranho, algo que agora não deveria ter existido nunca, um erro profundo, algo que parecia devorá-la por dentro, as visões e memórias em cacos afiados como punhais a estilhaçarem-lhe o cérebro e os olhos, um punho fechado de gelo vermelho paralisado dentro do peito, depois negro, depois transparente, depois nada.
Um breve nada - seguido de água furiosa, a jorrar branca e fria por todo o lado dentro de si, a comprimir o sentimento, a tentar expulsá-lo, a comprimi-lo cada vez mais, e o sentimento - que é estrela - a inchar desmesuradamente, até que simplesmente implode sobre si mesmo, e depois explode para fora dela, numa nuvem de luz e fogo, evaporando-se no espaço em redor, desaparecendo do tempo, todo o tempo, por toda a eternidade.
E daquele ponto no presente - é sempre apenas um ponto, o Agora, onde tudo acontece - o passado mudou desde o princípio e o futuro desviou-se.
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contos
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Sofia Raposo de Almeida
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segunda-feira, 20 de setembro de 2010
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segunda-feira, setembro 20, 2010
Esta frase estava escrita nas paredes interiores da Associação Naval de Lisboa. Nunca me esqueci dela. E nesta altura, o poema que Fernando Pessoa escreveu com base nela, parece-me particularmente inspirador. Teremos coragem? Quem ou o que somos, afinal? Quantos de nós ainda preferem navegar a viver?
Enfim, fica o poema. Espero que vos inspire tanto como a mim.
Navegadores antigos tinham uma frase gloriosa:
"Navegar é preciso; viver não é preciso".
Quero para mim o espírito [d]esta frase,
transformada a forma para a casar como eu sou:
Viver não é necessário; o que é necessário é criar.
Não conto gozar a minha vida; nem em gozá-la penso.
Só quero torná-la grande,
ainda que para isso tenha de ser o meu corpo e a (minha alma) a lenha desse fogo.
Só quero torná-la de toda a humanidade;
ainda que para isso tenha de a perder como minha.
Cada vez mais assim penso.
Cada vez mais ponho da essência anímica do meu sangue
o propósito impessoal de engrandecer a pátria e contribuir
para a evolução da humanidade.
É a forma que em mim tomou o misticismo da nossa Raça.
Fernando Pessoa
Dizem que a frase original (Navigare necesse; vivere non est necesse, em latim) foi de Pompeu, que a disse aos marinheiros que tinham medo de navegar durante a guerra. Terá sortido efeito? Não li A Vida de Pompeu, de Plutarco, não saberei dizer. Não gosto de guerras. Mas gosto de Fernando Pessoa e da sua Mensagem.
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Fernando Pessoa
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Memórias
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segunda-feira, setembro 20, 2010
Os números primos apenas são divisíveis por 1 e pelo próprio número. Estão no lugar que lhes é próprio na infinita série de números naturais, esmagados como todos entre dois, mas um passo mais além relativamente aos outros. São números desconfiados e solitários e, por isso, Mattia achava-os maravilhosos. Por vezes achava que tinham ido parar por engano àquela sequência, que tinham lá ficado aprisionados como pequeninas pérolas num colar. Outras vezes, ao invés, desconfiava que eles gostassem de ser como os demais, apenas uns números quaisquer, mas que por algum motivo não haviam sido capazes. O segundo pensamento surgia-lhe sobretudo à noite, no emaranhado caótico de imagens que antecede o sono, quando a mente está demasiado débil para mentir a si mesma.
Numa cadeira do primeiro ano Mattia estudara que entre os números primos há alguns que ainda são mais especiais. Os matemáticos chamavam-lhes “primos gémeos”: são pares de números primos que estão próximos de um outro, aliás, quase próximos, pois entre eles existe sempre um número par que os impede de se tocarem realmente. Números como, por exemplo, 11 e 13, 17 e 19, 41 e 43. Tendo paciência para continuar a contá-los descobre-se que estes pares se vão tornando progressivamente mais raros. Descobrem-se números primos cada vez mais isolados, perdidos naquele espaço silencioso e cadenciado feito apenas de cifras e nota-se o pressentimento angustiante de que os pares encontrados até aí foram um facto acidental, cujo verdadeiro destino é o de ficarem sozinhos. Depois, quando está prestes a desistir, quando já não se tem vontade de contar mais, eis que se descobrem, abraçados, mais dois gémeos. Entre os matemáticos é convicção comum que por mais que se avance na contagem, existirão sempre mais dois, ainda que ninguém saiba dizer onde, até serem descobertos.
Mattia achava que ele e Alice eram assim, dois primos gémeos, sós e perdidos, próximos mas não o suficiente para se tocarem realmente.
Paolo Giordano, in A solidão dos números primos
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Paolo Giordano
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segunda-feira, setembro 20, 2010
li algures que os gregos antigos não escreviam necrológios, quando alguém morria perguntavam apenas:
tinha paixão?
Herberto Helder
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Herberto Helder
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Sofia
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segunda-feira, setembro 20, 2010
Sobre a pele
vestia apenas uma camisa curta de seda prateada, os cabelos lisos e soltos, ainda húmidos do banho. Deitou-se sobre a cama de madeiras exóticas, agora proibidas. Um leve aroma a jasmim azul evolava dos lençóis brancos de linho acabados de lavar. Muito devagar, como se cada osso do seu corpo lhe doesse, enrolou-se em posição fetal. Fechou os olhos. Lentamente, o dia expirou, a luz agoniando suavemente e o silêncio e a escuridão foram-se instalando, as formas das coisas vivas e mortas a desfazerem-se como borrões de tinta escura na água nova da noite. Sob as suas pálpebras fechadas, as sombras luminosas deram lugar às sombras cinzentas e depois sobraram apenas rolos e chamas de luz de várias côres, que dançaram dentro dos seus olhos, com o ritmo do bater de um coração, até que, num rápido piscar de olhos, os eliminou. Lá fora, o vento parou e as aves calaram-se. Os insectos pousaram quietos e assustados. As lagartixas refugiaram-se nos buracos das pedras.
O silêncio tornou-se absoluto.
Sobrou apenas o marulhar rouco e incomodativo da sua própria respiração, até que este marulhar incessante, como a voz de um mar esquecido e absurdo, a enfureceu. Emitiu um último breve soluço e
parou de respirar.
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prosas
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Sofia Raposo de Almeida
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segunda-feira, setembro 20, 2010
Existir-se é fundamentalmente amar.
Agostinho da Silva
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Agostinho da Silva
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Sofia Raposo de Almeida
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segunda-feira, setembro 20, 2010
A minha conversa com a minha cadela mais pequena hoje: "Tu és um cão. Eu sou uma árvore." Ela percebeu perfeitamente, porque logo a seguir fez xixi em cima do meu sapato.
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Conversas com os meus cães
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Memórias
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Sofia Raposo de Almeida
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segunda-feira, setembro 20, 2010
In exploring the shared language and poetic sensibilities of all animals, I am working towards rediscovering the common ground that once existed when people lived in harmony with animals. The images depict a world that is without beginning or end, here or there, past or present.
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